Novos rumos para o movimento sindical?
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- Waldemar Rossi
- 16/11/2009
Relatório do encontro de sindicalistas ligados à Conlutas e à Intersindical, realizado durante os dias 1 e 2 de novembro, revela que está em marcha a constituição de uma nova central sindical.
Ficam algumas perguntas: surgindo uma nova central, estará assegurado que o sindicalismo brasileiro viverá novos e bons tempos? A nova entidade estará, de fato, comprometida com as lutas históricas dos trabalhadores brasileiros? Será capaz de escapar do "canto da Sereia" do rio de dinheiro que está sendo arrecadado dos salários de todos os trabalhadores com a recente reforma de parte da estrutura sindical? Terão seus dirigentes compromisso com a classe trabalhadora inteira, ou estará restrita aos trabalhadores da economia formal? Como ficam os desempregados, por exemplo?
A resposta pode ser dada pelo próprio relatório do encontro, do qual citaremos algumas partes apenas.
"Nova central de trabalhadores será criada em 2010"
Entidades definem Congresso para reorganizar movimento sindical
Por Otávio Nagoya
"... O principal tema foi a unificação de diversos setores sindicais em uma única central. Estavam presentes entidades representativas dos trabalhadores, entre elas Conlutas, Intersindical, MTST, MTL, entre outras. Ao final do encontro, os participantes decidiram pela realização de um Congresso para oficializar uma nova central sindical. O Congresso da Classe Trabalhadora foi marcado em junho de 2010. Segundo José Maria de Almeida, o Zé Maria, da coordenação nacional da Conlutas, "a chegada do Lula à presidência e o apoio direto da CUT ao governo levou à necessidade de se criar uma alternativa. Isso gerou uma crise entre a atuação dos dirigentes e as necessidades da base".
Foi nesse contexto político que todos os presentes aplaudiram de pé a decisão de criar uma nova central. "Tal construção pode potencializar o enfrentamento ao capital e ao neoliberalismo e estancar a fragmentação que a esquerda socialista vem enfrentando.
Estamos bastante otimistas, mesmo sabendo das dificuldades do processo de unificação. Temos certeza que essa central fará história no Brasil", disse Jorge Luís Martins, o Jorginho, da Intersindical.
Juntamente com os sindicatos, setores do movimento popular também participarão da nova central. Para Helena Silvestre, coordenadora estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), "tanto os movimentos sindicais quanto os populares são parte da classe trabalhadora que sofreu uma precarização terrível. Assim, a participação dos movimentos populares (na Central) é um ganho no sentido da capacidade de representar os problemas da classe conjuntamente, dando uma resposta a tudo que o capitalismo produziu sobre nossas organizações".
Um impasse que ainda não foi resolvido diz respeito à participação de estudantes na nova central. Zé Maria afirma que "a Conlutas é a favor da presença de todas as formas de luta dos oprimidos na sociedade. Achamos que além dos sindicatos, movimentos populares, os estudantes também devem estar presentes". A Intersindical tem outra opinião: "nós entendemos que o movimento estudantil é um setor policlassista e transitório, assim os estudantes devem ser tratados na central como juventude trabalhadora", afirma Jorginho.
Porém, a divergência não será um problema para a unificação dos setores. A decisão sobre a participação dos estudantes será votada pela base dos trabalhadores no Congresso que será realizado em junho de 2010. Na mesma data, os trabalhadores poderão escolher a nova direção da central.
Ao final do seminário, o entusiasmo era visível entre os participantes. "Esse momento tem uma importância histórica. Aqui se cria a possibilidade de superar a fragmentação das organizações da classe trabalhadora no campo da esquerda, aqueles setores que são oposição ao governo Lula", afirmou Zé Maria. Para Helena, a iniciativa tem potencial para intensificar o processo das lutas populares. "Se a gente consegue alcançar mais lugares com um programa só, potencializa o efeito de nossas idéias na base, com disputa ideológica, e isso ajuda a não criar mais confusão na cabeça do povo com a fragmentação", afirma. Jorginho acredita que "as centrais sindicais que existem hoje, infelizmente, cederam à lógica neoliberal. Entendemos que essa nova central vai abrir uma resistência a esse processo de cooptação do governo".
Deliberações principais
* Realização de um Congresso Nacional da Classe Trabalhadora - Conclat para a fundação de uma central de trabalhadores em 4,5 e 6 de junho de 2010.
* Formação de uma Comissão Provisória, com integrantes de 8 organizações, que terá por tarefa organizar os critérios de participação e eleição de delegados .
* Os critérios serão aprovados, bem como a estrutura do congresso em Plenária a ser realizado no Fórum Social Mundial.
* Aprovado a proposta do MTST para definição de critérios de participação de trabalhadores organizados pelo movimento popular.
* Acertado que o Congresso Nacional de fundação da Central decidirá através de votos dos trabalhadores eleitos em assembléias, em critérios a serem definidos, as questões sobre o caráter e natureza da central e ainda em que caso venha a aprovar a participação de estudantes. A representação será apenas simbólica, não ultrapassando de 5% a representação de todos os setores, não permitida nenhuma possibilidade de dupla representação.
* O nome da Central será definido no Congresso de fundação.
P.S: Os interessados em conhecer o relatório por inteiro podem se dirigir por e-mail ao articulista: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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Comentários
Espero que seja o elemento aglutinador que faltava das forças indispensáveis para fortalecimento e embate mais igual com os grupos econômicos que vergonhosamente sugam os recursos de todos.
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