De cartões, investimentos, juros e “superávits”
- Detalhes
- Waldemar Rossi
- 08/02/2008
O caminho trilhado pelos dois últimos governantes vai levando o Brasil para um beco sem saídas. Torna-se difícil buscar alguma informação auspiciosa, favorável ao povo, nos meios de comunicação social. Quem as encontra são os defensores do modelo capitalista, aqueles ávidos por análises que mostram um país com sua economia crescente, com empresas tendo ótimos desempenhos, exportações que batem recordes. Esses se animam até com dados demonstrativos de queda do desemprego, do crescimento dos empregos com carteira assinada, entre outras hipocrisias oficiais e oficiosas. Vêem tudo cor-de-rosa, porque serve para justificar o injustificável, os privilégios dos oportunistas e dos detentores de enormes riquezas.
Ainda durante o governo FHC, os oposicionistas de plantão entoavam coro às duras críticas que setores do movimento social corretamente faziam às medidas alienantes aplicadas pelo governo sobre as empresas estatais, aquelas que são, sobretudo, de caráter estratégico para a nação. Duras críticas os homens das bravatas faziam à corrupção que corria e correu solta durante os oito anos de (des)governo tucano, porque este, segundo os bravateiros, estava levando o Brasil para o abismo. As medidas econômicas eram alvo de severas críticas, porque estariam deixando o país cada vez mais endividado, enquanto os setores sociais da política estavam sendo levados à miséria, à sucatagem, ao caos total, em prejuízo do povo que paga impostos.
Pois bem, passados mais de cinco anos do novo governo, percebemos que o atoleiro deixado pela tucanagem está se aprofundando: o tal “superávit primário”, em vez de diminuir, aumentou extraordinariamente; o pagamento dos serviços da Dívida Externa e Interna (agora apelidadas de Dívida Pública, para enganar os menos avisados) aumentou exorbitantemente, enquanto a mesma Dívida Pública está na estratosfera, tendo superado a casa do trilhão de Reais; o enxugamento dos gastos com a Previdência vai crescendo, em prejuízo dos aposentados, dos doentes, dos acidentados por trabalho; as áreas sociais da política governamental (saúde, educação, saneamento básico etc. etc.) vêm sendo verdadeiramente saqueadas; empresas estatais vão sendo discreta e matreiramente privatizadas; as reformas de interesse popular vão sendo jogadas para as calendas (que o diga a Reforma Agrária, que segundo Lula seria feita numa canetada).
Enquanto isso, o grande empreendimento do agronegócio vem recebendo mais incentivos a fundo perdido; os latifundiários vêm obtendo as benesses da constante rolagem de suas estratosféricas dívidas com a Federação (e seus juros são mantidos abaixo de 1% ao ano); os banqueiros vão nadando no dinheiro fácil que sai do couro do povão e da espoliação dos juros da dívida pública. Nas esferas dos poderes, a corrupção também corre solta, seja no Congresso Nacional (através das operações “sanguessuga”, dos “mensalões”, das compras de voto praticadas pelo Executivo, do favorecimento de amigos e parentes); seja no Executivo, com seus salários fantásticos, suas mordomias, sua farra com dinheiro público – que o digam agora também os cartões, que envolvem não apenas ministros, mas também familiares do presidente -, com as “operações abafa”, a fim de impedir que o povo tenha conhecimento real da podridão que afeta desde os porões até as coberturas dos Poderes Nacionais, e com o silêncio oficial sobre os assassinatos de prefeitos, de “sem terras”....
Realmente, dá tristeza ver, ouvir ou ler noticiário, seja pela televisão, pelo rádio, pelos jornais e revistas. Nada de positivo que possa trazer um pouco de alegria e esperança para os trabalhadores deste imenso país, rico e “altaneiro”; da pátria amada, idolatrada, salve, salve!
Para que nossa esperança não morra de vez, é fundamental que nosso povo saia do seu marasmo, deixe a passividade de lado, esqueça das novelas e “BBBs” da vida, arregace as mangas e entre na luta com os setores que, teimosos por natureza, insistem em “não deixar a peteca cair”, que insistem em organizar a luta popular para que seja interrompida essa trajetória subserviente e suicida da política nacional.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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