Correio da Cidadania

O Apocalipse está acontecendo agora no norte de Gaza

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Israeli siege of north Gaza kills 300 Palestinians and traps thousands more
Por ordem do governo Netanyahu, o IDF (Forças de Defesa de Israel) está evacuando os palestinos residentes no Norte de Gaza.

Com isso, o governo de Telavive incorre em dois graves crimes cometidos contra o direito humanitário internacional: limpeza étnica e transferência forçada da população. Netanyahu e seus parças não estão nem um pouco preocupados com possíveis reações da comunidade internacional.

Sabem que, graças aos bons ofícios dos EUA, seu governo goza de imunidade para delinquir à vontade.

Foi assim que Netanyahu, em outubro passado, exigiu através do seu exército, que os moradores do Norte de Gaza abandonassem suas casas e se mudassem para a área de Al Mawa, no Sul de Gaza, usando dois corredores humanitários.

Por especial deferência, foi informado que, como os milicianos do Hamas estavam se reagrupando na região, era necessário evacuar as casas e edifícios para facilitar as operações militares contra os terroristas.

Seria também do interesse dos palestinos mudarem-se de uma zona dos combates que previam, para a segurança de uma zona humanitária protegida. Mas a ideia não pegou bem.

Os palestinos temiam que, ao sair de casa, fossem abatidos por snipers ou drones. E não adiantava nada que estivessem levando crianças ou agitando bandeiras brancas. Os tiros choveriam na certa.

Havia ainda fortes dúvidas se o exército deixaria ou não que voltassem para casa. Fato posteriormente confirmado pelo brigadeiro General Itzik Cohen, que disse a repórteres israelenses: “Não há intenção de permitir que os residentes do Norte de Israel retornem”.

O IDF previa que não houvesse adesão voluntária dos gazenses a sua diretriz. Para vencer sua resistência, os militares israelenses dispunham de outros meios, mais eficazes.

E em 6 de outubro, a Força Aérea irrompeu nos céus do Norte de Gaza de madrugada, enquanto os palestinos dormiam, dificultando assim a evacuação dos eventuais feridos por seus misseis.

Os moradores foram despertados por estrondos assustadores. Era o início de uma ofensiva do IDF, na qual aviões, drones, lança-mísseis e canhões despejariam toneladas de bombas sobre os residentes de Beit Hanoun, Beit Lahiya e Jabalia — cidades que ocupam a maior parte do território do Norte de Gaza -, destruindo lares, edifícios públicos, infraestruturas e campos de refugiados.

Por sua vez, os soldados penetravam casa por casa, arrastando moradores para a rua e incendiando seus lares para evitar que tivessem para onde voltar.

A ofensiva israelense não parou - continua sem interrupções, transformando as cidades em montanhas de escombros, um cenário apocalíptico e distópico, onde diariamente morrem famílias inteiras.

O exército israelense conseguiu evacuar mais de 50 mil pessoas, entre 5 de outubro e a primeira semana de novembro. Mais de 1.000 palestinos foram mortos nos primeiros 38 dias da ofensiva. Hoje já passam de 2.000.

Ainda no último domingo, em ataques de soldados em Jabalaia foram assassinadas 25 pessoas, das quais 13 eram crianças; além de mais 30 feridos.

Restam cerca de 90 mil residentes, que se recusam a deixar suas casas e mudar para a insalubre zona soi disant humanitária.

Eles vivem encurralados em suas moradias. Ninguém ousa sequer dar um passo no lado de fora pois os snipers israelenses estão vigilantes e sua pontaria é mortal.

O exército de Israel usa ainda outra arma terrível: a fome. Desde o início da ofensiva, por ordem superior, seus soldados cercaram quase todo o Norte de Gaza, impedindo a entrada de alimentos, água, medicamentos e combustível.

Diante da proibição da ajuda internacional, a fome no Norte de Gaza atinge situações extremas. Para poder sobreviver muitas pessoas são forçadas a consumir somente água e sal (The Guardian, 12/11/2024).

“Há uma forte probabilidade de que a fome em massa (famine) esteja iminente em áreas do norte de Gaza”, conforme um comitê de experts (Al Jazeera, 9/11/2024).

Não dá para imaginar os horrores causados por uma fome em massa. Ela assolou a Irlanda no século 19, matando 1 milhão de pessoas e forçando a emigração de mais de um 1 milhão, principalmente para os EUA.

No norte de Gaza, a falta de alimentação fragiliza a saúde das pessoas, tornando-as mais sensíveis a uma vasta gama de moléstias.

“O trágico é que mesmo os ferimentos leves acabam em morte, pois as equipes médicas simplesmente não têm os recursos necessários para tratá-los. (Common Dreams, 26/9/2024).

Será que os chefes do exército de Telavive não pensam nisso quando decidiram proibir a entrada, no norte de Gaza, de medicamentos e instrumentos médicos? Ou será que pensaram exatamente nisso?

Na verdade, todo o sistema de saúde do norte de Gaza está sob permanente ataque, que sequer poupa os hospitais e seus pacientes.

O Hospital Kamal Adwan tem sido bombardeado pela artilharia do IDF. Idêntico tormento é aplicado contra o Hospital AI-Award. O Hospital Indonésio, por sua vez, foi alvo de ataque de drones.

Depois de 10 meses de bombardeios e incursões militares, os três hospitais ainda não se recuperaram dos danos sofridos e só podem oferecer um atendimento parcial aos palestinos. (AP News, 3/11/2024). Não há ainda informação oficial sobre o futuro do norte de Gaza.

Diz o jornal israelense Haaretz (13/11/2024), que o exército planeja ficar na região até o fim de 2025 e está acelerando as demolições dos imóveis de palestinos e as construções de estruturas militares mais duráveis.

A terrível catástrofe, implícita na limpeza étnica no Norte de Gaza, é tão devastadora que mesmo o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, coadjuvante do presidente Biden na defesa do direito de Israel desrespeitar leis humanitárias internacionais, protestou:

“Nós vemos a limpeza étnica acontecendo e isso tem de parar”. Infelizmente, este apelo não passou de retórica. Israel segue impune, acumulando violações dos princípios mais caros à humanidade.

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Luiz Eça

Começou sua vida profissional como jornalista e redator de propaganda. Escreve sobre política internacional.

Luiz Eça
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