Correio da Cidadania

Hipocrisia e tirania de mãos dadas

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Em meados do ano passado, denunciei a postura hipócrita da GM (unidade de São José dos Campos) que fazia chantagem forçando o sindicato local a aceitar acordo para redução salarial e para implantação do famigerado "banco de horas" na empresa. Tentando obter êxito na criminosa operação não vacilou em cooptar (em troca do quê?) forças políticas da região e outra forças que têm influência moral sobre o conjunto da população. Chantageava descaradamente com a oferta da abertura de 1633 vagas para temporários, porém, com salário-piso bem inferior ao já conquistado pelos trabalhadores. Isso implicaria, em médio prazo, num processo de redução salarial para o conjunto dos seus funcionários, de um lado, e a sonegação do pagamento das horas-extras, que entrariam para o tal banco de horas para um momento de queda das vendas.

 

A pressão foi muito forte, porém a firmeza da direção sindical foi maior. Aquelas 1600 contratações para um terceiro turno foram para a unidade de São Caetano, contando com o apoio e negociata da direção sindical comandada pela Força Sindical (aquela que foi criada em 1991 com apoio do Collor de Mello e com grana de multinacionais). Passado menos de um ano, eis que a crise faz a empresa mostrar sua verdadeira cara, dispensando os milhares de operários recém-contratados.

 

Conheço trabalhadores que deixaram seu emprego naquela época para se deixar levar pelo "canto da sereia" empresarial. Pelo menos centenas estão outra vez curtindo a amargura do desemprego. Durante meses de grandes lucros, a empresa distribuiu rendimentos para os seus acionistas (leia-se grandes acionistas), deixando a empresa na linha do amarelo. Bastou uma crise para que o sinal passasse para o vermelho e o preço é jogado nas costas dos que produziram e produzem suas riquezas. Do bolso dos acionistas nada foi tirado, suas fortunas geradas do trabalho operário permanecem intactas e rendendo outros juros via investimentos financeiros ou com investimentos em valores imobiliários. Vida de nababo para alguns exploradores, enquanto sérias preocupações e dificuldades para os explorados. É a tirania do nefasto capital, especialmente nesses tempos de capitalismo neoliberal.

 

Enquanto isso, caravana representando os 4.200 demitidos da EMBRAER conseguiu se reunir com Lula. "O presidente nos disse que nunca viu em toda sua vida como sindicalista uma empresa readmitir funcionários numa situação dessas, mas prometeu falar com líderes da EMBRAER para uma negociação juntamente com o sindicato e os trabalhadores. A idéia é rever cada caso para encontrar uma saída", afirmou o mecânico de produção, Tomás Pereira de Souza, demitido depois de 34 anos dedicados à vida da empresa (Diário de São Paulo, B5). Ora, propor a análise de cada caso e buscar saídas individualizadas? Isso se chama PULVERIZAR os trabalhadores, dividi-los, enfraquecendo a ação sindical coletiva! São 4.200 trabalhadores, seres humanos com o é o presidente! Uma empresa poderosa contra trabalhadores divididos? Qual é a do "nosso" presidente? De que lado ele está? E como fica a solidariedade da classe? Acho que Lula já esqueceu o que é isto!

 

E tem mais: se levarmos em conta que a direção daquele sindicato (Metalúrgicos de S. José dos Campos) não está sob controle da CUT (é Conlutas), entende-se a fala desalentadora e a falta de firmeza do presidente, porque a EMBRAER está recebendo muito dinheiro do BNDES, dinheiro destinado pelo governo, mas que sai do bolso dos contribuintes (eu, você, ele, ela; NÓS)! São dois fatores que pesam, infelizmente, contra os operários.

 

Outra face dessa tirania nos vem do levantamento feito pela Fundação Seade/Dieese, segundo a qual os salários das mulheres vêm caindo seguidamente, aumentando as criminosas diferenças (trabalho para a mesma função) entre os salários pagos a homens e a mulheres. Estes estão, em média, 25% mais baixos. Se considerarmos que cerca de 2/3 dos que trabalham ganham abaixo de três mínimos (a imensa maioria recebe entre meio e dois mínimos), podemos considerar o grau de exploração salarial sobre a mulher, mais uma discriminação perversa.

 

Mas a mídia e o governo falam que a vida do povo está melhorando...

