Aposentado não é “fardo pesado”
- Detalhes
- Waldemar Rossi
- 14/08/2009
Por mais que possa não agradar a muitos, esta coluna continuará a tratar os temas a partir dos interesses do Trabalhador, um Ser Humano com direitos adquiridos e que merece respeito.
As últimas notícias nos revelam que o governo federal vem "empurrando com a barriga" o caso dos reajustes dos aposentados. E o faz a partir da concepção do seu ministro Guido Mântega, para quem "os aposentados não precisam de dinheiro porque não precisam pagar condução...", entre outros absurdos. Por tal razão, segundo Mântega, o dinheiro que deveria ir para os aposentados deve ser desviado para o "superávit primário" e, com esse dinheiro, pagar a agiotagem aos banqueiros.
As últimas notícias nos dão conta das "divergências" ou impasses nas negociações entre o governo Lula e as Centrais Sindicais (Força e CUT basicamente), sobre o reajuste devido aos que trabalharam por mais de 35 anos produzindo riquezas e contribuindo compulsoriamente com a Previdência. Os aposentados reivindicam que seus reajustes sejam feitos conforme os percentuais do salário mínimo e mais alguma recuperação de tudo o que vêm perdendo há anos. Mas Lula não aceita isso. Aceita determinar um reajuste em 2010 que recupere pequena parte das perdas, desde que os aposentados desistam que os reajustes, conforme suas reivindicações, sejam transformados em lei. Em outras palavras, Lula não reconhece e também sonega os direitos dos aposentados. Só reconhece os seus direitos de aposentado.
As Centrais, por seu lado, ficam com um pé na terra do governo e outro pé na canoa dos aposentados. Ficam em "cima do muro". Nas discussões com o ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral) e José Pimentel (Previdência), as centrais não tiveram peito para enfrentar com o vigor necessário as mais que justas reivindicações dos aposentados. E tudo caminha em "banho Maria", onde, historicamente, quem tem perdido a batalha são os aposentados e o conjunto dos trabalhadores.
É preciso recordar alguns princípios fundamentais nesta discussão. Primeiro: Os aposentados não são o "fardo pesado" com que o governo, parlamentares, empresários e a imprensa sempre os classificam porque, durante toda sua vida de trabalho, contribuíram com parte dos seus salários para criar um "fundo Previdenciário", uma espécie de poupança que lhes deveria garantir uma vida idosa com um mínimo de segurança, bem estar e respeito à sua dignidade de seres humanos que são. Esse dinheiro, portanto, não é do governo, é do TRABALHADOR APOSENTADO.
Segundo princípio: Não são o tal "fardo pesado" porque todas as riquezas do país até então existentes foram produzidas por eles, época em que muitos trabalhadores tiveram seus corpos mutilados em acidentes de trabalho, ou tiveram sua saúde comprometida e ainda quando muitos perderam a própria vida, quase sempre em duras condições no exercício do seu trabalho produtivo. Assim, receber parte dessa riqueza é receber parte do que lhe é devido.
Terceiro princípio: segundo os dados da própria Previdência, são mais de R$ 150 bilhões que são sonegados por grandes empresas, que não repassam à Previdência o dinheiro descontado dos seus funcionários e a parte devida pelas próprias empresas, conforme estabelece a lei burguesa em vigor. Isto não pode ser tratado como mera sonegação. Isto é roubo escandaloso, é crime praticado por essa quadrilha de empresários. E o governo, em vez de exigir o ressarcimento desse roubo, ainda lhes dá sempre novas oportunidades de protelar seu recolhimento, impondo "juros de 0,7%" ao ano...
E depois disso tudo, ainda falam em "rombo na Previdência" como conseqüência dos reajustes da aposentadoria. Reajustes que não são favor ou esmola, mas aos quais os aposentados têm direito inalienável, como coisa sua. Empresários, governo e parlamentares se revelam verdadeiros caras de pau, distorcem a verdade e praticam toda sorte de injustiças com o povo trabalhador.
Que as associações de aposentados não se iludam com as direções das atuais centrais sindicais e muito menos com os políticos de plantão, todos a serviço do capital. "A força da transformação está na organização e na ação popular", lema do 15º Grito dos Excluídos.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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