Correio da Cidadania

Manter as esperanças, sem tirar os pés do chão

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Se o ano de 2015 foi amargo para o povo trabalhador, nada indica que, do ponto de vista das políticas públicas e da economia, teremos um 2016 menos negativo. Se não, vejamos: a pressão política e popular fez com que o então ministro da Fazenda, Joaquim Levy – representante do sistema financeiro – fosse demitido e, em seu lugar fosse empossado, ainda em 2015, Nelson Barbosa. De início, ficava a impressão de que a política econômica mudaria de rumos, para melhor.

 

Ledo engano. No dia 22 de dezembro, o novo ministro anunciou que irá propor nova reforma da Previdência, aumentando a idade mínima para a aposentadoria, e nova reforma da legislação trabalhista, enquanto o novo ministro do Planejamento, Valdir Simão, não vacilou em afirmar que é preciso “adiar a aposentadoria do brasileiro para garantir o equilíbrio das contas públicas”.

 

Afirmação feita com a maior “cara de pau”, depois da revelação de que a sonegação fiscal praticada por grandes empresas ultrapassa a casa dos R$ 500 bilhões. Essa duas reformas propostas serão maléficas para a maioria do povo brasileiro, essa parte da população que vive do seu trabalho e não da exploração do trabalho alheio.

 

Vejamos:

 

A implantação de nova idade mínima para a aposentadoria implica em deixar futuramente milhões de trabalhadores sem recursos para levar uma velhice com um mínimo de dignidade, pelo simples fato de que não terão como cumprir nenhuma das novas exigências discutidas até agora. Não se pode esquecer que a rotatividade no trabalho cada vez mais acelerada (demissões e novas contratações) faz com que milhões não conseguirão contribuir para a Previdência por no mínimo 35 anos.

 

São incontáveis os números daqueles que ficam meses sem trabalho, portanto, sem registro em carteira e sem condições legais de contribuir. Como, então, conseguirão acumular os anos necessários como contribuinte? Apenas uma parcela minoritária dos trabalhadores conseguirá, no futuro, atender às novas exigências. Para complicar ainda mais, sabemos que as principais centrais sindicais já aprovaram essa reforma antecipadamente. A classe operária continua órfã das suas entidades de classe.

 

Por outro lado, alguém poderia citar um único país no mundo inteiro em que as Reformas das Leis Trabalhistas se deram ou se dão para favorecer os trabalhadores? Quantos direitos trabalhistas já nos foram roubados no Brasil desde a implantação da ditadura civil/militar em 1964? Num momento histórico em que o capital joga todas as suas fichas para que os trabalhadores paguem pela queda da produção e do consumo, uma suposta reforma trabalhista caminharia em qual direção: na direção da defesa dos interesses dos trabalhadores ou do capital?

 

Quem ocupa esses Ministérios representa quais interesses? E, nesse caso, fica a interrogação: novamente as centrais sindicais ficarão do lado empresarial? Ou para “brasileiro ver” irão promover manifestações inócuas sem nenhuma proposta de interrupção por tempo indeterminado de todo sistema produtivo e comercial do país, num verdadeiro confronto entre interesses antagônicos?

 

Se o cenário político/econômico não nos é favorável, o cenário social parece que não será muito diferente, já teremos nos 40 dias de carnaval, folia, divertimentos e despolitização, um pouco do ópio que o sistema impinge ao povo com todo apoio e estardalhaço da Globo e suas parceiras.

 

Passados esses primeiros dias, entrará em cena o “canto da sereia” das Olim-piadas, cujo centro será novamente a “Cidade Maravilhosa” controlada por duas alas de gangues: crime organizado e organização criminosa na polícia. E tome disputa de medalhas com ou sem doping, promovendo nossos novos “heróis populares”.

 

Para encerrar o ano de alienação, novas eleições, municipais, em que cada candidato se apresentará como o “salvador da pátria”, o candidato “anticorrupção”, além dos favoráveis à maior repressão sobre os movimentos sociais que legitimamente lutam por justiça. Mas teremos também candidatos a vereadores que irão salvar a saúde pública, a Educação, o Transporte, a água potável, o saneamento básico, irão consertar as esburacadas ruas das cidades e os que acabarão com os moradores de rua...

 

Não há, então, nenhuma esperança para o povo que trabalha? Claro está que a esperança definitivamente não morre na vida do povo. Ela sempre renasce das cinzas e com novo vigor. Porém, essa esperança deve ser direcionada, com base na realidade e no bom senso, para as saídas possíveis.

 

A solução está, a meu ver, novamente nas mãos das gerações mais novas, porque estão imunes à influência nefasta dos meios de comunicação e da politicalha que vigora em larga escala neste “país tropical, abençoado por Deus?...”. Papel de destaque caberá também às entidades que não se deixam envolver pelo fanatismo político em vigor e que norteiem seus planos e ações em direção à justiça social, tarefa árdua, mas não impossível.

 

Apesar dos mirabolantes planos do capital e de seus governantes para sugar sempre mais os trabalhadores, assim como apesar dos aparatos de repressão, não se pode descartar movimentos de protestos do povo insatisfeito, envolvendo desempregados e empregados, afinal, a exploração desenfreada gera revoltas e mobilizações populares. Os povos não perderam seu dom criativo. De onde menos se espera poderão sair novas ondas de manifestação da indignação popular, como se diz no interior “da moita que menos se espera sai a codorna”. Aí o circo poderá pegar fogo.

 

 

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

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