Avanço da corrupção e do neoliberalismo no Brasil
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- Waldemar Rossi
- 28/09/2007
cada semana que passa, o brasileiro que acompanha a vida política nacional percebe que tanto a corrupção quanto o processo neoliberal avançam impunemente em nosso país. São acontecimentos amplamente divulgados pela mídia, mas com dupla interpretação.
A corrupção oficial é denunciada como crime contra o povo pela mídia, que se apresenta para o público como defensora da ética e, neste caso, sem dúvidas, contribuindo para que a baixaria praticada por “representantes do povo” venha a público, seja do conhecimento nacional. Tal fato vem gerando o crescimento da decepção, da descrença popular nas instituições nacionais. Se já não bastassem as sacanagens praticadas pelos deputados e senadores nos casos do “mensalão”; dos “sanguessugas”; das compras de votos dos congressistas para que aprovem reformas nocivas ao povo - mas favoráveis ao grande empresariado; se não bastasse a corrupção e a dramatização do caso Renan Calheiros, que terminou obviamente em “pizza” – fato que paralisou o Senado por cerca de dois meses -, agora entra em cena midiática um novo dramalhão, que envolve os tucanos, inclusive seu chefe mor, o FHC, finalmente também envolvidos nessa história do “valérioduto”, conforme denúncias de um outro tucano, portanto de um correligionário e não de um opositor.
E isso vai ocupar a vida do Congresso Nacional (e do Executivo) por mais alguns meses - mantendo-o inócuo como de costume. O povão será entupido de falsos debates, de denúncias e desmentidos, de justificativas que nada justificam, procurando mostrar que, de fato, lá em cima quase todos se igualaram na baixaria, enquanto que os verdadeiros planejadores e manipuladores dessa canalhice são mantidos ocultos: os agentes a serviço do capital, os corruptores por excelência. Porém, essa manipulação das informações é feita com tal manha, com tal picardia que o povo vai se acostumando e se adaptando à realidade e a considerando normal, pois “todos fazem e sempre fizeram”.
Essa postura popular interessa ao capital, já que lhe permite “arranjar”, armar uma disputa entre partidos e grupos, cada um falando mal do outro, cada um procurando dizer ao povo que é menos corrupto, que é melhor opção para governar o país. Assim, mesmo decepcionados, os eleitores vão de eleições em eleições escolhendo os supostos “menos ruins”, o mal menor para futuros governantes, beneficiando os poderosos.
Por outro lado, a mídia revela também fatos indicativos de como a política neoliberal vai tomando conta do país. Porém, o faz como fato altamente positivo para a Nação, procurando “incucar” no povo que esses avanços são necessários e possibilitarão o desenvolvimento do país, para que haja crescimento da economia, para que a população possa, um dia talvez, ter sua vida melhorada. Como exemplos mais recentes, temos o discurso de Lula na ONU tentando “vender” a idéia de que a saída energética para o mundo industrial é o etanol, aquele etanol (álcool) que o Brasil será capaz de produzir em escala para consumo mundial e que irá diminuir os índices de poluição da atmosfera.
Essa obsessão lulista é de importância estratégica para a indústria brasileira do álcool, que vê na exportação massiva do etanol o crescimento abusivo dos seus lucros. Do seu lado, o governo vê na possível entrada de dólares a grana necessária para “cumprir” os compromissos com os serviços da dívida. Enquanto Lula tenta convencer governos a investir na cana brasileira, o Ministério do Trabalho (através da Secretaria de Inspeção do trabalho) suspendeu por tempo indeterminado as ações do Grupo Especial de Fiscalização Móvel, responsável pelo combate ao trabalho escravo no país, pois as inspeções revelam a existência desse tipo de trabalho, especialmente nas fazendas produtoras de cana. Tal revelação poderia criar ressalvas na ONU.
Assim, um ministério de Lula cede à pressão da bancada ruralista (deputados e senadores ligados ao latifúndio), cometendo mais um crime hediondo contra os trabalhadores. Curiosamente a mídia foi omissa ante esse caso. Em contrapartida, faz loas aos trabalhos para a transposição do rio São Francisco (destinada à produção do agronegócio), sobre as leis que permitirão privatizar a Amazônia, transformado-a também num imenso canavial. E assim, de gomo em gomo, como na fabricação da lingüiça caseira, o Brasil vai sendo jogado no colo do neoliberalismo.
E nisso está o farisaísmo midiático: usa dois pesos e duas medidas, conforme os interesses do capital, principalmente do capital internacional. No caso da corrupção, interessa denunciar para domesticar os governantes corruptos e garantir que eles continuem no pseudo-poder, porém fazendo a vontade dos que lhes financiaram e financiam as campanhas eleitorais: o capital todo poderoso. No caso da entrega do país para o capital neoliberal, engana o povo mal informado, convencendo-o que mais adiante há uma linda ponte para a felicidade e não um abismo para o inferno.
E tem gente que não quer enxergar o desastre total que se avizinha e se acomoda defendendo o indefensável!
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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