A guerra pelo poder ou “semeiam ventos, colhem tempestades”*
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- Waldemar Rossi
- 28/09/2010
Inúmeras mensagens que nos chegam a cada dia pela internet – tanto de defensores do tucanato quanto de defensores do lulismo - procuram mostrar que há banditismo político do outro lado; que seu grupo, e por extensão o seu candidato à presidência da República, está sendo vítima de incríveis injustiças, vítima de difamações que partem dos seus adversários. Para tentar alcançar o trono do Palácio da Alvorada vale tudo!
Não há dúvidas, para as pessoas bem informadas, que os meios de comunicação (a mídia) dão amplas e claras preferências para os tucanos. Entretanto, foi essa mesma mídia quem, a serviço do grande capital, lançou e promoveu os candidatos que estão na crista da onda. Não se tratava de nomes, mas de partidos para que se mantivessem no poder: PT ou PSDB. Os nomes são circunstanciais. Durante vários meses (quase dois anos a fio), os grandes jornais, a TV, o rádio e as revistas de alcance nacional não faziam outra coisa senão induzir o povo a crer e aceitar que haveria disputa entre os tucanos e o lulo-petismo; que fora desses dois grupos políticos não haveria alternativa para o povo.
Depois de muita reclamação de leitores, telespectadores e rádio-ouvintes, eis que o acaso abriu portas para um terceiro agrupamento e uma eventual "zebra" eleitoral: surgiu a Marina, oriunda do PT e no PV ressuscitada para a política como a Fênix que renasce das próprias cinzas. Mas esta é uma candidatura também domesticada pelo capital, em caso impensável dos já escolhidos não vingarem. Já perceberam que as "pesquisas" só falam dos três, embora tenhamos mais seis ou sete candidaturas?
Claro está que os meios de comunicação estão "fazendo o diabo" para tentar reverter o quadro de preferência popular à candidata do Lula, pois é com os tucanos que seus proprietários mais se afinam. Isto não quer dizer que não aceitam Lula e seus prepostos porque, afinal, nunca tiveram tantos privilégios quanto nos últimos anos, e tantos lucros também. Trata-se, pois, de uma luta pelo controle do poder, apenas isto. Mas essa mídia está querendo nos enfiar goela abaixo que os tucanos não são autoritários, que são vítimas!
Ora, quem não se lembra de como FHC gerenciou este país, passando todas as empresas públicas para o capital privado, em escandalosas negociatas? Quem não se lembra que começou também a "privataria" da Petrobrás, que assaltou direitos dos trabalhadores, que deu início ao desmanche da Seguridade Social, que criminalizou os movimentos sociais? Ou será que o povo se esqueceu de quanto os tucanos vêm tungando o povo paulista há 16 anos e reduzindo criminosamente o padrão da Educação e da Saúde públicas, e que Serra - seja como prefeito, seja como governador - vem revelando que é tão autoritário quanto FHC e Lula? Corrupção? Lá quanto cá, quais as diferenças?
Curioso é que ambos os lados – estou falando dos escolhidos com muita antecedência – falam que a outra parte quer acabar com a democracia! Que democracia? Como podem falar em democracia se negam aos demais direitos iguais, se sempre foram autoritários? Portanto, há muito cinismo e "jogo de cena" nessa história toda.
Sobre a questão do autoritarismo do Lula: quem o conhece bem não pode negar que sempre foi autoritário, embora muito bem disfarçado. Desde que ascendeu à direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e da fundação do PT que Lula não deixa por menos: é ele quem manda e pronto. Quem não concordar que se mude! Na CUT, não foi diferente. Desde seu primeiro presidente, Jair Meneguelli, a escolha e imposição foi sua, e assim consecutivamente. Percebeu que tinha carisma e inteligência suficientes para colocar seu projeto de ascensão pessoal pra frente. Conquistou a "esquerda" - órfã de líderes populares -, tornou-se um ídolo e foi impondo sua vontade. No governo, não vem agindo de forma diferente. Faz grandes manobras políticas, compra com favores, corrompe política, ideológica e financeiramente e impõe seu projeto pessoal. Sempre pensou que conseguiria calar todo mundo, até porque tem aliados do mesmo naipe nos três poderes. E a mídia, que sempre lucrou com suas políticas pró-capital, entendeu que deveria disso se aproveitar. E aproveitou. Acontece que, na disputa de poder, essa tão poderosa mídia não conseguiu uma vitória consagradora sobre Lula.
Foram mais de 20 anos tentando demonizá-lo e lançar o povo contra ele. Lula vem dando a volta por cima e, parece, levará a melhor mais uma vez. Será mais uma derrota midiática. Mas não será uma vitória da democracia. Será uma vitória de projeto pessoal contra os verdadeiros interesses do povo que o elegeu, reelegeu e, ao que tudo indica, irá eleger sua sucessora. A pergunta que todos deveriam fazer é: sucessora a serviço de quem? Do povo ou outra vez do nefasto capital?
O autoritarismo de Lula não tem respeitado limites. Seja no seu sindicato de origem, na CUT, no PT ou no governo. Porém, se não tinha adversários à altura nos três primeiros (sindicato, CUT e PT), no governo a coisa muda. Em primeiro lugar, porque, se não fizer a vontade do capital, correrá o risco de sofrer ataques muito mais duros e bem tramados que esses desferidos pela mídia também. Em segundo lugar, porque a mídia tem interesses muito grandes e um descomunal poder de penetração em todos os lares e em todos os espaços públicos. Os pouquíssimos donos dos meios de comunicação são tão ou mais autoritários que Lula e vêm dando as cartas neste país anos a fio, destruindo valores éticos e impondo seus deuses: deuses da exclusão social, econômica, social e cultural. Esses não se calam.
Lula semeou discórdias dentro do sindicalismo, dentro da CUT, dentro do seu partido e vem fazendo o mesmo no governo. Semeou ventanias e vem colhendo tempestades: constantes divisões na CUT, rupturas dentro do partido, rachaduras na composição das forças políticas com as quais se aliou; rupturas com parte do movimento social que garantiu sua ascensão.
Os raios do capital caem constantemente sobre ele para que se enquadre aos seus interesses; raios dos seus adversários porque tenta subjugá-los. Mas deverá sair mais uma vez por "cima da carne seca". Até quando? Muitos déspotas permaneceram no poder político por muito tempo. Mas nenhum deles ficou para sempre. Talvez a única diferença entre aqueles e Lula é que Lula ainda não tem o poder das armas. Esse poder fica com o capital.
O que os nossos eleitores deveriam perceber é que também nestas eleições o povo não será o vitorioso, qualquer que seja o escolhido. A vitória do povo começará a despontar quando conseguir impor pela força da sua organização e mobilização instrumentos de controle popular sobre os meios de comunicação, sobre os governos nas três instâncias (municipal, estadual e federal), com força para decretar cassações. Sem isto, a democracia nada mais é que "democradura" (ditadura com nome de democracia).
(*) Do livro de Oséias 8, 7
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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Comentários
O governante amado e respeitado por 80% dos brasileiros, reverenciado no mundo inteiro é um monstro ditatorial?!
Wawá, tu já fez análise?! Vale a pena, cara, se libertar do Pai.
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