Dilemas para a esquerda socialista e o PSOL
- Detalhes
- Fernando Silva
- 18/05/2009
Há um debate aberto sobre qual deve ser a resposta da esquerda socialista para os desafios colocados nestes tempos de agravamento da crise econômica.
Tal debate parte do pressuposto de que os efeitos mais perversos da crise recairão sobre os ombros da classe trabalhadora e que as saídas oferecidas até aqui, inclusive pelo governo Lula, estão na ótica de preservar os interesses do grande capital. E que, para tanto, estaria colocado o desafio para os movimentos sociais autênticos, sindicatos combativos e partidos da esquerda socialista construir e apresentar uma alternativa de programa, de saída para a crise, tanto no terreno das lutas sociais como para as eleições em 2010.
Mas indo diretamente à questão deste artigo, é público que há um debate aberto em um dos atores principais desta articulação, o PSOL, a respeito do lugar da denúncia das mazelas da corrupção em um programa e no perfil político da esquerda socialista, com conseqüências no debate de arco de alianças.
Estamos diante de uma nova totalidade no cenário internacional e nacional - a vigência de uma crise econômica estrutural do capital. Não temos dúvidas de que o centro, o eixo da resposta e da construção de um perfil socialista e anticapitalista, tem que estar na crise e na afirmação de uma saída de ruptura sistêmica, que busque apoiar-se nas demandas mais urgentes da classe trabalhadora e do povo, esfolados pela crise do capital. Tudo o mais deve se subordinar a isso. Inclusive as denúncias dos podres poderes da República. Por mais que o regime democrático burguês esteja coalhado de escândalos diários de corrupção (essa é a natureza do Estado brasileiro), a denúncia da corrupção não pode ser a pauta central de uma esquerda socialista na etapa atual, porque ela não é a pauta central do cotidiano das mazelas insuportáveis que recaem sobre os trabalhadores e o povo.
Sinais preocupantes
E deste ponto de vista consideramos muito preocupante que, além de fincar pé neste perfil como eixo do partido, esteja ocorrendo, por insistência de setores da direção do partido, uma busca em alavancar como aliados prioritários, quase exclusivos, personalidades dissidentes do aparelho de Estado, como o delegado Protógenes.
Um verdadeiro tiro no pé para o partido, como se verificou na ida do delegado ao ato de 1º de maio da Força Sindical, ao lado de Paulinho - um dos mais notórios pelegos da classe trabalhadora brasileira e também investigado por denúncias de corrupção. Isso enquanto a esquerda socialista partidária, movimentos sindicais e sociais combativos, pastorais sociais etc. se uniam para realizar um 1º de maio independente e classista na Praça da Sé.
Está aqui um dos dilemas centrais da esquerda e do PSOL no próximo período. Nos anos 90, o PT se caracterizou por sustentar como principal perfil político o eixo de "ética na política", contra a corrupção. Combinado a isso, moderou seu programa, buscou ampliar suas alianças à direita, estreitou laços com setores do empresariado, passando a aceitar financiamentos destes para as campanhas eleitorais, abriu as portas para estranhas filiações distantes do ideário de partido da classe trabalhadora.
Sabemos no que deu isso e o pior que poderia ocorrer hoje é um repetição da história na forma de trágica caricatura com o PSOL. A negociação de contribuições em 2008 à campanha municipal em Porto Alegre oriundas da Gerdau e da indústria armamentista Taurus evidencia esse risco.
Questões indispensáveis
Há três questões que devem balizar o perfil do PSOL nesta conjuntura e que consideramos que são condições básicas e indispensáveis para credenciá-lo como um pólo aglutinador de uma reorganização ainda mais ampla na esquerda e nos movimentos sociais em tempos de crise:
1) O centro político e programático do partido deve ser a resposta à crise econômica do ponto de vista de um programa anticapitalista;
2) O centro de gravidade da atividade do partido deve ser a busca de inserção central nos movimentos sociais e nas lutas de resistência da classe trabalhadora, dos sem-terra, sem-teto, da juventude. Ou seja, uma aliança efetiva com os trabalhadores e oprimidos. E não a busca de aliados em figuras da hierarquia do aparelho de Estado, que sinalizem um arco de alianças e perfil de programa que nada terão a ver com a vocação de um partido que se pretenda anticapitalista;
3) O PSOL deve se afirmar como partido socialista de trabalhadores e trabalhadoras, que contribua para buscar organizar com sua militância e estrutura partidária a luta permanente da classe trabalhadora em todos os seus aspectos práticos. E, portanto, não pode estar com suas portas abertas para a aceitação de possíveis filiações de porta-vozes estranhos ao ideário da esquerda socialista.
