Lula, um homem de sorte
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- Luiz Antônio Magalhães
- 17/10/2007
O resultado do leilão para concessão das estradas federais é mais uma prova de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um homem de muita sorte. Ao contrário do que supunham os tucanos, o leilão foi um sucesso e resultou em uma tarifa de pedágio em média muito mais barata do que as cobradas em São Paulo, onde o PSDB reina há mais de três gestões, e nas rodovias federais privatizadas durante a gestão Fernando Henrique.
Antes que acusem este colunista de comparar melancia com laranja, vamos esclarecer que são dois modelos diferentes. No petista, o concessionário não paga pela concessão, apenas pela manutenção da estrada. Funciona assim: a empresa vencedora deixa a estrada nos trinques e recebe a receita dos pedágios para tal tarefa, lucrando com a diferença entre o serviço prestado e o total arrecadado. No modelo tucano, o concessionário paga para manter a estrada e um adicional para o governo construir novas rodovias e/ou ferrovias e portos. Lucra do mesmo jeito, porque o adicional é repassado para o usuário.
Tudo somado, no modelo lulista, o usuário paga barato, mas o governo não leva nada para casa. No tucano, o motorista sente no bolso o peso do pedágio, mas está pagando pelo que usa e pelo que virá por aí.
O argumento tucano para criticar o modelo lulista é capenga: o governo do PT estaria
"subsidiando" os motoristas, gente que tem carro e, portanto, renda,
para passear pelo país. Bullshit, como diriam os americanos, porque quase todo
o transporte de cargas – alimentos, inclusive – passa pelas rodovias, afetando
o preço do frete. Pedágio mais barato significa comida mais barata, para dizer
o mínimo.
Na verdade, o leilão acabou trazendo uma enorme dor de cabeça para o PSDB, que
terá que explicar como pode um pedágio (São Paulo-Guarujá) custar meros 842% a
mais do que o trecho São Paulo-Belo Horizonte-São Paulo. Sim, leitor, são 842%
e não 84,2% ou 8,42%. A informação é do jornal O Estado de São Paulo. Em
números grosseiros, o pedágio de Lula vai custar R$ 2 por 100 quilômetros, ao
passo que o de Serra (OK, de Alckmin e Covas) custa R$ 11. Onze contra dois na
mão do presidente Lula é mais do que uma goleada. É um massacre.
Pelo que saiu na mídia, Serra sentiu o golpe porque não esperava o sucesso do leilão. Os tucanos achavam que só "aventureiros" topariam a taxa de retorno calculada pelo governo. Porém, não foram os aventureiros que levaram os trechos, mas grandes grupos multinacionais, deixando, com o perdão da má imagem, os tucanos com a bunda na janela. Afinal, uma coisa é dizer que o modelo é diferente e permite uma certa diferença no preço final do pedágio; outra, bem diferente, é tentar explicar racionalmente uma conta de 800% sem que o povo paulista consiga enxergar as tais obras para os novos benefícios que a diferença deveria trazer.
Até na hora de "privatizar", Lula tem muita sorte: em uma campanha eleitoral, o povão vai entender a coisa toda assim: o pedágio do Lula custa R$ 2, o do Serra custa R$ 11. E os nove reais de diferença vão custar caro, muito caro, ao tucanato.
Luiz Antônio Magalhães é editor de política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br). Blog do autor: www.blogentrelinhas.blogspot.com
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