Trabalhadores vivem de empregos temporários
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- Waldemar Rossi
- 20/10/2008
Nas últimas semanas, os jornais de grande circulação vêm anunciando aberturas de vagas de trabalho, apenas para o final de ano. São vagas abertas nas empresas do comércio, visando atender às demandas natalinas. A maioria, se não a totalidade, dessas vagas é para jovens. Aos adultos desempregados cabe esperar pelo milagre de terem uma chance. Sabemos que parte pequena desses/as trabalhadores/as receberá como "recompensa" pelos seus esforços efetivação no emprego. Para esses será um momento de glória, já que terão um - ainda que mísero - salário mensal, glória porque isso ajudará na manutenção do lar. Enquanto que outros/as tantos/as entrarão no "purgatório" do desemprego e terão que comer o pão que o diabo amassou, perambulando pelas cidades em busca de nova oferta de trabalho. Aos que tiverem a felicidade de encontrar essa nova vaga restará ainda se contentar com novo rebaixamento salarial. Pois é para isso que as empresas prometem contratar alguns dos temporários: promover a rotatividade da mão-de-obra, manter rebaixados os salários e com isto garantir gordos lucros. São abutres revoando sobre cadáveres, aguardando o momento de iniciar suas bicadas assassinas.
Eis a lógica perversa do capital. Herança deixada pelo modelo de desenvolvimento industrial introduzido pelos militares que assumiram o governo brasileiro, protegidos pelas suas armas, aliás, armas adquiridas com o dinheiro do povo e que deveria ser usado para a educação, saúde e tantos outros setores essenciais para a vida do contribuinte. Não que antes o trabalho temporário não existisse. Existia. Porém, jamais nos níveis atuais, porque a indústria, importada a partir do final dos anos 60 do século passado, não tinha por objetivo o crescimento econômico permanente do país. Seu objetivo era tão somente aqui se instalar, produzir e vender em maior quantidade possível e, uma vez vencido esse curto ciclo, mudar-se para outras bandas do mundo, deixando como resíduo milhões de brasileiros amontoados nos grandes centros urbanos, não lhe importando seus destinos nem a qualidade de suas vidas. Ao capital, por ser predador por natureza, o trabalhador só interessa enquanto produtor de suas riquezas ou enquanto consumidor dos bens produzidos pela sua própria classe.
Não era isso que prometiam os militares, quando da intensa propaganda do "Este é o Brasil que vai pra frente!" ou do "Brasil, ame-o ou deixe-o". O que "vendiam", sobretudo aos trabalhadores do campo chamados que eram para deixar suas terras, era que nos grandes centros encontrariam bons trabalhos com salários compensadores, moradia decente, férias, 13º salário, atendimento médico para toda a família e educação para os filhos. Prometiam o "paraíso terrestre". As cidades incharam e o povo foi ficando amontoado nos cortiços e nas favelas. O campo foi se esvaziando, os latifundiários e o capital internacional se apossando de suas terra – com o aval e o apoio armado da repressão dos governos estaduais –, passando à larga produção agrícola para a exportação, enquanto que a fome crônica atinge a mais de 70 milhões de brasileiros.
Os governos da pós-ditadura, todos, prometeram e continuam prometendo a reversão profunda desse quadro dantesco. E o povo, sempre inebriado pelo sonho de uma vida melhor, vem acreditando nas mudanças, esperando que elas aconteçam vindas "de cima", dos que ele, povo, ajudou a eleger. Continuando a mentira institucionalizada – segundo a qual é preciso repeti-la até que se torne verdade –, os governantes dos municípios, estados e federal vão postergando tais mudanças para que possam ser repetidas a cada eleição. Da boca dos eleitos e empossados, sempre ouviremos que há carência de recursos diante de muita coisa a ser feita, que algumas obras - que oferecem bom visual - são "importantíssimas" para a cidade, estado ou país. Faltará sempre dinheiro para o salário mínimo, para as escolas e saúde públicas, para o saneamento básico, para o transporte decente, para as moradias populares. Porém, jamais ouviremos de suas bocas que falta dinheiro para as empreiteiras, para a mansões da classe média alta, para os juízes, os deputados, senadores, vereadores, secretários, ministros, generais, esses que vão tendo cada vez mais vida de nababos. Sobretudo o governo federal vem dizendo e repetindo que não há recursos para a reforma agrária, para o desenvolvimento interno. Mas doa vários bilhões de reais às empresas e bancos que se dizem afetadas pela crise financeira, essa crise que assola o universo capitalista central (Europa e Estados Unidos).
E o povo, envolvido emocionalmente pelos dramalhões desencadeados pelas emissoras de TV, ainda aplaude esse escoamento do dinheiro público pelos ralos do capital corrompido e corruptor. Pobre povo que vai continuar a viver desempregado, de bicos, de empregos temporários, com salários rebaixados, mas cheio de ilusões, acreditando em Papai Noel.
E os altos dirigentes das centrais sindicais ficam preocupadíssimos em saber o quanto cada central vai abocanhar no próximo ano, dinheiro que será arrecadado dos salários minguados dos que ainda encontram trabalho formal! A vida do povo trabalhador não está na agenda das centrais sindicais.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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Comentários
Parabéns pelo artigo Waldemar, pois, \"não importa se os primeiros passos pareçam pequenos, o que se faz bem feito faz-se para sempre\".
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