Correio da Cidadania

Perspectivas para o ano da copa e das eleições gerais

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Ao que tudo indica, a chegada do novo ano deverá nos trazer algumas surpresas agradáveis e muitas nem tanto. O que realmente pode interessar ao povo trabalhador (ou seja, para a imensa maioria dos brasileiros) se não as políticas públicas nas áreas da economia e do social? Pois todos sabemos que elas dizem respeito à qualidade de vida de todos nós.

 

Entretanto, até agora, a política econômica tem sido aplicada, em larga escala, tão somente para atender aos interesses do grande capital (nacional e internacional). Nos últimos dez anos, porém, vem restando alguns míseros reais para a área social, visando constituir um “moderno curral eleitoral” entre os famintos desta terra primaveril, destinação de magro dinheirinho que apenas atenua a intensidade da fome, mas que deixa de lado as reformas estruturais que tirariam essa multidão da miséria endêmica, abrindo-lhes espaços para encontrar sua própria caminhada de trabalho, adulta e livre, em busca de vida com alguma dose de felicidade. Mas isto não garante retorno eleitoral, então não interessa aos governantes e políticos de carreira.

 

Comparemos os dados apenas dos últimos 10 anos do “governo dos trabalhadores”:

 

FHC deixou uma dívida pública (interna e externa) de R$ 2,079 trilhões, dívida que agora pulou para cerca R$ 3,7 trilhões. Quase dobra a dívida anterior. No mesmo período, ou seja, nos últimos 10 anos, Lula e Dilma remeteram para os banqueiros “credores” mais R$ 4,763 trilhões. Enquanto faltou dinheiro para a saúde, a educação, o saneamento básico, o transporte coletivo. Outro pequeno exemplo: o Orçamento Federal de 2012 reservou R$ 752 bilhões para os serviços da dívida (que favorece cerca de 10 mil “credores”), enquanto reservou R$ 348 bilhões para a Previdência, que beneficia aproximadamente 28 milhões de brasileiros trabalhadores (*).

 

Se levarmos em conta outras medidas adotadas pelo governo federal, veremos que essa política não mudará de rumo, apenas se intensificará. De um lado, Dilma precisa novamente se mostrar confiante aos banqueiros nacionais e internacionais, chamados de credores, aos governos norte-americano e europeus (diante dos quais tem se mostrado subserviente), do empresariado em geral e até dos latifundiários, inimigos históricos do PT, do MST e do movimento social em geral. Dilma e seus padrinhos políticos têm necessidade de garantir as obras superfaturadas (escandalosamente) dos estádios para o circo do futebol, têm compromisso com a sequência das privatizações dos portos, aeroportos, estradas de ferro e de rodagem, entre tantas outras.

 

Acontece, porém, que parcela significativa do povo, sobretudo as gerações mais jovens, já não se deixa enganar com a mesma intensidade. Essas novas gerações, até então duramente reprimidas, querem ocupar seus espaços sistematicamente negados; querem viver seu protagonismo político, querem começar a decidir o que é bom para o povo, recusando a política do que é bom para os Estados Unidos e os banqueiros, política praticada ao longo de mais de um século pelos políticos lambe-botas do imperialismo.

 

Ao que tudo indica, as manifestações ocorridas em junho de 2013 deverão ser retomadas em 2014, porque o sabor da saudável e justíssima rebeldia vem alimentando o ânimo de nossa juventude, ânimo que tende a crescer à medida que cresce a desilusão com a politicalha reinante, que aumentam a injustiça, a corrupção, a mentira deslavada, a insegurança e a falta de perspectivas de vida feliz e segura. Há indicativos de que a realização da Copa do Mundo será levada em conta, ocasionando amplos protestos contra tamanha bandalheira com o dinheiro público, em troca da ilusão do espetáculo passageiro e que deixará uma dívida pública ainda mais amarga e indigesta. A pergunta que ecoará, possivelmente, será: “Copa para quê e para quem?”. Outros slogans deverão pipocar pelas ruas de nossas cidades.

 

Fenômeno semelhante deverá ocorrer entre os trabalhadores dos vários setores da vida nacional. Greves poderão pipocar entre os trabalhadores da Construção Civil, seja pelas péssimas condições de trabalho, seja pelos salários miseráveis, ou pelo excesso de horas trabalhadas, ou ainda pelos acidentes e mortes que vêm afetando o setor. Mobilizações deverão ocorrer envolvendo o funcionalismo público (federal, estaduais e municipais), bancários, professores, no transporte público e entre os operários das indústrias, apesar da acomodação da maioria das direções sindicais apelegadas.

 

Além disso, teremos, mais uma vez, eleições nacionais e estaduais em que estarão concorrendo antigos e novos representantes do poder econômico, com as promessas e engodos costumeiros, com muito dinheiro rolando por aí, contando com o patrocínio da mídia capitalista. É bem possível que as desilusões se manifestem também pelas eleições, fazendo crescer o número de abstenções, de votos brancos e especialmente dos nulos, votos que simbolizam o crescimento progressivo da consciência popular.

 

De qualquer forma, não se pode esperar nada de positivo do processo eleitoral, viciado, corrompido e de “cartas marcadas” pela banca do capital.

 

(*) Fontes: Jubileu Brasil, Auditoria Cidadã da Dívida, dados do Ministério da Fazenda/Banco Central.

 

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

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