Correio da Cidadania

Os trabalhadores de Jirau e a direção da CUT

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Esperei o desenrolar dos conflitos nas obras da hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, em Rondônia, para escrever sobre eles. Durante esse tempo, o que mais me chamou a atenção foram as declarações e a postura do tesoureiro da CUT Nacional, Vagner Freitas.

 

Segundo reportagem de Lonêncio Nossa (Estadão de 22/03/11, Economia), "enquanto mais de 300 trabalhadores das obras da usina Jirau ainda se amontoavam em alojamentos precários, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) discutia, na manhã de ontem, em um hotel de Porto Velho, o (seu) espaço político no governo e o comando sindical dos canteiros das margens do Rio Madeira".

 

De acordo com o repórter, o representante da CUT Nacional, Vagner Freitas, defendia os interesses do governo pela obra, e não as condições precárias dos trabalhadores, submetidos a péssimas condições de alojamento, além de dezenas de irregularidades nas condições de trabalho e nos salários. Ao defender o retorno dos trabalhos, sem que os graves problemas fossem antes resolvidos e a empresa punida, o representante da CUT nada mais fez que defender os cargos de seus sindicalistas nas esferas do governo - com altos salários - e os criminosos interesses da Camargo Correa e outras empreiteiras associadas à obra.

 

Isto nos parece relevante: diante do trabalho que se aproxima do escravo, da super-exploração da Camargo Correa, os dirigentes da central que nasceu das lutas operárias no final dos anos 70 e início dos 80 se reuniram em hotel preocupados em defender espaços no governo e o controle dos trabalhadores na referida obra. E convidaram os operários a voltarem ao trabalho "com o rabo por entre as pernas". É simplesmente humilhante. É a prática do peleguismo mais deslavado do mundo. Nem o Joaquinzão – de triste memória – faria igual.

 

Enquanto a CUT (assim como a Força, a CSB e outras) faz de conta que defende os interesses dos trabalhadores, engolindo todos os sapos que lhes são impostos, o governo Dilma não se mostrou nem um pouco preocupado com o ganho dos que produzem as riquezas do país. Preferiu pura e simplesmente impor os R$ 545,00 para o Salário Mínimo que, segundo a Lei, deveria estar em torno de R$2.060,00, assim como determinou a intervenção federal nas obras da usina.

 

E as centrais (CUT, Força e outras menores), no caso do Salário Mínimo, simplesmente fizeram jogo de cena, defendendo alguns reais a mais, enquanto barganharam com a presidente seus novos cargos no governo ou nas estatais. Enquanto os partidos da antiga esquerda engoliam a imposição em troca de distribuição de verbas do orçamento da União para atender a seus interesses clientelistas. E a Dilma sabe muito bem como submeter a pelegada às suas determinações.

 

Felizmente os trabalhadores de Jirau mostraram maturidade e continuaram seu enfrentamento com a poderosa construtora - financiadora das milionárias campanhas eleitorais de deputados, senadores, governadores e da presidente. Outras lutas estão pipocando Brasil afora, num sinal de que a paciência e o comodismo dos trabalhadores, ludibriados pelas constantes promessas eleitorais, estão chegando ao seu limite. Vão criando coragem para defender seus direitos e suas vidas. Que se cuidem os novos pelegos! CUT, quem te viu, quem te vê!

 

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

 

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Comentários   

0 #9 Prezada Amanda Benemérita e Betto VieiraRaymundo Araujo Filho 19-04-2011 09:26
Amanda: Creio que a verdadeira esquerda ainda está por vir, visto os sucessivos fracassos e insuficiências das teorias e tentativas de "Tomada ou Gerenciamento do Poder", indicados por alguns manuais. A verdadeira esquerda, penso eu, luta para ACABAR com as relações de Poder na sociedade, e não assumi-las, pois sempre aparecerão os Inspetores Gerais a querer mandar. Peço que reflitas sobre isso.

