Correio da Cidadania

O que pode acontecer neste 2010?

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As reflexões que vão neste artigo são do final do ano de 2009. Essas reflexões, porém, nem sempre são animadoras, embora sempre desejássemos que assim fosse. Para não cairmos em ilusões vãs é preciso ter os pés no chão e a mente voltada para os fatos, tanto em nível local quanto em nível mundial, porque as coisas se entrelaçam, não caminham separadas. Principalmente os acontecimentos políticos locais têm tudo a ver com as deliberações dos poderosos que comandam o mundo dos negócios.

 

Se não, vejamos. Na segunda quinzena de dezembro, dois fatos importantes para a humanidade foram registrados: o encontro de Roma, onde representantes dos principais países do mundo tratavam dos esforços para diminuir a fome no mundo. O tema foi "Crise alimentar e a fome no mundo".

 

Segundo os dados da ONU (Organização das Nações Unidas – Unidas?), a fome mata 24 mil pessoas por dia - 70% delas são crianças. Por outro lado, no mundo de hoje há mais comida que em qualquer outra época da história da humanidade. Temos 6,7 bilhões de habitantes no planeta e produzimos 2 bilhões de toneladas de grãos, o que significa que é produzido cerca de um quilo de grão por pessoa/dia, amplamente suficiente para alimentar a todos.

 

Enquanto isso, uma criança estadunidense consome o equivalente a 50 crianças africanas; 65% dos famintos vivem em apenas sete países, o que revela uma criminosa e injusta concentração de alimentos nas mãos de uns poucos; segundo a FAO, o mundo precisaria de meros 30 bilhões de dólares por ano para combater a fome, enquanto os governos empregaram 36 vezes essa quantia para atender à "crise" financeira de grandes empresas, ou seja, 1,1 trilhão de dólares. Entretanto, a tal reunião terminou sem nada decidir, dividida e cada país defendendo o seu rico dinheirinho. Para os ricaços, o mundo que se ferre e os miseráveis que morram!

 

O segundo encontro, realizado em Copenhague, foi uma lástima também porque ali estavam presentes nada menos que os presidentes e principais ministros dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Estavam ali para decidir e tomar medidas sérias para diminuir o crescente aquecimento que ameaça a destruição da vida e do próprio planeta. Se a fome não afeta os países ricos na proporção dos países pobres, o aquecimento atinge a todos indistintamente.

 

Ainda assim, depois de muitos pseudo-debates, o encontro terminou em verdadeiro fracasso porque prevaleceu a prepotência dos Estados Unidos, sobretudo, que se julga dono do mundo. "Fracasso. Não há outra palavra à altura do resultado de Copenhague... o maior encontro diplomático de todos os tempos se arrastava para um desfecho inglório, sem nenhum compromisso concreto de redução de emissões (de gases) por parte dos países ricos nem garantia de dinheiro para os pobres". Assim se expressa Herton Escobar, em artigo do Estadão (19/12/2009 – A21).

 

As grandes indústrias, preocupadas em lucros e mais lucros, não abrem mão de explorar a natureza ao máximo, ainda que isto venha a nos destruir a todos. Os governantes não se importam com os bilhões de seres humanos que vivem à míngua nem com os milhões que morrem de fome a cada dia. Logo, o que nos espera em termos mundiais é o crescimento da barbárie, o aumento do sofrimento humano, o caminho da destruição, em nome do lucro imediato!

 

Em termos de Brasil, teremos a possível formação de uma nova Central Sindical, marcada para o início do ano, prometendo ser um antídoto ao peleguismo tradicional e ao novo peleguismo que tomou conta do sindicalismo brasileiro. Peleguismo que se transformou em verdadeira máfia a serviço dos mesquinhos interesses pessoais e de grupelhos de seus dirigentes. Sindicalistas que traem os interesses dos trabalhadores brasileiros, colocando-se como colaboradores do capital. A Nova Central é iniciativa das correntes sindicais que não aceitaram o adesismo oficial e que resistem aos ataques do capital e do governo federal aos direitos dos trabalhadores. Uma esperança, de fato, uma luz no final do túnel.

 

Um bom instrumento de análise está sendo colocado para a nossa reflexão e conhecimento: a Campanha da Fraternidade-2010, assumida neste ano pelas Igrejas ecumênicas. Será um debruçar sobre a Economia e a Vida. Um bom momento para aprimorar um pouco nossos parcos conhecimentos do mundo do dinheiro e das decisões políticas de envergadura.

 

O ano de 2010 será também eleitoral. Estará em jogo a escolha daqueles políticos que irão gerenciar a nação e os estados brasileiros. Encontraremo-nos com os que sempre aparecem como salvadores do mundo, que gastam horas e horas fazendo demagogia em tempos eleitorais, mas que viram as costas para os eleitores tão logo sejam proclamados eleitos. A partir do momento que ocupam seus cargos terão que prestar contas aos seus patrões, os empresários que patrocinaram suas ricas campanhas eleitorais. E o povo, desinformado pela mídia ou despolitizado, irá escolher entre aqueles que o capital lhes oferece para votar: "escolher os menos ruins", porque, de fato, os que têm chances de eleição são os que vêm sendo paparicados pelos grandes empresários.

 

Dizem os analistas (a maioria deles) que o quadro eleitoral ainda não está fechado, que poderemos ter candidatos à presidência da República, aos governos dos estados, ao Congresso Nacional e às assembléias legislativas pessoas com passado e presente que lhes confiram credibilidade. Porém, a nossa já longa história eleitoral revela que esses nenhuma chance terão diante do poderio das ricas campanhas e do apoio da mídia. Ou alguém ainda tem dúvidas de que os candidatos ou candidatas com chances reais de vitória estarão dentro dos tradicionais partidos da burguesia, agora engrossados com a adesão do PT e de seus aliados menores?

 

É diante de um quadro político e econômico nada esperançoso que o povo brasileiro terá que caminhar. Se não quiser caminhar "na corda bamba" terá que usar seu tempo para conhecer com mais afinco a realidade como ela é e não como gostaríamos que fosse; terá de buscar novas formas de organização popular e política, onde possa participar em igualdade de condições e direitos com os demais.

 

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

 

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