Correio da Cidadania

Na contramão da história

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Waldemar Rossi

22/02/2008

Fato primeiro: Doutor Rosinha, deputado federal pelo PT do Paraná e coordenador da Frente Parlamentar da Terra, afirma que decisão de ministérios e membros do Conselho Nacional de Biossegurança, de liberar o plantio e a comercialização de duas variedades de milho transgênico (a "Guardian", da norte-americana Monsanto e a "Libertlink" da alemã Bayer), fato ocorrido no dia 12/02/08, põe o país na contramão da Europa.

"A decisão é no mínimo equivocada e coloca o Brasil na contramão do que se vê na Europa, onde a França recentemente proibiu o cultivo do milho transgênico. O país abre mão de sua segurança alimentar, deixa sua produção agrícola nas mãos de multinacionais proprietárias de sementes e herbicidas, e põe em risco a saúde da população", afirma Dr. Rosinha. (*)

Fato segundo: o recém-eleito secretário–geral do PT, José Eduardo Cardozo, em entrevista, declarou o seguinte: "Vou ser claro: teve pagamento ilegal de recursos para políticos aliados? Teve. Ponto final. É ilegal? É. É indiscutível. Não podemos esconder esse fato da sociedade". Questionado sobre as afirmações de que todos os partidos são igualmente safados, Cardozo foi enfático: "Nós temos que ser mais duros com nossos militantes do que com nossos adversários" (observação: poderia ter dito "nossos políticos", em vez de "nossos militantes", porque a malandragem maior se dá entre os que exercem mandatos, e não no meio da militância petista, composta de muita gente honesta e batalhadora). (*)

Contudo, a direção petista, o governo petista e os parlamentares petistas insistem em negar o óbvio, em negar a verdade, essa virtude na qual sempre se arvorou um partido paladino. Eis que dois dos seus deputados federais ousam romper essa rotina e declarar que o PT governa o país na contramão da História. Governa contra os interesses do povo (Dr. Rosinha); governa mentindo descaradamente ao povo, ao qual deve explicações e consultas permanentes, segundo nossa própria Constituição, que juraram respeitar (Cardozo).

"As mentiras têm pernas curtas", nos ensina a sabedoria popular. Mais cedo ou mais tarde a verdade vem à tona. O dramático está em que certas mentiras têm efeito devastador, irrecuperável, em se tratando de finanças, destruição do meio-ambiente e, pior que tudo, em se tratando da vida de grande parcela da população, como no caso do caos que vem imperando progressivamente nos serviços públicos da saúde e da educação.

No caso das sementes transgênicas, é a própria vida do povo que está sendo colocada em risco, pois não se sabe dos efeitos sobre a saúde. Por outro lado, sabemos, a partir das experiências do milho transgênico aplicado no México, que vai invadindo as áreas das sementes naturais, destruindo-as, deixando o país sem opções e permanentemente dependente dessas multinacionais. O sucesso das sementes transgênicas depende de adubagem e protetores compostos com os agrotóxicos produzidos e comercializados pelas duas empresas citadas. Já estamos, e vamos nos tornando sempre mais, dependentes dessas empresas "vampiras", que sugam o dinheiro e a vida dos povos.

Dos onze ministérios que compõem o Conselho de Biossegurança, sete votaram pela liberação dos transgênicos, ignorando os pareceres da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (IBAMA), que afirmam a inexistência de estudo prévio de impacto ambiental, ausência de avaliação de risco e de plano que impeça a contaminação de outros tipos de milho. Diz-se ainda: "Não há no processo estudos ou literatura que comprovem a ausência de danos ambientais".

Embora esses tipos de comentários desagradem muitos militantes e simpatizantes do PT e do governo Lula, não se pode deixar de expô-los ao conhecimento da população, porque é sua vida presente e futura que está em jogo. Bela, pois, e louvável a atitude do José Eduardo Cardozo e do Dr. Rosinha em abrir o jogo, a fim de que os que defendem o PT e o desejam como um partido ético arregacem as mangas e lutem para que isso venha a acontecer, não esperando que os envolvidos em falcatruas o façam de livre e espontânea vontade.

Mas o povo é quem mais precisa abrir os olhos, porque é o mais atingido por políticas públicas que não fazem justiça, que não respeitam a própria Constituição brasileira e que acarretam enormes e irreparáveis prejuízos ao conjunto dos brasileiros.

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

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