Correio da Cidadania

Brasil, um país sem educação (2)

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No primeiro artigo sobre o assunto, abordei dados do precário sistema de ensino brasileiro, mostrando que, por conta dos interesses do capital e da sua dominação ideológica sobre o povo, nossos "governantes" vêm tomando medidas para rebaixar, cada vez mais, o padrão da Educação formal. E que isto teria começado com o (des) governo militar, quando encetou verdadeira "caça às bruxas" sobre os maiores expoentes do ensino brasileiro, impondo forte redução na qualidade do ensino público, além de incentivar a escola particular, fazendo da educação uma mera mercadoria.

 

Os seus sucessores não deixaram por menos. Principalmente os tucanos que, como aconteceu no estado de São Paulo no tempo do governador Mario Covas, retiraram matérias importantes da grade do ensino, diminuíram outras (História e Geografia), demitiram professores aos milhares, congelaram seus salários, fecharam escolas e concentraram alunos próximos de cinqüenta por sala de aula.

 

O resultado foi catastrófico, com já várias gerações de crianças e jovens semi-alfabetizados, depois de completarem até o 3º ano do ensino médio. Agora temos a oportunidade de ver esses dados confirmados, infelizmente, embora à época alguns tenham torcido os seus narizes aos meus comentários.

 

A UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a infância) divulgou resultado de pesquisa em que 26% dos alunos que ingressaram no ensino médio em 2007 foram reprovados (12,7%) ou abandonaram seus estudos (13,2%): "A realidade dos 15 a 17 anos é um desastre. Se tem desigualdade dos 7 aos 14 anos, dos 15 aos 17 fica pior", diz a coordenadora do Programa de Educação da UNICEF no Brasil, Maria de Salete e Silva. Outro dado dessa desigualdade vem da constatação de que pelo menos 680 mil crianças ficam sem estudar e que, destas, a maioria é negra (450 mil).

 

Em debate promovido pelo Estadão sobre a qualidade do ensino, o ministro da Educação, Fernando Haddad, defende reformular currículos de Pedagogia (leia-se formação de professores) como indispensável para melhorar a qualidade do ensino. Da mesma forma que o secretário de Educação do estado de S. Paulo, Paulo Renato, assegura que é preciso aprimoramento após a formação universitária - uma verdadeira declaração do fracasso que é nossa universidade, tanto pública quanto privada. Fracasso pelo qual os governos do seu partido – PSDB - são grandes responsáveis, embora não os únicos. Vale lembrar que Paulo Renato foi ministro da Educação no tempo de FHC – oito anos de governo em que caiu vertiginosamente a qualidade do ensino no país.

 

Outro reconhecimento de culpa das políticas educacionais dos vários governos vem do próprio ministro Haddad, quando afirma que "A carreira do professor não pode estar em desvantagem em relação às demais (carreiras). Vamos perder jovens vocacionados por causa de uma questão econômica". Essa constatação vai em reforço à afirmação da representante da UNICEF no Brasil, Marie-Pierre Poirier, que defende ser vital passar dos (míseros, segundo meu ponto de vista) 4,6% do PIB brasileiro (Produto Interno Bruto) para cerca de 8% do PIB.

 

Não podemos nos esquecer de que o governo Lula, a cada ano, vem empregando cerca de 8% do PIB para entregar aos "nossos credores", enquanto nossa dívida pública continua crescendo. Para banqueiros agiotas tem dinheiro. Não tem para a Educação, entre tantas outras carências do nosso povo. Creio que o ministro Haddad e o secretário Paulo Renato deveriam empregar suas forças para exigir do Lula e do Serra as mudanças na política econômica nacional e estadual, investindo o dinheiro público para atender aos verdadeiros interesses nacionais. Entre esses interesses, a Educação Pública.

