O padrão de vida do trabalhador brasileiro
- Detalhes
- Waldemar Rossi
- 24/09/2008
Os meios de comunicação vêm afirmando que o padrão de vida do povo brasileiro tem melhorado nos últimos anos. E os defensores do modelo governista usam isso para defender o governo Lula dos que se opõem às suas diretrizes políticas. Seria verdadeira essa afirmação de que há melhor padrão de vida para o povo? A inclusão no mercado de trabalho de uma parcela que esteve desempregada anos atrás é um indicativo dessa melhora? Pois é isso principalmente que se afirma por aí.
Entretanto, segundo os dados fornecidos pela Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios (PNDA), o salário-mínimo (SM) tem sido o teto do ganho para mais de 25 milhões de trabalhadores brasileiros, o que implica em que muitos desses 25 milhões (27,55% dos que são considerados em idade de trabalho - PEA) ganham menos que esse mínimo. Porém, em 2001 eram 18 milhões os que estavam dentro desse limite.
Portanto, muito mais trabalhadores entraram na rede dos sub-assalariados. Isso se pudéssemos considerar o atual mínimo como o salário que satisfaz as necessidades básicas de uma família padrão (casal e dois filhos menores), como estabelecido por lei.
Avançando na análise dos dados, vemos que há uma outra parcela que está um pouquinho melhor que a primeira. São os que ganham até 2 mínimos. Em 2001 eram cerca de 16,6 milhões. Hoje são praticamente 28 milhões (30,8% do PEA). Aqui também houve crescimento do número dos que entraram nesta faixa um pouco menos ruim que a primeira.
Outro dado a ser considerado é que cerca de 8% apenas têm rendimento entre 2 e 3 mínimos, isto é, até no máximo R$ 1.245,00. Há, ainda, pelo menos 9,4 milhões que declararam não ter rendimento algum.
Como contradição, a pesquisa revela que são apenas 750 mil cidadãos que têm ganho superior a 20 mínimos, portanto, acima de R$ 7.600,00 mensais.
Somando todos esses dados fornecidos, chegamos à conclusão de que mais de 72% dos trabalhadores brasileiros têm rendimentos baixos, insuficientes, portanto, para a manutenção de uma família padrão e em conformidade com os direitos básicos universalmente reconhecidos e recomendados. Para que o leitor possa ter idéia do que isso significa, devemos retomar as informações do DIEESE de que o salário mínimo, de acordo com a lei em vigor, deveria ser algo em torno de R$ 1.950,00.
Os dados da PNAD não revelam se esses que migraram de uma faixa para a outra tiveram melhoria de vida ou se seus salários foram rebaixados, jogando-os para as faixas menos favorecidas. Pelo que significam numericamente, tudo leva a crer que migraram para baixo, pois a rotatividade da mão-de-obra das últimas três décadas tem sido altíssima e, segundo todas as pesquisas, a cada novo emprego o trabalhador tem que amargar com um novo rebaixamento do seu ganho mensal.
Já dizia um "presidente" militar dos tempos da ditadura: "O Brasil vai bem. O povo vai mal." O Brasil capitalista vem crescendo, ainda que em índices inferiores ao necessário. Mas a renda socialmente produzida não é compartilhada. Vai para as mãos dos banqueiros e demais empresários nacionais e internacionais, ou para as mãos dos latifundiários exportadores, desses que exploram seus funcionários até com trabalho escravo. O que muitos não querem ver é que o padrão de vida do povo vai sendo progressivamente nivelado por baixo, até que sejamos todos párias nessa sociedade excludente e marcada pela barbárie praticada pelos poderosos, todos comandados pelo neoliberalismo internacional.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
{moscomment}
Comentários
Se eu tivese o eu endereço eletrônico iria te responder em particular, pois acho que já extrapolou o interesss maior dos leitores do Correio... este debate. O Principal já foi discutido. Mas, não o tendo, vai aqui mesmo.
Poderia eu começar esta minha resposta com a sua frase inicial "É próprio dos adesistas e abestalhados, não tolerarem opiniões contrárias as suas...", para te mostrar o quanto são inócuas frases adjetivantes como a sua.
Como grande sabedor dos males do Mundo (e do Raymundo), quanto à intolerância sobre opinião discordadnte, peço qe leia a sua primeira postagem.
Assim, talvez entendas que não é preciso ser da ultra esquerda (eu não sou e nem sei de onde tirastes esta idéia, nem sei ao certo o significado deste adjetivo).
Basta ter interesses ou opiniões políticas que não permitem contestações, co mo me parece ser o seu caso.