Betto Vieira: Compartilho contigo o sentimento sobre Waldemar Rossi. Considero-me um sortudo em tê-lo como amigo e interlocutor. Neste 1 de Maio estrei em Sampa, compartilhando o ato na Pça da Sé, e poderei estar pessoalmente no convívio com esta grande figura.
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0 #8 Exemplo.Betto Vieira 16-04-2011 09:36
Não compartilho com a idolatria, apesar de minha formação católica de berço. Mas quando leio os textos do Waldemar sempre sobra um estranho desejo de te-lo como ídolo. Quando o encontro pessolamente como aconteceu na praça da Sé no ato de 1° de maio meu coração dispara e eu mantenho a postura de te-lo apenas como camarada de luta, mas sei que é muito mais é um exemplo de defensor dos pobrs e oprimidos.
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0 #7 Sindicalismo no Brasil HOJEAmanda Benemerita 11-04-2011 16:18
O pelegismo hoje no sindicalismo brasileiro jah virou "lugar comum"!!! Nos trabalhadores da saude em Salvador, e na Bahia como um todo, temos vivenciado bem isso!!! Chega a dar saudade da epoca em que essa "esquerda" era oposicao. Mas retroagir seria um erro tao ou mais grave! Direita: NAO! Pseudo-esquerda: tambem NAO! Quero esquerda de verdade no poder!!!
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0 #6 Edivaldo Jose De Moura PULA PU 10-04-2011 18:44
claramente percebe se que waldemar rossi sabe observar o que pode criticar;sou met tambem cut da base nao tenho a mesma visao de sind cut comodista ;ao contrario de outras centrais oportunistas a cut defendeu por principios pela primeira ves na historia do nosso pais consolido uma politica para o minimo coisa que outras centrais nao fez com collor;itamar;fhc que eram aliadas deles.sobre giral e regime tao escravista que tem que discutir mesmo com o gov pois ela e a contratante da obra e na licitacao ninguem propoe fazer a obra e que vai escravizar a mao de obra e no governo que tem o poder de acertar a situaçao ou romper com o contrato isso sim e sindicalismo autentico ;agora a igreja ta em giral primeiro que os trabalhadores e nao foi a igreja que denunciou.vc tem de cobrar do seu seguimento de organizaçao.nao criticar a cut muito menos o vagner bancario e tesoureiro da cut;que transformou as reivindicaçoes em pauta e vai discutir com o gov. se vc e es metalurgicos deve estar lembrado de quantas conquistas vc teve com a cut e nao precisou fazer greve e que o resto de trabalhadores por este pais nao teve ainda
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0 #5 Os Trabalhadores de Jirau e a Direção Davaleria maurício 10-04-2011 16:21
Companheiros
Já faz tempo que os Sindicatos não cumprem com a sua função,preferem tomar atitudes que os favoresam,principalmente no aspecto financeiro.Não é de se admirar num país
onde o dinheiro se sobrepõe sobre a cidadânia e os direitos humanos.
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0 #4 Trabalhadores da Jirau e CutNilson Ribeiro do Nascimento 10-04-2011 13:19
A new pelegada brasileira hoje é comandada pelo PT, que decepçao.
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0 #3 Quatro FrasesRaymundo Araujo Filho 10-04-2011 08:43
1) "Foi uma ação criminosa, isolada por um grupo de vândalos" - De um alto capataz da empreiteira Camargo Correia.

2) "Tem que voltar a trabalhar, eu sou brasileiro e quero ver esta obra funcionando" - Vagner (Love?) Freitas, dirigente da CUT, ao jornalista Leonêncio Nossa

3)"Às favas, os escrúpulos" - O então coronel Jarbas Pasasarinho, na assinatura do AI5, como se soubesse o que é ter escrúpulos...

4) "Não me importa que a mula manque, o que eu quero é rosetar" - Expressão popular do nordeste, imortalizada em música de sucesso.

Fecha o pano!

Valeu, Waldemar!

2)"Todos têm de voltar ao trabalho, pois o Brasil precisa
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0 #2 renato machado 08-04-2011 16:41
Como sabemos , a CUT e o PT estão mortos para a luta pela emancipação dos trabalhadores. Talvez essas instituições tenham tido um profundo vício de origem : a forma anacrônica e ultrapassada de organização dos trabalhadores.
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0 #1 É isso aí.Mário Maestri 07-04-2011 13:12
A esquerda marxista e classista deve se desdobrar para apoiar essas lutas heróicas, nos cafundós do Brasil. Parabéns ao companheiro Waldemar Rossi, por seu incansável trabalho de divulgação, comentário e apoio aos trabalhadores brasileiros
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