Fernando Silva é jornalista, membro do Diretório Nacional do PSOL e do Conselho Editorial da revista Debate Socialista.
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Comentários
Sou um orfão da esquerda que sonhou em mudar o País e que um dia teve os nomes de PT, PC do B e PCB. Tenho votado em candidatos do PSOl desde o evento do mensalão, que ninguém sabe se, de fato, existiu, mas demonstrou a falta de vontade do presidente Lula em trazer a verdade a tona. Conocordo com suas preocupações, mas tenho algumas ponderações:
1 - O que seria um programa anticapitalista? Vivemos em uma sociedade que é bicentenária no Capitalismo e se o partido adota(r) esse discurso irá trilhar um caminho tortuoso para fazer o eleitorado entender. Isso siginifica muitos, mas muitos anos de doutrina e cultura.
2 - As alianças do partido com os movimentos sociais e populares deve ser pautada pela observancia do estado de direito, não pode o partido apoiar cegamente os crimes e as contravenções patrocinadas por movimentos como o MST, por exemplo.
3 - Existe um enorme trabalho de base a ser feito junto aos trabalhadores. Pouco adianta, por exemplo, a Heloisa Helena ter uma votação expressiva ou, quem sabe, ser eleita para um cargo executivo se a base de sustentação é composta pelos mesmos de sempre? Qual o percentual de trabalhadores que conhece o Robaina? A Fernanda (minha candidata)? O trabalhador conhece a deputada bonitinha, o homem do tempo, o senador que distribuia medicamentos e cadeiras de rodas. Para mudar essa realidade é preciso entender que o trabalhador conhece (e se reconhece)o presidente da associação do bairro, do grêmio de funcionários, do sindicato.
São perguntas com sugestões implicitas, caberá ao partido desenhar seu caminho e definir se ele apontará para um futuro de transformação da realidade social e economica brasileira ou se será mais uma esperança perdida pela classe trabalhadora.
Sabemos que o PT virou um partido de centro, está totalmente envolvido em formar um centrão com o PMDB, só resta a esquerda se unir, mesmo reconhecendo suas diferenças, e dessa união oferecer uma alternativa mais a esquerda, que quebre a polarização PSDB-PT. Que recria a ilusão de um PT como a única esquerda viável.
A meu ver, o grande equívoco da extrema-esquerda é tranformar a sua divergência ao PT como oposição ao governo PT. Sua função seria sempre fazer pressão para que os próprios trabalhadores pressionem o governo, sem serem confundidos com a direita. Divergir sem se opor. E assim se oferecer como uma alternativa mais a esquerda, e não querer convencer que Lula defende o grande Capital. Dizer que o Lula é moderado é uma coisa, dizer que é conservador ou reacionário, aí é demais! Esse tipo de reducionismo não convence ninguém. E só serve para endoçar o discurso desqualificador da direita.
Infelizmente a extrema esquerda está mais interessada em roubar o eleitorado do PT, com essa gritaria, do que derrotar a direita, do que criar uma hegemonia favorável a esquerda, do que desmontar a ideologia dominante que ainda influencia a muitos trabalhadores pouco mobilizados. Acho que derrotando a direita, haverá mais espaço para a esquerda disputarem entre si. Mas será que ainda vale dizer que a esquerda só se une na prisão?
E sem reconhecer os méritos desse governo vai ser difícil perceber o caráter reacionário do retorno dos tucanos, que virão com todas as forças para evitar que o ciclo da esquerda vá além da pessoa do Lula.
Porque não viabilizar um segundo turno entre a centro-esquerda e a esquerda unida? Porque não viabilizar um parlamento majoritariamente de esquerda? Ao invés desta permenente luta fatricida que a direita sempre lucra.
Qual o conteúdo dado ao seu socialismo.Poder Operário/ camponês, ou poder popular? Qual sua visão da institucionalidade burguesa? Quer transfomar capitalismo menos corrupto? Bloco histórico ou alianças eleitorais? Financiamento de campanhas pela burguesia? A atual trajetória já pode se prever onde vai acabar. Para que serve a história?
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