Mas, daí a extrapolar como "Mal" divergir de quem apóia este desgoverno entreguista é querer ter a primazia da infabilidade. Não acho que boa parte dos que apóiam o Lula são abestalhados ou perebas. Antes o fossem. Desconfio que muitos já ultrapassaram esta barreira, e "evoluíram" para o abandono puro e simples de índices mínimos de razoabiliadade política.
Pessoalmente, não acho que "filiar-se a Partidos é algo desejável, até". Penso que a realidade brasileira pede formas de Organzação Popular superiores e diretas contra este Jogo do Poder Institucional das elites, a esta altura totalmente seqüestrado por interesses que nada têm a ver com as lutas populares.
Não te acusei de fascista. Foi uma ilação sua. Apenas escrevi que a forma com que "acusastes" o Waldemar Rossi de pertencer ao PSOL (na verdade, inverídica), foi estranha. E para te provar que a sua ilação, nos mostar o quanto a luta política, para ti, se resume a interesses de corporações partidárias.
Continuo com a opinião que, no mínimo, fostes impreciso ao dizer que o Governo Lula paga quase o salário do DIEESE. Espero qe todos os Trabalhadores possam usufruir um dia da excelência do trabalho dos servidores Públicos Federais. Embora, eu conheça muitosa que não recebem um só reajuste, há anos.
Outrossim, continuo aguardando a sua ilibada análise do artigo do prof. Benayon, que luta para que os brasileiros não se transformem em abestalhados, como querem alguns.
Para terminar, gostaria que o sr. me dissesse como devo proceder para "deixar o homem trabalhar", em vez de "ver fantasmas"? Que eu me cale? Que eu perca o meu sentido crítico? Ou que eu lhe peça diariamente as suas análises políticas, para que eu possa me orientar?
Dizer que Waldemar Rossi, pessoa ilibada, é ligado ao PSOL não deveria ser novidade para ninguém. Filiar-se à partidos é até desejável, afinal.
Dizer que beira o fascismo discordar da análise de Waldemar ou de quem quer que seja é de uma prepotência sem medida.
O governo federal, como patrão, paga, sim, um piso de (quase) dois mil reais aos seus servidores.
Portanto, meu caro Raimundo, deixe de criar fantasmas e bola pra frente. Deixe o homem trabalhar.
Mas, não posso deixar de responder a estas mentiras postadas pelo João, que se assina Beque, mas pelo que vejo é gosta é defazer gols contra, e contra a meta popular.
O primeiro equívoco é quanto ao tom acusatório ao Waldemar Rossi, o dizendo "membro da executiva do PSOL". Parece-me uma entonação meio fascistizante "acusar" alguém de ser filiado a algum partido.
O segundo equívoco, e o principal, é que o Waldemar Rossi, como a maioria dos que freqüentam o debate político sabe, NÃO É FILIADO AO PSOL, ou a partido algum.
O terceiro equívoco é achar que o independentíssimo Waldemar Rossi nortearia as suas posições políticas por pertencer a alguma executiva de algum partido político.
O quarto equívoco, este muito grave, por ser uma mentira deslavada é dizer que o Governo Lula paga "quase o piso do DIEESE". O piso do DIEESE beira os R$2000,00/mês, para o salário mínimo. Façam as contas.
As política no Brasil está em um dos seus piores momentos, onde militantes partidários ou defensores do indefensável usam de qualquer expediente, inclusive os mais sórdidos, para atacarem as posições políticas de quem deles discordam. A covardia política não tem limites, para certos gajos.
Assim se constrói o fascismo. A história é repleta de exemplos.
Outrossim, faria melhor este Beque do Gol Contra, que respondesse as análises feitas pelo prof. Adriano Benayon, esmiuçando tecnicamente o belo texto político do honrado Waldemar Rossi.
Esse beque, não tem vaga nem na seleção do Dunga. É um pereba!
******************************
Alardeou-se, ainda, uma suposta diminuição da pobreza, abrangendo também os da faixa de um salário mínimo. Conforme esses dados, de 42,82% em abril de 2002, o percentual de "miseráveis" e "remediados" (classes D e E), desceu para 32,59% em abril de 2008.
Com a costumeira superficialidade, a mídia transmitiu resultados pinçados de estudos do IPEA e da FGV (Fundação Getúlio Vargas) sobre mudanças nas classes sociais brasileiras nas seis regiões metropolitanas do país. O levantamento do IPEA, que se baseia em dados do IBGE, considera rendimento apenas a renda proveniente da remuneração do trabalho, o que exclui os ganhos com investimentos.
Foi destacado, citando estudo da FGV, que, de 2003 a 2008, se reduziu de 35% para 24,1% o número de pessoas pobres ? com renda igual ou inferior a meio salário mínimo. Parece claro o efeito dos programas assistenciais, como o Bolsa Família, pois receber meio salário mínimo está longe de significar inserção na economia produtiva.
