Os dados do censo e a real vida do povo
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- Waldemar Rossi
- 18/07/2007
Alguns meios de comunicação social tentam nos passar a idéia de que as desigualdades sócio-econômicas vêm diminuindo no Brasil. Durante os primeiros meses deste ano, até os membros do governo federal arrotaram tais dados, ocultando a verdade sobre a miséria, que continua avançando e invadindo os lares do povo trabalhador. Já nos dois anos anteriores, esta coluna chamava a atenção para as mentiras e meias verdades constantes dos pronunciamentos oficiais e o papel enganador exercido pela mídia, procurando ocultar ou justificar os escandalosos lucros das grandes empresas, especialmente dos bancos nacionais e internacionais que aqui operam.
Gabriel Ulyssea, pesquisador do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) do Ministério do Trabalho, revela que apenas 10 entre 100 brasileiros detêm 80% da renda nacional, isto é, 80% de todas as riquezas que são produzidas no país. Logo, os outros 20% são distribuídos pelos 90% dos demais viventes desta terra. Mas, aí há que fazer outras tantas sérias diferenciações. Por exemplo, os 52 milhões de brasileiros que estão abaixo da linha da pobreza – leia-se miséria - abocanham tão somente aquilo que resta das feiras, dos lixões, das bolsas-escola, dos atos misericordiosos de tantos cidadãos sensibilizados pela fome reinante. Ou seja, nada recebem das riquezas que ajudaram ou ajudam a criar. Há ainda os que trabalham e que têm suas rendas situadas abaixo de dois salários mínimos, e estes beiram os dois terços da população que está na ativa, segundo dados do IBGE de 2006.
Entre os 90% que ficam com 20% das riquezas há também uma pequena parcela que recebe acima de 46 mínimos mensais, como no caso dos “heróis” do Lula, os ministros, que recebiam (já sofreu aumento) salários líquidos de R$ 17.500. Há ainda os juízes e ministros da Justiça, os deputados e senadores, todos eles incluídos nesses 10% de “pobres”.
Assim, mesmo entre aqueles que não fazem parte dos multimilionários, existe uma parcela que devora boa parte do que aparece como sendo distribuído entre todos os demais. Pode-se concluir, portanto, que existem dezenas de milhões que permanecem e morrem na miséria; existem outras dezenas de milhões que sobrevivem, mas estão na linha da pobreza, padecendo enormes carências; há os que se beneficiam dos favores do poder e há os que são os verdadeiros sanguessugas que proliferam por estas terras de Santa Cruz, graças aos favores da lei que abrem enormes brechas em favor dos poderosos.
Outro detalhe importante a conhecer e aprender a diferenciar é que, numa população de 180 milhões de pessoas, apenas 130 mil possuem uma riqueza acumulada de R$ 573 bilhões, mais da metade do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, tornando-se os mais ricos de toda a América Latina (dados da Receita Federal), segundo a Folha de S. Paulo de 15 de julho. Ora, esses 130 mil são bem menos que os 10% mais ricos já citados. Portanto, concentração ainda maior, desigualdade crescente e não decrescente.
Quando o IBGE e outros órgãos de pesquisa oficial fazem seus levantamentos recebem de volta as declarações dos entrevistados. Ora, os dados fornecidos não correspondem à realidade dos fatos porque a imensa maioria dos ricaços sonega a verdade, seja para se livrar do Fisco pagando menos imposto, seja por medo da violência que se alastra no país, segundo Ulyssea, em comentário de Clóvis Rossi de 17 de julho. Portanto, a riqueza de um punhado de privilegiados é bem maior do que têm arrotado a mídia e membros do governo, assim como é maior ainda a desigualdade.
Estamos sendo nivelados por baixo, gota a gota, até que a maioria da população seja jogada no fundo do poço da miséria e da amargura. Nossas esperanças de que esse estado de coisas comece a mudar se fundam no amadurecimento, embora lento, da consciência crítica e da mobilização das forças sociais organizadas. Os protestos continuam a crescer por toda parte do país e sua tendência não é de arrefecer, muito pelo contrário.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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