 

Cabe ao professorado tanto federal quanto aos estaduais organizarem campanha unificada para que se promova verdadeira revolução no ensino brasileiro. É preciso ter coragem para enfrentar com muita garra aqueles que deveriam pensar no povo. Caso contrário, a insensibilidade dos governantes vai continuar, seus compromissos continuarão a ser com os exploradores nacionais e internacionais e as atuais e futuras gerações passarão por escolas, mas serão apenas semi-alfabetizadas. Ao movimento social, como um todo, caberá dar todo seu apoio ao professorado.

 

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

 

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Comentários   

0 #4 VAMOS CONTINUAR IMPORTANDO TECNOLOGIA: NLuiz Carmo 08-09-2009 18:35
Uma vez um doutor de certa universidade pública brasileira foi participar de um congresso em Portugal. Os professores portugueses ao saberem do salário do Doutor ficaram tão condoídos com a situação que resolveram bancar a estadia e as passagens de ida e volta do referido professor brasileiro.
Se Portugal pode pagar um salário muito mais digno por que o Brasil do Pré-sal, dos caças Refale e dos submarinos nucleares não pode?
A defesa de um país começa pela qualidade de educação de seu povo.
Lembrem-se que ao perder a corrida espacial para o Sputnik e para Gagarin da ex-URRS,os EUA fizeram uma profunda reforma educativa naquele país.
O problema é que os americanos não são estúpidos.
PS. Imaginem os salários dos professores de nível fundamental e médio. Nem é bom falar!!!!
Não se faz um país justo apenas com armas e obras faraônicas.
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0 #3 um pais sem educaçaovinicius 15-06-2009 08:12
os altos indises repetencia professoris com baixa quALIFICACAO DISTOCOES SALARIAS FALTA DE IN VESTIMENTO DESINTERESSE DO GORVANOS FEDERAL E ESTADUAL E A RADIOGRAFICA EDUCACIONAL DO BRASIL QUE MOSTRA UM PAIS EM SINTONIA COM AS NAÇOES MAIS ATRASADAS DO MUNDO.
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0 #2 O movimento estudantil e a educaçãoHenrique Cignachi 11-06-2009 18:29
Atualmente creio que estejamos sofrendo sérios ataques deste governo que muitos lutaram para eleger - para trazer mudanças e não o aprofundamento de um projeto liberal. O PROUNI, mesmo tendo a contrapartida social, serve fundamentalmente para suprir as carencias das endividadas universidades particulares. O montante destinado a elas poderia ser investido nas públicas (que continuam sendo referencia de qualidade, tanto no ensino, como pesquisa e extensão), onde junto de políticas de cotas poderá abrir vagas para os menos favorecidos nesta nossa sociedade (mas as cotas devem ser gradualmente substituídas pela educação básica, pública, e de qualidade, bem como cursinhos populares). Outras medidas do gov. Lula, como o REUNI, e a regulamentação das fundações privadas nas universidade (junto da lei de inovação tecnológica) só vem a precarizar ainda mais as poucas conquistas que haviamos conseguido. O grande problema do mvto estudantil hoje é a ligação umbilical entre movimento e governo, visto que os grupos hegemonicos da UNE - a UJS e Kizomba - não fazem politicas sérias de enfrentamento e de proposta de projetos de educação. Triste a realidade, inclusive pq se utilizam da demagogia do PROUNI para manutenção de seu poder na UNE - utilizando-se das necessidades dos estudantes carentes do nosso país. Não há como ter unidade de luta com estes verdadeiros "vira-casacas" que muitas vezes se tornam mais hipocritas que os que anteriormente lutavamos contra.
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0 #1 VerdadeJoão Coimbra 11-06-2009 15:53
Somo humanos. Temos amor a humanidade? O que produzimos é usado em proveito dos que produzem ou dos donos do capital, meios de produção? Nossa riqueza serve a quem? Os governantes vendidos querem destinar a riqueza a uns poucos dominantes e com isso se perpetuarem no poder. Qual é a forma mais eficiente de educar? É aquela em que alunos, pais e professores decidirem qual é. Mas esses nunca são ouvidos. Políticos continuam sendo eleitos com votos comprados pelos empresários que parasitam o dinheiro público em vez de provarem que são verdadeiros empreendedores privados.
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