Correio da Cidadania

Ironia e cinismo regem este país

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A mídia, especialmente a televisiva, invade nossos pobres e desprotegidos lares com tanto lixo que já não somos capazes de distinguir valores. Não bastassem programas de pura sacanagem, tipo "BBB", filmes e novelas com requintes da libertinagem, de violência e de perversidade, ainda somos forçados a "viver" dramalhões tipo "Assassinato da menina Isabella". Lamentável que aconteçam casos como este. Mas daí a transformar isso num dramalhão nacional vai uma distância muito grande, porque crimes tão ou muito mais hediondos são tratados como notícia de passagem, isto quando são noticiados. O caso Isabella mexeu com minha memória e trouxe à cena os meses em que a apresentadora da Globo, a Xuxa, ficou grávida de uma filha. A Globo fez com que mais da metade dos telespectadores também se "engravidassem" com ela.

 

Há 12 anos, 19 trabalhadores sem terra que lutavam por um pedacinho de chão deste imenso Brasil foram assassinados cruelmente, em plena estrada pública, pela polícia militar do Pará. Sem dúvidas, na época o fato se tornou notícia nacional. Mas logo foi enterrado e, não fossem os gritos dos movimentos sociais, teria caído no total esquecimento. Passados exatos 12 anos devemos nos perguntar: quantos daqueles assassinos de farda foram punidos por um crime tão cruel? O que é feito do então governador do Estado do Pará, principal responsável pelo acontecimento? Por que a mídia não retoma o assunto?

 

O mesmo se pode dizer do massacre da Candelária e de tantos outros crimes hediondos que são jogados para as calendas pelas esferas do judiciário brasileiro e continuam impunes. Quanto tempo e quanto espaço a mídia utiliza para reviver o Massacre do Carajás, praticado por forças policiais com o consentimento do governador? A mídia é cínica e o povo, já sem discernimento, não tem lembrança de crimes tão cruéis, mas se deixa envolver pelo emocionalismo de alguns fatos recentes e tais temas se tornam ingredientes do "diálogo" caseiro!

 

E o cinismo comanda também a política oficial nacional. Embora de importância secundária em relação a tantas outras bandalheiras que se praticam nas esferas oficiais, essa questão do "cartão corporativo" vem revelar o quanto este país está corrompido.

 

Primeiro, porque o cartão existe e foi criado para permitir essa liberalidade em seu uso. Segundo, porque se quer passar a idéia de que essa prática desonesta não deveria ter sido revelada e muito menos levada ao conhecimento do público. Terceiro, porque o governo criou o tal dossiê sobre a mesma prática nos tempos de FHC somente para dar um "cale a boca" aos membros da oposição, já que a denúncia se referia às irregularidades praticadas por seus subordinados; fatos que revelam o quanto é insana a guerra pela ocupação e controle do poder. Quarto, porque se quer passar a idéia de que tudo é lícito nas esferas oficiais. Portanto, que se deve passar uma borracha sobre os fatos. Assim, fica o povo impedido de saber e de se pronunciar sobre os problemas que são do seu próprio interesse. Que prevaleça então a santa ignorância!

 

Enquanto isso, a mídia nos contempla com o belo espetáculo da ironia dos criminosos que tentam "justificar" o uso e abuso dos cartões corporativos para proveito pessoal. Ironia e cinismo quando sabemos que, quando muito, alguns irão restituir parte desse roubo oficial aos cofres públicos, mas todos estarão seguros de que poderão praticar outros crimes contra os interesses do povo e se fartarem à beça com a preciosa grana do Erário. Desde que não mexam com os altos interesses da burguesia nacional e internacional, podem todos eles estar seguros de que permanecerão blindados, sabendo, porém, que a foice fica no ar, para o caso de alguém "tirar o traseiro da seringa".

 

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

 

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Comentários   

0 #1 Sensacionalismo sem respeito público.Carlos Humberto Vasques da Con 23-04-2008 08:16
A midia oportuniza -se de casos como da menina \"Isabela\", para desviar a atenção do povo dos problemas sociais como a saúde publica cito a \"dengue\" que segundo pesquisas e dados recentes infecta uma pessoa a cada 3 minutos no estado do Rio de Janeiro. Devemos refletir quantas \"isabelas\" morrem de dengue hemorrágica a cada dia no BRASIL.Dentro do mesmo contexto temos a questão dos cartões corporativos onde são desviados recursos que poderiam ser empregados na saúde,na segurança enfim nas esferas que trariam mais dignidade e cidadania ao nosso povo.A televisão não se preocupa em dar ênfase porque vai mexer com os interesses burgueses e pode cada vez mais aglutinar a opinião do nosso ploretariado que está cansado de ser injustiçado âmbito social ,politico e econômico.
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