Correio da Cidadania

O terrorista que terceiriza sua ação

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Antigamente a sabedoria popular recomendava: quem é burro (como o Francisco Wanderley Luiz), peça a Deus que o mate e ao diabo que o carregue.

Jair Bolsonaro, contudo, não estava sendo burro em 2018, ao simular um atentado que lhe servisse de desculpa para fugir dos debates eleitorais nos quais já tinha sido derrotado por Guilherme Boulos e triturado por Marina Silva.

Burros foram os que acreditaram naquela patranha, que o vídeo Facada no Mito (depois removido do YouTube a pedido do farsante) desmascarou sem deixar margem nenhuma para dúvida.

Empossado após a eleição mais fraudulenta do Brasil em todos os tempos, ele novamente continuou a servir-se do terrorismo, mas com um novo propósito: o de eternizar sua presidência pela via do golpe de Estado.

Passou quatro anos semeando ventos, mas não colheu o tipo de tempestade que almejava pelo simples motivo de que jamais passou de um poltrão se fingindo de machão.

Três vezes ele engatilhou o sonhado golpe (nos Dias da Pátria de 2021 e 2022, depois no 08.01.2023) e nas três amarelou repulsivamente, sendo o único golpista que não era encontrado no palco do golpe.

 

O ridículo chegou ao extremo na terceira micareta: aí ele não conseguiu pensar num único ponto do território brasileiro no qual estivesse a salvo de prisão caso seu putsch fracassasse, então foi abrigar-se na Disneylândia enquanto seus bovinizados seguidores viam o sol nascer quadrado.

Como o feitiço às vezes se volta contra o feiticeiro, um desses seguidores resolveu fazer agora o que o Bolsonaro queria que fosse feito durante o seu mandato, para criar uma confusão que lhe permitisse colocar o país sob estado de sítio, botar as tropas nas ruas e impor uma ditadura enquanto fingia a estar evitando.

Depois que tal conspiração ruiu fragorosamente, as bombas detonadas em Brasília perderam qualquer razão de ser: a direita, na prática, já está no poder, não pela via golpista mas pelo controle do Legislativo, que tornou o Lula pouco mais do que uma rainha da Inglaterra, obrigado a negociar com o Centrão até a permissão para ir no banheiro...

Mas, quem saiu dominante das eleições municipais não foi a direita ferrabrás, mas sim a convencional, que agora está com a faca e o queijo na mão para obter outra vitória esmagadora em 2026.

Tal direita nada tem a lucrar com o terrorismo, portanto deverá colaborar com os petistas para evitar o alastramento dessa praga.

E, se o Bolsonaro apostava todas as suas fichas em conseguir uma anistia ilegal para concorrer à presidência na próxima eleição, a palhaçada terrorista desta semana serviu, isto sim, para a direita majoritária se dar conta de que correrá algum risco se contribuir para seus planos malucos.

O que já era difícil (porque implicava confronto de Poderes) agora se tornou impossível. Sem força para fazer aprovar a anistia inconstitucional no Congresso, o azarão tende a ficar chupando o dedo enquanto Tarcísio de Freitas ou algum outro nome que a diireta consiga levantar poderá participar da próxima eleição como o grande favorito.

Isto é o que ocorre quando um espertalhão coloca ideias de jerico na cabeça de imbecis, mas não tem como controlá-los o tempo todo. A chance de o tiro sair pela culatra e atingir o próprio instigador se torna enorme.

Celso Lungaretti é jornalista e ex-preso político.

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