Correio da Cidadania

Inflação volta e penaliza os mais pobres

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A recente divulgação do novo crescimento do PIB brasileiro no 1º trimestre, na comparação com o mesmo período do ano anterior, não esconde os efeitos que a mudança do cenário internacional econômico começa a produzir sobre o Brasil.

 

Efeitos que evidenciam gargalos e contradições que tendem a se agravar, ainda mais se considerados os "remédios amargos" que o próprio presidente da República admite "receitar".

 

A volta da inflação e suas conseqüências é o mais imediato destes fatores. A inflação já era uma nova realidade desde o início do ano, especialmente quando os números de março já comprovavam um estouro nas metas estabelecidas pelo governo, ultrapassando a barreira dos 5% no período de 12 meses.

 

A má notícia para os trabalhadores foi a recente divulgação de índices que comprovam um aumento extraordinário da inflação para as camadas mais pobres da população: 6,84% apenas este ano e um acumulado de 8,24% em 12 meses!

 

Por sua vez, o Dieese divulgou que os preços da cesta básica tiveram aumentos brutais, muito acima da inflação, chegando a índices como 46,55 % em regiões metropolitanas como Recife para um período de 12 meses!

 

Ou seja, a crise da inflação das commodities, centralmente dos alimentos e do petróleo, atinge em cheio os mais pobres e derruba mitos, como o de que o Brasil, por sua ampla produção de alimentos, sua localização como grande exportador de commodities agrícolas e sua quase auto-suficiência na produção de petróleo, estaria imune ao contágio desta situação.

 

A lógica é simples, pois o modelo brasileiro é o da agroindústria exportadora, voltada para buscar grandes lucros no comércio internacional, mas também totalmente vulnerável às turbulências do mercado internacional, como as conseqüências da recessão na economia norte-americana, ou os choques especulativos, como agora parece ocorrer na já chamada "bolha das commodities".

 

Note-se que ainda não estão claros os desdobramentos na economia por conta da crise dos preços do petróleo, que para alguns analistas já é caracterizada como a etapa do 3º choque do petróleo. Ao que parece, o seu inevitável efeito de contágio no conjunto da economia e na inflação geral não é devidamente contabilizado, especialmente na otimista e falastrona propaganda governamental. Mas já não foi nada animador saber que o gás natural consumido no estado de São Paulo aumentou 18% no final de maio.

 

Remédios amargos e reação dos trabalhadores

 

Porém, como nada, nenhum centímetro de mudança, pode ocorrer na ortodoxa política econômica para proteger o povo e a corrosão dos salários, o Banco Central aumentou novamente as taxas de juros. É por onde, assumidamente, as autoridades governamentais esperam poder, até o final do ano, reduzir a alta inflacionária.

 

Não está brincando o presidente Lula quando diz que os remédios serão amargos. Apenas se esqueceu de acrescentar que serão amargos para os trabalhadores e as classes médias, não para o grande capital e o mercado financeiro.

 

Para conter a inflação, aposta-se no freio do consumo, no estrangulamento do crédito. E isso em uma economia movida nos últimos anos a crédito barato para dinamizar o consumo. Mas agora, teremos no horizonte de médio prazo a insegurança e o perigo das conseqüências de um endividamento da população, especialmente para os que estão amarrados aos créditos consignados (empréstimos que são cobrados diretamente na folha de pagamento).

 

A combinação de inflação com tendência de aumento dos juros, em uma economia sem quaisquer mecanismos de defesa da corrosão do poder aquisitivo, está na raiz do crescente ciclo de greves e mobilizações de diversas categorias da classe trabalhadora, como nas recentes greves em diversos estados no setor de transporte, da construção civil e agora dos trabalhadores terceirizados em algumas refinarias da Petrobrás.

 

Ainda que este aumento de lutas salariais não esteja coordenado ou articulado de forma unificada, até porque as grandes e tradicionais centrais sindicais do país estão no marco da cooperação com o governo, os movimentos grevistas da classe trabalhadora devem crescer diante desta nova realidade e de um segundo semestre no qual ocorrerão diversas campanhas salariais de importantes setores.

 

Uma legítima resposta com as tradicionais armas de luta e contestação que tem a classe trabalhadora, para se defender e tentar impedir que sejamos penalizados por mais esta crise.

 

Fernando Silva é jornalista, membro do Diretório Nacional do PSOL e do conselho editorial da revista Debate Socialista.

 

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