1º de maio de 1968, 1ª resistência operária à ditadura
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- Waldemar Rossi
- 29/04/2008
O Golpe Militar de 1964 interrompeu a caminhada combativa que o sindicalismo realizava desde 1950 até aquela data. Foram anos de lutas em defesa dos direitos dos trabalhadores e de novas conquistas, como o 13º Salário, conquistado em 1963, depois da greve de 1962. O governo militar cassou as direções sindicais combativas, que eram eleitas democraticamente pelos seus filiados, e nomeou para seus lugares sindicalistas mancomunados com o golpe, colocados a serviço do capital – por isso são chamados de pelegos - e que prestaram um desserviço à classe operária.
A pelegada deu, então, início a profundas mudanças na prática sindical, transformando os sindicatos em órgãos assistenciais, criando ambulatórios-médicos, fornecimento de remédios gratuitos, organização de cooperativas de consumo e da casa própria e construindo colônias de férias. Enquanto isso, os militares impunham Decretos-Lei que eliminavam direitos trabalhistas e, principalmente nesta primeira fase do militarismo, impunham decretos que arrochavam os salários de todos os trabalhadores.
Essa primeira fase da ditadura desnorteou os sindicalistas que se sentiram órfãos dos seus órgãos dirigentes, enquanto os pelegos agiam em conciliação com o patronato em prejuízo dos trabalhadores.
Porém, em 1967, surgiram duas forças que iniciaram a reação à repressão militar: a Oposição Sindical Metalúrgica de Osasco - que desbancou o interventor, vencendo as eleições, tendo como base a força da Comissão de Fábrica da Cobrasma – e a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo, cuja inexperiência impediu sua vitória, sendo derrotada na contagem de votos. O surgimento desses dois núcleos de Oposição Sindical começou a desequilibrar a hegemonia dos interventores e demais pelegos instalados nas cúpulas sindicais. Outros núcleos oposicionistas se desenvolveram em cidades da Grande São Paulo, reforçando a luta de Osasco no combate ao arrocho salarial.
Foi daí que nasceu o MIA (Movimentos Intersindical Anti-arrocho), reunindo inclusive pelegos pressionados pelas suas bases insatisfeitas com a política salarial da ditadura. O ano de 68 vinha marcado por movimentos políticos que, anos anteriores, redundaram em algumas revoluções socialistas. Aquele ano foi particularmente "quente" na França com a aliança operário-estudantil, alimentando a revolta e a disposição de lutas dos trabalhadores e dos estudantes brasileiros.
Foi nesse clima que aconteceu o 1º de Maio de 68, em que a luta contra o arrocho teve seu momento forte. A antiga Praça da Sé ficou abarrotada, com gente pelas ruas adjacentes. Mas os interventores, sob o comando do Joaquinzão (dos metalúrgicos de São Paulo), convidaram o então governador biônico, Abreu Sodré, para participar das celebrações. Sua presença no palanque irritou a massa já insatisfeita, que protestou com vaias e com arremesso de objetos sobre os que lá estavam, obrigando a que seus ocupantes saíssem "de gatinhos". Ato contínuo, a massa derrubou o palanque ateando-lhe fogo, saindo depois em passeata pelas ruas centrais da cidade, gritando slogans contra a ditadura e em protesto contra o arrocho salarial.
Em junho-julho, greves se sucederam em algumas cidades do país. As greves de Contagem e Osasco marcaram aquele ano. Em Osasco, a repressão militar foi muito forte e o governo decretou nova intervenção no sindicato, cassando toda sua diretoria. Da mesma forma, a direção da Cobrasma aproveitou o momento para liquidar definitivamente a Comissão de Fábrica.
Alguns meses depois foi editado o Ato Institucional nº. 5 (conhecido como AI-5), que suspendeu todos os direitos políticos e civis, impondo forte mordaça ao movimento sindical. Apagou o fogaréu, mas não conseguiu destruir suas brasas, que foram se espalhando pelas centenas e centenas de fábricas da Grande São Paulo, até explodir em nova onda reivindicatória, dez anos depois, isto é, em 1978.
1º de maio não é dia de show. Só o peleguismo, a serviço dos interesses do capital espoliador, o transforma em dia de festas despolitizadas. 1º de Maio é dia para reverenciar a memória dos nossos mártires e dia para renovar nossa estratégia e nossa determinação em "não deixar a peteca cair", pois a luta não pode parar. A luta vai continuar!
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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