Brasil, um caminho para o abismo. Sem volta?
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- Waldemar Rossi
- 18/01/2014
Dados oficiais revelam que o país caminha a passos largos para o abismo total no campo da economia e do social.
Depois de longos anos afirmando que o Brasil estava no caminho certo, Guido Mantega, Ministro da Fazenda, vem se desdobrando para explicar ao povo que, de fato, o país não estava no caminho que deveria ter seguido. As importações crescem em ritmo acelerado em prejuízo das exportações e, pior, em prejuízo do desenvolvimento industrial e agropecuário independentes. Os governos petistas de Lula e Dilma – símbolos maiores das esperanças populares – preferiram dar sequência à desnacionalização da nossa economia, iniciada com a ditadura militar e prosseguida com a “ditadura” civil de Sarney, Collor de Mello e, sobretudo, do tucano Fernando Henrique Cardoso.
Entretanto, há ao menos uma diferença com os governos militares: seus governos incentivaram as exportações, gerando sempre o superávit na balança comercial, até porque precisavam dos dólares para pagar os compromissos com a Dívida Externa. Com isso, deixavam a impressão de que tudo caminhava bem na área econômica, ao menos pelos 10 primeiros anos dessa política entreguista. Nos chamados governos civis, optou-se por seguir a cartilha do “Consenso de Washington” que exige privatização a rodo, abertura para a entrada do capital internacional até nos serviços essenciais e substituição progressiva das exportações pelas importações, favorecendo o comércio das grandes potências econômicas.
Esta política de importação ganhou força nos governos petistas e coloca o país na rota da bancarrota ou da entrega total das nossas reservas de riqueza, inclusive de nossa tão preciosa água potável. Assim vão nossas terras, nossas jazidas minerais e de petróleo, nossa biodiversidade, bancos nacionais, portos, aeroportos, estradas de ferro e de rodagem, tudo porque o país não consegue pagar e não quer promover a tão esperada ruptura com a agiotagem nacional e internacional, libertando o Brasil dessa prisão financeiro-econômica criminosa e selvagem.
O saldo negativo brasileiro na área industrial, por exemplo, somente no ano de 2013, atingiu a marca incrível de US$ 105 bilhões (acima, portanto, de 210 bilhões de reais). O que revela ser um dos graves erros de todos os nossos governantes de apostar quase tudo nos investimentos externos em nosso país. Cada um deles, dentro de sua mediocridade política de só olhar a economia em curtos espaços de tempo, revela não ter competência para pensar e organizar a economia do país com uma estratégia de médio e longo prazo, que venha gerar nossa real independência.
Tais políticos, descomprometidos com o povo, visam apenas resultados imediatos em favor do seu populismo e do continuísmo político – pois os resultados em curto prazo iludem a maioria da população que também não consegue ver “um palmo à frente do seu nariz”. Um dado novo, na linha do mesmo exemplo, é o rombo na balança comercial industrial que atingiu os US$570 milhões, apenas nas duas primeiras semanas de 2014. Em qual abismo iremos parar?
Enquanto o governo procura “socorrer” a indústria automobilística que reclama dos seus já monstruosos lucros, favorecendo-a com gordos incentivos fiscais (que recaem indiretamente nas costas do povo), faz questão de fechar os olhos para o caos que domina a vida do povo brasileiro. Nem os militares nem os civis que chegaram ao governo tiveram a dignidade de corresponder aos desafios a que se propuseram enfrentar, não estavam e não estão afim de romper com as estruturas geradoras da exclusão, permanecendo alheios aos sofrimentos do povo que os elegeu.
Enquanto favorecem construtoras, punem moradores/trabalhadores com a expulsão de áreas onde moram há décadas, jogando-os literalmente na rua; enquanto favorecem o agronegócio, os latifundiários e grileiros, viram as costas para a população ribeirinha, indígena, quilombola, de pequenos proprietários rurais, todos eles mantidos sob a mira das armas dos pistoleiros e ou assassinados impunemente; enquanto favorecem empresas dos vários ramos da indústria com os tais incentivos fiscais, deixam de aplicar o dinheiro arrecadado do povo nas áreas essenciais da saúde, da educação, da moradia popular, do transporte coletivo, do saneamento básico, da reforma agrária.
A cada dia, o noticiário invade nossos lares revelando o caos que toma conta de nossas cidades e campo: roubos, assaltos, invasão de domicílios, assassinatos comuns por questões banais, assassinatos entre bandidos comuns e bandidos das várias polícias estaduais, execuções, assassinatos de indígenas e camponeses, crescimento incontrolável do tráfico de drogas e de pessoas, corrupção que toma conta dos poderes federais, estaduais e municipais, desemprego que oscila para baixo e para cima a cada mês numa, verdadeira ciranda da rotatividade da mão de obra que gera desconforto e insegurança familiar, achata o padrão de vida do povo mais carente, enquanto aumentam os ataques aos direitos do povo trabalhador.
É dentro desse quadro tétrico da vida nacional que dirigentes das centrais sindicais, revelando seus compromissos escusos com setores da política nacional corrupta e corruptora, vêm reassumindo publicamente seus compromissos com partidos e candidaturas ao governo federal e aos estaduais, deixando de lado seu compromisso popular. Infelizmente já não causam estranheza as declarações, por exemplo, do presidente da CUT, Vagner Freitas, dizendo que “estará com Dilma, mas cobrará respostas à classe trabalhadora”, como se Dilma não tivesse dado “bananas” para as centrais e para o conjunto dos trabalhadores!
Não tendo entre os partidos e entre os potenciais candidatos ninguém realmente comprometido com o povo brasileiro, sabendo que todos eles receberão muita grana do capital financeiro, industrial comercial e agrário, e que esse capital cobrará retorno aos seus investimentos; não tendo ao lado do povo entidades e organizações populares fortes o suficiente para exigir mudanças radicais neste país, se torna possível enxergar que continuaremos, no curto prazo, a caminho do precipício a que estamos sendo conduzidos por falta visão e de caráter dos políticos e por desinformação total do nosso povo.
Resta-nos a esperança de que movimentos populares como o MPL, e outros que venham surgir, contribuam para o crescimento da consciência política e da organização independente das novas gerações; que professores conscientes contribuam para o despertar crítico da juventude; que a Igreja de Francisco se abra aos apelos que o papa vem fazendo para que entenda os sinais dos tempos, que acorde do adormecimento em que foi jogada nas últimas décadas e fortaleça a ação promotora da libertação dos cristãos, e que estes seunam ao povo batalhador em busca mudanças profundas das estruturas que vêm gerando a miséria e o caos.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.