Perigos do ‘eleitoralismo’ não justificam abstencionismo eleitoral
- Detalhes
- Fernando Silva
- 30/09/2008
Mas de 120 milhões de brasileiros escolherão nas urnas os prefeitos que vão governar suas cidades nos próximos quatro anos. Não é um acontecimento político de menor importância, embora se trate de eleições municipais. E em um cenário político marcado pelo aumento da popularidade do governo Lula, ancorada em dois importantes elementos:
1) Nos frutos do período anterior de crescimento econômico mundial, os quais permitiram o aumento do número de contratos formais no país, o aumento da massa salarial (ainda que à custa de uma brutal precarização do trabalho e dos direitos), o crédito fácil (apesar dos números recentes e crescentes de endividamento das famílias e aumento da inadimplência), todos ao lado da intensificação de uma política assistencialista calcada em benefícios focalizados para as parcelas mais pobres da população (que é hoje a maior base de sustentação do lulismo);
2) No pacto de estabilidade entre a coalizão que sustenta o governo Lula: o grande capital financeiro e o agronegócio como os setores predominantes, uma burocracia sindical que vem entregando todos os direitos trabalhistas para manter a "governabilidade", e os tucanos, sob a base da manutenção dos fundamentos da política econômica imposta ao país ainda na era FHC. Não por acaso em mais de mil municípios do país PT e PSDB são aliados na corrida pelas prefeituras!
Por outro lado, este mesmo cenário permite a intensificação dos ataques aos direitos dos trabalhadores e a criminalização da pobreza e dos movimentos sociais - que agora começa a ficar mais evidente para além do funcionalismo público devido à alta dos preços dos alimentos e de um, ainda inicial, movimento de retração do crédito. E sem ainda estar claro qual será a extensão da gravíssima crise que sacode o capitalismo no centro do seu sistema, que efeitos terá ou como ela poderá evoluir no Brasil em 2009.
O economicismo e a omissão diante do governo
Mas é preciso reconhecer que o peso do governo Lula, a frustração e o desgaste que gerou em milhares de militantes o caminho do PT, além dos impasses e fragilidades verdadeiros que os partidos da esquerda socialista enfrentam neste cenário, produzem fenômenos que precisam ser debatidos: em geral é o abstencionismo eleitoral que tem tido certa relevância em círculos dos movimentos sociais, alicerçado em críticas justas aos perigos do eleitoralismo, mas que não oferecem qualquer alternativa política de projeto estratégico para os trabalhadores. Isso quando não terminam na omissão, para esconder a conveniência de não enfrentar abertamente o governo e suas próprias bases sociais que se inclinam majoritariamente ao voto nas candidaturas da base governista.
A questão é que mesmo o discurso radical de enfrentamento contra o capital e o da ação direta, se não estiverem colados a um projeto de disputa política de poder e construção de uma ferramenta partidária, terminam no economicismo, que exaure energias em ações limitadas e que acabam construindo um discurso anti-partidário, no mínimo regressivo para a consciência política da classe trabalhadora.
Isso quando não há os casos de exercer um discurso a favor de se formarem partidos que rejeitem a disputa institucional, mas que também terminam por omitir-se de dizer abertamente como os instrumentos políticos de natureza partidária devem definir-se na relação com estados e governos (e não apenas em processos eleitorais), em especial sobre qual a definição diante do governo Lula.
E não existe organização política que queira seriamente disputar poder, ideologia e hegemonia na sociedade se não parte de definir, enquanto partido político, qual a sua relação com o estado e o governo, com o poder, ou trocando em miúdos: se é situação ou se é oposição.
Mesmo os setores que defendem o voto nulo terminam em flagrante esterilidade devido à inexistência de qualquer corrente de massas na classe trabalhadora e na juventude com esta disposição e por não oferecerem nenhum projeto de disputa alternativo na consciência dos trabalhadores.
A nossa primeira conclusão é que a esquerda socialista e combativa, que tem clareza da natureza do governo Lula, não tem o direito de se abster ou omitir-se nestas eleições e deixar os trabalhadores à mercê das falsas polarizações entre os partidos de sustentação do grande capital.
Um longo caminho para reconstruir um projeto
Nada disso significa fechar os olhos para as fragilidades dos novos projetos, dos primeiros impasses que já afligem alternativas positivas como o próprio PSOL, pressionado neste quadro difícil a repetir os erros que destruíram o PT, entre eles o perigo de repetir a estratégia institucional/eleitoral como prioridade para a disputa do poder.
Mas com vários erros e incertezas bem presentes, coube ao PSOL e aos partidos da esquerda socialista assumirem nos últimos anos e neste momento o desafio de buscar construir um novo projeto socialista, sem medo de definir-se de forma clara diante do governo Lula e seus partidos de sustentação: somos oposição, de esquerda, e viemos para ficar, porque o governo Lula mantém a aplicação de um modelo que vai levar o Brasil e seu povo para um novo beco sem saída e com muitos custos e sofrimentos para a nossa classe e o país.
Há um longo caminho a percorrer para reformatar um novo projeto socialista e anti-capitalista para os trabalhadores e trabalhadoras brasileiros. Um longo caminho para a redefinição de estratégia e para superar programas nacional-desenvolvimentistas ou democrático-populares, que historicamente não tiveram condições de superar os limites do capitalismo. Debates estes que mal se iniciaram no conjunto da esquerda socialista, incluindo aqui o PSOL.
A Frente de Esquerda e o PSOL como alternativa socialista
Mas nada disso invalida que os processos eleitorais sejam encarados como importantes momentos para esclarecer o povo, denunciar as mazelas do sistema, desmistificar o ilusionismo na política, disputar ideologicamente a consciência da classe trabalhadora por uma saída socialista, organizar e aglutinar milhares e milhares de militantes para uma nova conformação para os próximos anos.
