Correio da Cidadania

Da CPMF à transposição do São Francisco

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É incrível o grau de cinismo dos nossos políticos, escolhidos que foram pelo povo para praticar a justiça social neste país. No governo FHC, sob comando do Serra – hoje governador do estado de São Paulo – foi criada a CPMF (Contribuição PROVISÓRIA sobre Movimentação Financeira), cujo “nobre” destino, segundo discurso oficial, seria atender às necessidades da saúde pública, já precária naquela época. Houve muito debate, acusações da oposição política de então, comandada por Lula e seu PT. A acusação era de que tal dinheiro, a ser arrancado com fórceps do bolso do povo, de fato se destinava ao já famigerado “superávit primário”. A corrupção correu solta no Congresso Nacional, a CPMF foi instituída e a saúde continua a “ver navios” bem distantes. A mídia – favorável à CPMF – se via obrigada a publicar as denúncias da oposição, embora condenando a postura petista e de seus parceiros políticos, acusando-os de impatriotas.

 

O tempo passou, Lula venceu Serra na disputa à presidência da República e, contradizendo sua postura anterior, fez aumentar o superávit primário de FHC, aumentado escandalosamente a remessa do dinheiro do povo para os agiotas nacionais e internacionais. Não satisfeito, Lula conseguiu uma primeira prorrogação da CPMF – com o mesmo argumento de FHC, em defesa da saúde pública -, garantindo que seria de fato provisória. Porém, agora defende-a com “garras e dentes”, usando os mesmos métodos empregados por FHC: a corrupção financeira, a troca de favores e de cargos públicos, pretendendo que ela permaneça até 2011, isto é, até depois do seu segundo mandato presidencial. Curiosamente, quem agora se coloca contra, “com unhas e dentes” é o PSDB de Serra, FHC e toda sua corriola corrupta e corruptora, os criadores da CPMF. Eles, os tucanos, comandaram a rejeição à proposta de Lula, barrando a CPMF, outra vez usando os argumentos que Lula e companhia usavam: o dinheiro não irá para a saúde, mas sim para o superávit primário. Enquanto a Saúde pública mergulha em profunda crise e corrupção. Dois “caras de pau” (FHC e Lula); duas corriolas de traidores e espoliadores do povo (PSDB e PT).

 

Enquanto o povo vai bancando a conta da agiotagem e da gatunaria em que está metida a política oficial, Lula passa por cima da vontade popular, das orientações científicas, da própria ética política, de decisões de instâncias da justiça, e vai impondo ao povo brasileiro a transposição do rio S. Francisco, seu megaloprojeto (segundo suas próprias palavras, este será o seu grande feito como governante nacional). De fato, Lula tem objetivos bem claros: quer marcar a história do país com uma obra mais que duvidosa e contraditória (que poderá ser considerada futuramente um “minhocão” de Maluf, o elevado que desestruturou a cidade e a vida de milhares de paulistanos, um verdadeiro “elefante branco”). Porém, com uma enorme diferença: o “minhocão” poderá ser implodido, com prejuízos relativamente pequenos para a população, enquanto que a transposição poderá ser a morte definitiva do rio e, sem dúvidas, o aumento da miséria para vários milhões de brasileiros que habitam às suas margens e dele sobrevivem, produzindo bens necessários à vida do povo. Por outro lado, enquanto o “Velho Chico” tiver vida, será de um imenso valor para o agronegócio produtor e exportador de etanol, de frutas nobres, de camarões e também da produção do aço, sempre voltados para o consumo dos países do primeiro mundo. Ao povo restará pensar, mergulhado em profunda decepção, que um dia acreditou que tudo poderia mudar a seu favor.

 

Outro objetivo claro de Lula, com essa sua megalomania, é de se sentir prestigiado entre seus novos companheiros, amigos e heróis: os defensores e beneficiários da nefasta política neoliberal que vem sendo imposta ao povo brasileiro, malgrado todas as manifestações de protestos, denúncias de corrupção e de traição vindas dos mais respeitados setores do movimento social organizado, assim como de outras instituições nacionais, como a CNBB, o CONIC e setores da OAB, por exemplo. Lula a todos ignora, pisoteando-os, virando as costas “a quem sempre lhe deu a mão”, agindo como um autêntico ditador, autoritário como sempre foi desde os tempos da presidência do seu sindicato, da CUT e do seu partido, o PT. Autoritarismo que soube praticar com sua figura aparentemente democrática e seus discursos populares simpáticos e promissores. O ruim nisso tudo é entender que muitos de nós fomos responsáveis, ainda que indiretamente, por esse estado de coisas, ao aceitar as suas manobras e imposições.

 

Reunidas no Dia Internacional dos Direitos Humanos, no plenário Barbosa Lima Sobrinho – no congresso Nacional - mais de 400 pessoas, entre eles atores atrizes, cantores de renome, representantes de vários movimentos sociais de dimensão nacional, professores universitários e parlamentares se manifestaram contra a transposição do São Francisco e em repúdio à falta de diálogo do governo federal, assim como se solidarizam com os protestos de D. Luiz Cappio, em greve de fome desde o dia 17 de novembro. A CNBB conclama a todas as comunidades religiosas a vigílias públicas em apoio a D. Cappio e em protesto claro contra a prepotência do governo e seu desrespeito à vontade soberano do povo.

 

 

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

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Comentários   

0 #2 Da CPMF à transposição do São FranciscoFrancisco Emílio Surian 15-12-2007 20:46
Nossa história é marcada por atos, gestos e símbolos. Dom Cappio ao lado do povo pede diálogo e democracia. Lula quer marcar seu governo com a ridícula transposição do Rio São Francisco. Há aqui uma grande semelhança entre Lula e Pilatos. Acabará por entrar na história tentando lavar as mãos do sangue dos inocentes que escorre entre seus dedos. Espero que Dom Cappio tenha a luz e a inspiração que necessita neste momento.
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0 #1 boaleandro 15-12-2007 18:18
boa
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