Alardeou-se, ainda, uma suposta diminuição da pobreza, abrangendo também os da faixa de um salário mínimo. Conforme esses dados, de 42,82% em abril de 2002, o percentual de "miseráveis" e "remediados" (classes D e E ), desceu para 32,59% em abril de 2008.
Ora, houve mais pontos percentuais (10,9) na redução do número de indivíduos com "renda" inferior a meio salário mínimo do que os pontos de queda (10,2) no conjunto de famílias que inclui também a classe D. Em suma, é uma falácia dizer que houve redução da pobreza.
No outro extremo ter-se-ia elevado de 0,8% para 1% o número das pessoas que recebem renda mensal igual ou superior a 40 salários mínimos (R$ 16,6 mil), indicando ser inexpressivo o crescimento do número de indivíduos na classe de maior renda.
Ao contrário, terá sido digna de nota a elevação do percentual dessa classe na renda total, em função dos ganhos crescentes dos rendimentos do capital, em decorrência dos juros altíssimos e dos lucros em ascensão para os bancos e para as grandes empresas. Na realidade, prossegue a tendência à concentração de renda iniciada nos anos 60, a qual fez cair à metade a participação dos salários na renda total, dos 60% de então para 30% de hoje.
Deixando de lado a pobreza só estatisticamente encolhida por meio da classificação enganosa das faixas de renda e considerando a pobreza verdadeira, os próprios dados oficiais mostram um quadro sombrio. Assim, as famílias ditas mais ricas, ou seja, com renda mensal superior a R$ 4.591 (R$ 918 por indivíduo, quantia equivalente a apenas 2,2 salários mínimos), passaram a representar 15,5% em 2008, subindo 2,5 pontos percentuais desde 2002.
Em retrospectiva de prazo mais longo, em vez de elevação do percentual, houve considerável queda na participação numérica desses supostos mais ricos. Somadas as classes denominadas média (média mesmo, rendimento familiar de R$ 2.500 a R$ 5.000, em reais de 2004) e a média alta (acima de R$ 5.000), o percentual caiu de 13,5% para 11,1%, de 1981 para 2002.
Mais grave, essas percentagens ocultam a brutal erosão do rendimento médio de todas as classes de renda, o qual decresceu em mais de 40% em termos reais de 1997 a 2004, situação pouco alterada em função da recuperação desprezível verificada após 2004.
Difundiu-se também ter a classe média, segundo o estudo da FGV, crescido para mais da metade da população das regiões metropolitanas (51,89%), partindo de abril de 2002, quando seriam 44,19%. A FGV define a classe média como famílias com renda entre R$ 1.064 e R$ 4.591 (R$ 214 a R$ 923 durante o mês por pessoa, respectivamente 0,5 a 2,2 salários mínimos). Sim, não é brincadeira: a partir de meio salário mínimo a pesquisa da FGV já enquadra a renda per capita familiar na categoria de classe média.
Evidentemente vem sendo pintada uma paisagem rósea ou idílica, com base no abusivo pressuposto de tais patamares de renda corresponderem à "classe média". Até poderia ser se: 1) a percentagem de miseráveis e indigentes não fosse quase igual à da discutível classe média; 2) a percentagem da camada mais alta não fosse tão pequena.
A tornar as classificações e as estatísticas ainda mais enganosas, há também a depressão dos rendimentos obtidos pela quase totalidade dos residentes no país, em função do saqueio das riquezas nacionais que já cheguei a quantificar em artigo anterior na casa dos R$ 2 trilhões por ano.
Houve apenas ligeira melhoria para os que percebem o salário mínimo, graças aos aumentos reais deste nos anos mais recentes. Isso, entretanto, não deve escamotear de nosso entendimento o fato de continuarem escandalosos os números e as condições extremas da pobreza, nem que prossegue a deterioração do padrão de vida da "classe média", grande parte da qual vive realmente a pobreza.
O próprio presidente do IPEA. Márcio Pochmann reconhece: "... O ganho de produtividade acumulado na economia não está sendo repassado para os salários. Ao não repassar esses ganhos, os produtores terminam formando um segmento mais privilegiado da população". Esse comentário teria sido ainda mais certeiro, se Pochmann tivesse dito: empresas transnacionais e bancos, em vez de produtores.
A pesquisa do IPEA assinala, com efeito, que os ganhos na produtividade não são repassados aos salários: dados da indústria brasileira indicam que o crescimento dos ganhos desta foi de 22,6% entre 2001 e 2008, enquanto a folha de pagamento por trabalhador se elevou em só 10,5%.
Ainda Pochmann: "O setor da indústria tem um sindicato muito forte. Se neste setor o ganho de produtividade não está sendo repassado para o salário, em outros setores a diferença deve ser bem maior".
Assine o RSS dos comentários