Oferecer nesse cenário, que inclui a disputa eleitoral, uma alternativa de esquerda socialista em situação tão difícil é o desafio. Para desmistificar o assistencialismo, mostrar que a esquerda no Brasil não terminou no governo Lula e nem na cooptação pela ordem que sofreram o PT e o PC do B.
Pois são estes partidos que emprestam a sua trajetória anterior para governar diretamente o aparelho do Estado e operar a política do grande capital, que, a propósito, em linhas gerais, não tem qualquer queixa substancial a fazer do atual governo federal. Basta observar os seguidos lucros recordes dos bancos ou a presteza com que se pagam os juros da dívida pública, comprometendo seriamente o Orçamento da União. Portanto, o voto nestes partidos e em seus candidatos não é mais progressivo.
O PSOL nunca hesitou em apresentar-se como oposição de esquerda, para não deixar a disputa política e os trabalhadores entre o mal e o mal menor nessa era de banqueiros e do capital financeiro.
Portanto, é muito positivo nestas eleições municipais o voto nos partidos da esquerda socialista, da oposição de verdade à política econômica, na idéia de uma reconstrução de um projeto autenticamente anti-capitalista, sem fechar os olhos para as dificuldades que teremos nesta caminhada.
Fernando Silva é jornalista, membro do Diretório Nacional do PSOL e do Conselho Editorial da revista Debate Socialista.
{moscomment}
Comentários
Mas, te coloco uma outra situação, a partir de situações práticas e não teóricas.
Partindo do princípio que as Instituições Políticas estão totalmente seqüestradas pelo capital, assim como o Estado, porque não propor o Voto Nulo, mostrando que a população está sabendo disso? E, evidentemente que acompanhada de forte mobilização social independente.
Ainda admito como viável, por uma questão de tática política, o voto em parlamentares verdaeiramente comprometido com as causas populares, mas fora do jogo de Poder.
É apenas uma opinião, as que relativiza bastante a opinião peremptória contra o Voto Nulo, exposta no artigo.
E contesto que a campanha eleitoral pode ser uma divulgação de teses progressistas. Ao contrário, misturam-se nas baboseiras predominantes, até porque em nome de possíveis prefeituras progressiats, vi cada barbaridade, que Deus me livre e guarde!
a geloísa helena atacando o governo e sendo subserviente as elites representada por dems tucanos, nota-se que ela não é seria e portanto só pensaem si mesma e como é bom sr senadora eestar no poder.Nunca ma será eleita.
PARA VOCÊ QUE NÂO ACREDITA EM ELEIÇÔES
Não acreditamos em eleições como caminho para resolver os problemas sociais.
As eleições cada vez mais dependem do poder econômico. A maioria é eleita
com dinheiro dos grupos econômicos. Estes candidatos vão retribuir,
aprovando leis e intermediando negócios que favorecem os que financiam suas
eleições.
Por isso, não acreditamos em partidos e políticos de esquerda que centram
suas atividades em eleições e nos parlamentos. Eles ou estão enganados ou
querem nos enganar. No mínimo, se acomodaram ao conforto dos gabinetes.
Também rejeitamos uma aliança eleitoral que não se baseia em unidade
política, para atuação direta e diária. Isto é, uma unidade exclusivamente
eleitoral, que só aparece de 4 em 4 anos, para somar votos. Criada quando
eleitoralmente conveniente. Isto não merece apoio.
Acreditamos na luta direta dos trabalhadores. Nas greves, na ação pública,
quando, nas ruas, pressionamos os poderes. Na luta diária, quando
organizados, nos locais de trabalho e moradia, defendemos nossos direitos e
propostas. Ou quando organizados em partidos, construímos uma nova
sociedade. Acreditamos na educação política, da luta e do estudo, que
prepara os dominados para deixarem de ser dominados e terem um dia o poder,
para humanizar a vida de todos nós.
Segurança, alimentação, habitação, transporte, educação, lazer, saúde e
acesso ao tratamento, velhice protegida, crianças sadias e com perspectiva
de vida digna – isto é vida humanizada. Uma sociedade em que o crescimento
econômico seja usufruído pelos que o produzem e não por alguns poucos. É
disto que falamos e queremos.
Nós não acreditamos que as eleições e o regime capitalista possam oferecer
isto.
Mas nós sabemos que ter políticos que pensem assim, que acreditem na luta
direta dos trabalhadores, é importante. Portanto, mesmo não acreditando em
eleições, nós vamos votar. Queremos colocar em destaque e dar voz a pelo
menos dois ou três vereadores que queiram construir uma sociedade humanizada – a sociedade socialista.
Por isto, temos nossos candidatos e os indicamos.
Em Niterói, votaremos e indicamos (H)um Trabalhador dos
Correios e Telégrafos. Líder sindical, participante dos movimentos sociais,
membro do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado e, acima de tudo,
uma pessoa dedicada à causa dos trabalhadores. Fraterno e ético, ele já
provou o sofrimento do desemprego e da pobreza, mas não se dobrou, não traiu
suas idéias, nem se afastou das lutas.
No Rio, votaremos e indicamos (C). Funcionário do Banco do
Brasil e ex-presidente do Sindicato dos Bancários. Foi Deputado, em 1986, e
provou que a eleição não o iludiu nem fez dele um burocrata de gabinete.
Nós não acreditamos em eleições, mas acreditamos que eleger (H) e (C)
ajudará na luta real para chegar à sociedade humanizada que queremos.
Reage Socialista
Coletivo Fundador reage.cfgmail.com
Assine o RSS dos comentários