Maio também pode ser vermelho
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- Fernando Silva
- 21/04/2007
No próximo dia 26 de abril ocorre em São Paulo nova reunião do Fórum Nacional de Mobilização contra as reformas neoliberais. Na pauta, a preparação do 1º de maio e do dia nacional de luta em 23 de maio, para unir em uma mesma jornada de ação as reivindicações dos trabalhadores, sem-terra, estudantes, movimentos populares, como de moradia, entre outros.
O Fórum Nacional é produto direto do Encontro Unitário realizado no dia 25 de março. Sua composição expressa o conjunto de setores representativos dos movimentos sindical, popular e estudantil que se propuseram a construir uma frente unitária de resistência contra a agenda do grande capital, dos governos federal e estaduais.
O diálogo e abertura que o Fórum tem mantido com vários outros setores dos movimentos sociais, como o MST, está se consolidando no avanço em uma agenda e em um novo patamar de unidade, diante de um também novo momento da conjuntura política nacional que está se abrindo no segundo mandato do governo Lula.
Tal cenário está sendo marcado por:
a) Um giro ainda mais conservador do governo Lula, expresso na sua aliança para compor um governo de coalizão nacional dos de cima, na manutenção da política econômica voltada para o pagamento da dívida, por uma maior aproximação com os interesses da agenda do governo Bush e pela perversa política de realizar ataques estruturais e amplos sobre os direitos dos trabalhadores.
b) Uma ampla reorganização nos movimentos sociais, que rejeitam cada vez mais a condição de verem suas entidades se transformarem em meros apêndices da agenda governista e do Estado.
c) Um incremento de lutas de resistência, ainda que setorizadas, contra o atual estado de descalabro, lutas que abarcam as questões mais elementares relativas aos direitos dos trabalhadores até as mazelas na infra-estrutura do país, como na recente ação dos controladores de vôo.
Está aí o abril vermelho, com o centro nas ações dos sem-terras, mas que comporta também ocupações de terreno urbano na luta pela moradia, campanhas salariais com assembléias, marchas e passeatas de inúmeras categorias do serviço público pelo país e as paralisações setoriais de metroviários e metalúrgicos.
Não é casual que tal quadro político preocupe (e muito) alguns dos arautos do governismo, como o ex-ministro José Dirceu, que em seu blog tem atacado freqüentemente o Fórum Nacional de Mobilização, além de mostrar enorme preocupação com o MST e a Corrente Sindical Classista, por terem participado na condição de observadores do Encontro Unitário de março.
Mas os argumentos do ex-ministro não têm correspondido ao que realmente tem acontecido no país sob o atual governo. Por exemplo, em artigo datado de 13/04, José Dirceu acusa os articuladores do Fórum Nacional de estarem “pautados por uma agenda inexistente, contra projetos fantasmas ou idéias apenas especuladas em certos círculos”. (1)
Então ficamos assim caro leitor: a aprovação da super-receita, o debate público e notório em torno de uma nova reforma previdenciária com eixo na ampliação da idade mínima, o acordo em curso do governo brasileiro com Bush em relação ao etanol, a regulamentação do direito de greve, o congelamento decenal do reajuste do salário mínimo e a garfada no FGTS, ambos previstos no PAC, o desmonte da educação e saúde públicas e da infra-estrutura do país não existem, isto não está acontecendo, é apenas produto de uma suposta imaginação sectária de milhares e milhares de ativistas e lutadores sociais...
No mundo real, o que estará em pauta na reunião do Fórum Nacional de Mobilização e no diálogo com setores como o MST é colocar em prática uma jornada que permita construir de forma unificada a resistência para barrar essa agenda brutal de desesperança contra os trabalhadores.
O primeiro passo é fazer de maio, a partir do dia 1º e com especial ênfase na construção da jornada do dia 23, mais um mês vermelho nesse nosso calendário de luta pelos direitos e reivindicações legítimas de todos os trabalhadores e trabalhadoras.
(1) Uma polêmica necessária, José Dirceu, 13/04/07.
Fernando Silva é jornalista, membro do Diretório Nacional do PSOL e do Conselho Editorial da revista Debate Socialista.
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