 

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

 

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Comentários   

0 #5 The Economist: A Ideologia do Elogio da Raymundo Araujo Filho 09-03-2009 08:59
"Parece linho, mas é Linholene” - Antigo e um dos primeiros eslogans publicitários de projeção nacional, protagonizado pela inesquecível Neide Aparecida. Anunciava uma toalha de reles plástico, com desenhos, como se fosse de um tecido de linho. Com a “vantagem” da fácil limpeza, em caso de acidente.

Outro dia, mais precisamnente na edição do dia 07/março/09 do jornal O Globo, na seção de economia, li uma pequena caixa, dentro de matéria sobre a “crise”, onde expunha comentário sobre artigo recém publicado na Caixa de Pandora de alguns economistas, a revista internacional The Economist. Os economistas que respeito a lêem, mas não como uma infalível rábula.

Referia-se este comentário, a um atrtigo sob o título “Colhendo os frutos da indolência”, recém publicado por lá. Este artigo “analisa” de como o modelo “antigo, perdulário e ultrapassado” vingente no Brasil, da forte presença do Estado na economia, hoje, pode-se se dizer que está possibilitando uma pequena refração favorável ao Brasil (segundo eles, os articulistas), minorando um pouco os efeitos da tal “crise”.

O artigo comentado diz também que este modelo de gestão, embora ainda persistente, “tem sofrido profundas mudanças”, de acordo com um Relatório do Balcão de Negócios Goldman Sachs. Deve ser referir ao meu ver, ao período de Collor até a Era Lula, onde os bancos privados ganharam horrores, e os bancos estatais, estranhamente, em vez de competir com eles, adotou as mesmas taxas de juros e de transações de mercado, e os oligopólios privatizados se consolidaram nos setores estratégicos, no atacado e no varejo.

Assim, concluem que foi exatamente a dose expressiva da presença do Estado na economia, como agora retorna com este falso Keynesianismo fajuto (o original já era insuficiente...) que está em voga, que salvou a economia brasileira de um baque maior e mais radical em sua vida econômica. Mas, não sem avisar que “o Brasil entra na crise devagar, mas sairá também lentamente dela”.

Assim, monta-se mais um Circo dos Horrores Econômicos, com versões plásticas de verdadeiros crimes, apresentados como números de picadeiro, para uma platéia extasiada, entretida e pensando estar a ver a arte circense original, mas vítima de uma falcatrua com mortes reais em cena. Tudo plasticamente palatável.

Ora! Em primeiro lugar temos de lembrar que a grande e infinita maioria dos que apoiavam as Políticas Intervencionistas de Sarney e Itamar, ou mesmo aqueles que lhes eram oposição, estão a apoiar o Novo Keynesianismo Fajuto, onde o Estado volta à cena, mas para prover os Capitalistas e Oligopólios com dinheiro público, pagos diretamente aos empresários, para cobrir os efeitos da rapinagem econômica de duas décadas e meia de neoliberalismo, que foram alavancados pelos séculos seculorum de exploração dos de baixo, pelos de cima. Mesmo que muitos estejam em Partidos opositores entre si mas, como se sabe, apenas pela disputa da gerência da entrega do país ao Capital, e não por alguma mudança de modelo. E os que as criticavam e lutaram para demolí-las, hoje as elogiam através deste artigo do The Economist.

Portanto, a Política das Classes Dominantes está unida no projeto do Neo Keynesianismo que se aplica como “saída” para a crise, a partir das revistas e ações dos próprios causadores da “crise”. A novidade é que, no Brasil é um ex-operárrio, eleito duas vezes com discurso popular, que capitanea a lambança lesa povo, o traindo com ações assistencialistas que mantêm o consumo fracamente aceso (assim mesmo de forma contestável), mas não avança minimante para uma mudança de Modelo, ao contrário o solapa, e ainda impondo à população a completa falta de temas básicos como Saúde e Educação de Qualidade, Segurança, Transportes, Emprego, Reforma Agrária, etc.., afinal vítimas dos contigenciamentos dos Orçamentos Públicos, por sua vez, solapados pela isenção e não cobrança de impostos devidos pelos ricos, mesmo neste tempo de “crise”, entre outros mecanismos de injustiça social.

Na verdade, o que precisamos traduzir para o senso comum, pois inclusive é de fácil compreensão, é que este “elogio” ao que o Gordon Sachs e a turma que incensa esta revista The Economist, como se fosse uma hidra certeira, nada mais é do que o reconhecimento em linguagem cifrada, que Lula segue diligentemente a receita do que chamo a Doutrina Obama (não por ser ele o autor, mas o boneco executor), onde na política já expus a sua faceta no artigo Rifaram Uribe.

