Delegado Fleury: herança maldita!
- Detalhes
- Waldemar Rossi
- 10/07/2008
À época da ditadura militar, ainda nos anos 60, um delegado de polícia de São Paulo criou o "Esquadrão da Morte", cujo objetivo era o "extermínio de bandidos". Vários "fora da lei" foram simplesmente executados, sem nenhum julgamento prévio. O famigerado delegado sentia-se no direito de prender, inquirir, torturar e assassinar. Exercia o papel de polícia, investigador, juiz e carrasco. Estava, portanto, acima da lei. O Dr. Hélio Bicudo, então Procurador da Justiça do Estado de São Paulo, depois de receber denúncia, entrou com ação contra o delegado Sérgio Paranhos Fleury, atando-lhe assim as mãos.
Fleury foi encostado em alguma delegacia, oficialmente, enquanto corria o processo (?). Porém, sua equipe não parou porque tinha, a essa altura dos acontecimentos, pleno apoio dos militares. Por conta desse apoio, os esquadrões se multiplicaram por esse Brasil afora, de modo muito especial no Estado do Rio de Janeiro. Os assassinatos se davam sem nenhum empecilho e, ainda por cima, contavam com o apoio da mídia "lambe-botas" dos militares, seja pelas notícias capciosas contra os "bandidos", seja pela omissão em denunciar as execuções.
Assim, com a conversa mole de defender a população da ação dos bandidos, estabelecia-se na polícia o banditismo oficial e persuadia-se a população a aceitar as prisões, torturas e assassinatos de políticos acusados pela mídia como "terroristas" – atos que passaram a ser praticados pelas forças da repressão militar e dos DEOPS nos vários estados brasileiros.
O delegado Fleury, beneficiado por uma "lei" militar, continuou por muitos anos à frente da repressão estadual, sendo responsável direto de assassinatos de políticos no DOPS paulista. Morreu (dizem que como "queima de arquivos") e seu enterro foi homenageado com ostensivos disparos de armas de fogo de policiais civis; a ditadura teve seu fim, depois de longos anos de bárbaros crimes contra cidadãos brasileiros. Mas a herança maldita criada por Fleury e pelos governos militares não foi banida da vida nacional. Muito pelo contrário, cresce a cada dia, fruto da corrupção e impunidade que corroem os Três Poderes, como a própria mídia vem denunciando amplamente.
A população assiste a cada dia um verdadeiro "festival" de execuções de criminosos, sem nenhum julgamento, assim como assiste aos assassinatos de cidadãos trabalhadores, inocentes, execuções cometidas por policiais militares e civis, com o envolvimento até de gente do Exército brasileiro.
Pais, mães, irmãos, filhos, parentes a amigos choram a cada dia a perda irreparável de algum dos seus entes; relatos nos chegam a cada dia, seja pelos meios da mídia seja via internet, de abusos de autoridade praticados por delegados e policiais, graduados ou não, abusos que não raramente terminam em pura e simples execução. Para nos deixar mais estarrecidos, ainda temos que ouvir as cínicas declarações de tais policiais que "agiram em defesa própria", reagindo ao "tiroteio" que teria sido iniciado até por crianças de colo. À população resta ficar perplexa diante de tanta violência e impunidade, totalmente insegura, com medo de encontrar em seu caminho algum policial que a venha abordar.
Momentos assim nos fazem lembrar a música de Chico Buarque: "Chamem o ladrão, chamem o ladrão!".
Mas não são apenas os membros das várias polícias que praticam tantas execuções. São também as milícias armadas, criadas por grandes proprietários de terras griladas (nacionais e estrangeiros), que matam colonos, indígenas, sem terras, posseiros, sindicalistas, padres, freiras, gente que busca a JUSTIÇA, e todos esses crimes permanecem impunes. Juízes agem conforme os interesses dos grandes proprietários, debochando da própria justiça a que deveriam defender por força de juramento.
São também prefeitos de médias e grandes cidades – como no monstruoso caso da cidade de São Paulo - que determinam a perseguição odiosa e discriminatória de moradores de rua, enxotando-os para as periferias, destruindo-lhes seus miseráveis pertences como roupas e cobertores, deixando-os na outra rua: a rua da amargura. Amargura ainda maior por não terem um lar, um aconchego, por não terem um trabalho permanente que lhes dê para um sustento com um mínimo de dignidade.
Nossos governantes nacionais permanecem distantes, muito mais interessados em defender os interesses do grande capital do que em "administrar o direito e a justiça para o povo" (Ex 18, 22).
Não por menos o Benedito de Oliveira, que estava morador de rua - ao ser preso na catedral da Sé, no dia 25 de janeiro deste ano – disse aos que o prendiam: "São Paulo me fez assim!", "São Paulo me mata!". Era o grito do desespero, desse mesmo desespero que invade os lares de milhares de cidadãos a todo dia.
Até quando? Onde anda a justiça? Por que muitos que se dizem defensores dos direitos do povo se calam?
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
{moscomment}
Comentários
Pobre diabo Fonseca ou que nome lhe tenha dado a infeliz que o pariu, aqui não é o seu lugar! Procure a sua turma e seguramente os achará nos sítios eletrônicos do Grupo Guararapes, Brasil Acima de Tudo e outros arranjos que tais, onde se juntam os profissionais do ódio, da brutalidade, da selvageria, os botinudos de 64 e sua corja de abutres. Aqui, seguramente está deslocado.
João Carlos Bezerra de Melo
Eu apenas acrescentaria que, da impunidade das bestas-feras da ditadura militar, orgina-se a orientção estúpida e boçal de arrombar portas de casas, nas favelas, atirar, sem olhar as conseqüências e, portanto, todos os fatos similares ao episódio do Morro da Providência e ao assassinato do menino João Roberto, no Rio, fazendo-nos crer que os centros de formação militar no Brasil se tornaram criatórios de matadores.
João Carlos Bezerra de Melo
Assine o RSS dos comentários