Os trabalhadores de Jirau e a direção da CUT
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- Waldemar Rossi
- 06/04/2011
Esperei o desenrolar dos conflitos nas obras da hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, em Rondônia, para escrever sobre eles. Durante esse tempo, o que mais me chamou a atenção foram as declarações e a postura do tesoureiro da CUT Nacional, Vagner Freitas.
Segundo reportagem de Lonêncio Nossa (Estadão de 22/03/11, Economia), "enquanto mais de 300 trabalhadores das obras da usina Jirau ainda se amontoavam em alojamentos precários, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) discutia, na manhã de ontem, em um hotel de Porto Velho, o (seu) espaço político no governo e o comando sindical dos canteiros das margens do Rio Madeira".
De acordo com o repórter, o representante da CUT Nacional, Vagner Freitas, defendia os interesses do governo pela obra, e não as condições precárias dos trabalhadores, submetidos a péssimas condições de alojamento, além de dezenas de irregularidades nas condições de trabalho e nos salários. Ao defender o retorno dos trabalhos, sem que os graves problemas fossem antes resolvidos e a empresa punida, o representante da CUT nada mais fez que defender os cargos de seus sindicalistas nas esferas do governo - com altos salários - e os criminosos interesses da Camargo Correa e outras empreiteiras associadas à obra.
Isto nos parece relevante: diante do trabalho que se aproxima do escravo, da super-exploração da Camargo Correa, os dirigentes da central que nasceu das lutas operárias no final dos anos 70 e início dos 80 se reuniram em hotel preocupados em defender espaços no governo e o controle dos trabalhadores na referida obra. E convidaram os operários a voltarem ao trabalho "com o rabo por entre as pernas". É simplesmente humilhante. É a prática do peleguismo mais deslavado do mundo. Nem o Joaquinzão – de triste memória – faria igual.
Enquanto a CUT (assim como a Força, a CSB e outras) faz de conta que defende os interesses dos trabalhadores, engolindo todos os sapos que lhes são impostos, o governo Dilma não se mostrou nem um pouco preocupado com o ganho dos que produzem as riquezas do país. Preferiu pura e simplesmente impor os R$ 545,00 para o Salário Mínimo que, segundo a Lei, deveria estar em torno de R$2.060,00, assim como determinou a intervenção federal nas obras da usina.
E as centrais (CUT, Força e outras menores), no caso do Salário Mínimo, simplesmente fizeram jogo de cena, defendendo alguns reais a mais, enquanto barganharam com a presidente seus novos cargos no governo ou nas estatais. Enquanto os partidos da antiga esquerda engoliam a imposição em troca de distribuição de verbas do orçamento da União para atender a seus interesses clientelistas. E a Dilma sabe muito bem como submeter a pelegada às suas determinações.
Felizmente os trabalhadores de Jirau mostraram maturidade e continuaram seu enfrentamento com a poderosa construtora - financiadora das milionárias campanhas eleitorais de deputados, senadores, governadores e da presidente. Outras lutas estão pipocando Brasil afora, num sinal de que a paciência e o comodismo dos trabalhadores, ludibriados pelas constantes promessas eleitorais, estão chegando ao seu limite. Vão criando coragem para defender seus direitos e suas vidas. Que se cuidem os novos pelegos! CUT, quem te viu, quem te vê!
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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Comentários
Betto Vieira: Compartilho contigo o sentimento sobre Waldemar Rossi. Considero-me um sortudo em tê-lo como amigo e interlocutor. Neste 1 de Maio estrei em Sampa, compartilhando o ato na Pça da Sé, e poderei estar pessoalmente no convívio com esta grande figura.
Já faz tempo que os Sindicatos não cumprem com a sua função,preferem tomar atitudes que os favoresam,principalmente no aspecto financeiro.Não é de se admirar num país
onde o dinheiro se sobrepõe sobre a cidadânia e os direitos humanos.
2) "Tem que voltar a trabalhar, eu sou brasileiro e quero ver esta obra funcionando" - Vagner (Love?) Freitas, dirigente da CUT, ao jornalista Leonêncio Nossa
3)"Às favas, os escrúpulos" - O então coronel Jarbas Pasasarinho, na assinatura do AI5, como se soubesse o que é ter escrúpulos...
4) "Não me importa que a mula manque, o que eu quero é rosetar" - Expressão popular do nordeste, imortalizada em música de sucesso.
Fecha o pano!
Valeu, Waldemar!
2)"Todos têm de voltar ao trabalho, pois o Brasil precisa
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