Neste artigo, procuro alertar que este elogio do The Economist sobre receita seguida por Lula e sua gente (quantas tribos!) nada mais é do que um avesso do Elogio da Loucura.

Por isso, sem nenhum pudor ou compromisso com a história, elogiam hoje, o que criticavam ontem (tal e qual como fizeram com Uribe). Hoje, incensam a “presença do Estado na economia”, não por ser o Estado um ente regulador dos excessivos lucros e desníveis sociais, como muitos pensam ser possível, através desta estrutura dominada e sequestrada pelas elites ou ocupado corporativamente por aqueles que se dizem promotores das Vias Populares, mas ao contrário, apenas vivem dela, via de regra em Alianças de Classes incompatíveis entre si.

Assim, agora para atestarem que Lula segue a receita da nova fase do neoliberalismo, o assalto direto ao erário, sem intermediários, elogiam esta “intervenção do Estado”, como auto elogio à suas próprias loucuras.

O mais engraçado, se não fosse trágico, é ver Lulistas e assumidois neoliberais elogiando não só o artigo, mas também as políticas cordeiras e dadivosas deste nosso presidente Lula que, se a história um dia for escritas pelos despossuídos e explorados, será conhecido como o Pai dos Ricos.

*Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e ciente que de médico e louco, cada um tem um pouco. Uns mais que outros, é verdade.
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0 #4 Crise capitalistaLigeovanio 09-03-2009 08:27
André, que outro tipo de análise da atual cinjuntura pode se esperar em um jornaleco como a floha? o jornal da "ditabranda"?
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0 #3 Sobre a hipocrisia e tirania contábilFabio B Meira 09-03-2009 08:26
Ao avaliar um programa de demissoes tao agressivo, um governo que se diz "dos trabalhadores" poderia ao menos exigir uma apuração de lucros para alem do trimestre! Analisar balanços dos ultimos cinco a dez anos seria o minimo para entender a contribuição efetiva da força de trabalho à lucratividade de uma grande empresa. Que tal uma medida provisória do governo Lula para que isto ganhasse força de lei?
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0 #2 Luciana 09-03-2009 05:39
O presidente Barack Obama assinou lei que eliminou a diferença salarial entre homens e mulhres. Porque o presidente Lula não faz o mesmo? Que forças tão poderosas impedem-no de ficar ao lado dos trabalhadores, os mesmos que o elegeram?
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0 #1 André dos Santos Almeida 06-03-2009 13:42
Olá!
Estava lendo um texto na Folha de São Paulo e realmente há algo instigante no conteúdo. Segue o link:

"Crise capitalista mata a esquerda"
http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/sergiomalbergier/ult10011u509477.shtml

Vemos, nesta crise, que a esquerda, na verdade as várias esquerdas, estão mais divididas ainda.

Há por exemplo sindicatos que indicam junto à base a aprovação de acordos de redução de direitos, de salários e que também aceitam, sem mobilização, sem fazer nada, as demissões que se acumulam pelo país. Partidos e correntes políticas que apenas fazem mobilização pela internet, por e-mail e enviando notícias sem uma proposta prática de luta contra o massacre de direitos e empregos que os trabalhadores e a população no geral está sofrendo nesta crise. Alguns ainda tentam, quase que sozinhos, conter e reverter demissões, reverter a redução nos salários, garantir direitos... Considero que são nobres guerreiros neste momento tão turbulento no qual ficamos (ou já estávamos?) órfãos de governo, sindicatos, movimentos sociais e partidos políticos.
Há salvação para a esquerda? Ou melhor, ainda há REALMENTE a "esquerda" no país?
A solução para a crise realmente passa por reduzir salários? Cortar empregos? Reduzir taxa de juros? Entupir bancos e empresas com dinheiro público?
Uma questão interessante que muitos sindicatos não cobram do governo: Se o que está privatizado não produz, desemprega, reduz salãrio,não cumpre um papel social, etc... por quê não re-estatizar? O governo lançaria então um gigantesco e urgente plano de construção de infra-estrutura, atendendo os anseios da população(demanda por habitação por exemplo) tendo em
mãos novamente o parque produtivo (mineradoras, siderúrgicas, setor energético, etc...) para tal empreitada. Garantiria o emprego e geraria mais emprego...
Aproveitando: no próximo dia 01 de abril há um chamado conjunto para mobilizações nacionais... vamos ver se o pessoal vai participar e, se participar, que não seja para defender redução de salários e direitos....
Até mais,
parabéns pelo site!
André - Minas Gerais
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