Correio da Cidadania

Organizar a luta social: prioridade da esquerda

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Entre os próximos dias 1º e 7 de setembro será realizado o Plebiscito Popular, que coloca em debate à população quatro questões candentes da pauta de interesse das classes trabalhadoras e do povo: a questão da re-estatização da Vale do Rio Doce, a questão do pagamento dos juros da dívida pública, a reforma da previdência e o controle do setor energético.

 

O Plebiscito está sendo organizado por dezenas de entidades dos movimentos populares como Assembléia Popular, MST, Pastorais Sociais, Comitê Nacional pela Anulação do Leilão de Privatização da Vale, Intersindical, Conlutas, entre tantas outras.

 

Para o dia 24 de outubro, no momento da realização da 2º Assembléia Popular, um conjunto de entidades que vem construindo uma agenda unitária de lutas, como a jornada do dia 23 de maio, prepara a realização de uma grande marcha a Brasília, com uma pauta unificada de reivindicações populares.

 

São estas duas atividades que darão uma expressiva continuidade a um processo vivo de reorganização dos movimentos e lutas sociais, que teve destaque no 1º semestre deste ano.

 

Ao mesmo tempo em que se colocam em andamento a preparação dessas duas grandes atividades, nos podres poderes republicanos, na corte do Senado, em especial, avolumam-se os lances diários de extraordinária desfaçatez.

 

Enquanto essa lamentável instituição se revela cada vez mais odiosa diante da população, os trabalhadores que se destacam nas lutas sociais são punidos e difamados: sem-terra, controladores de vôo, metroviários, estudantes. Cortadores de cana no Pará e no estado de São Paulo vivem no limite do trabalho escravo, sob uma super- exploração medonha.

 

Mas nada mais distante dessa realidade do que a corte em Brasília, empenhada em salvar alguns “reis do gado”. Esse cenário político recoloca no âmbito da esquerda brasileira combativa e do conjunto dos movimentos um antigo e prático debate: a prioridade da política e da atividade dos partidos da esquerda socialista e dos movimentos sociais deve estar em uma luta pela ética na política e pelo resgate das instituições parlamentares, ou deve estar voltada para a organização da luta nos movimentos sociais das classes trabalhadoras, em torno da pauta das demandas sociais mais urgentes, como as que o Plebiscito Popular coloca?

 

A denúncia da corrupção no Estado brasileiro e suas instituições só faz sentido para que consigamos mostrar à população que não existe possibilidade de ética nessa política institucional, que tem, por exemplo, um Senado onde 32 dos seus titulares respondem por processos judiciais e investigatórios.

 

Isso fica claro a cada dia que passa, graças inclusive à didática contribuição do Congresso Nacional, das promíscuas relações entre empresas e poder público em todos os níveis, com incontáveis exemplos, desnecessários de serem citados, dado o volume e grau de publicidade dos fatos.

 

De outro lado, limitar ou priorizar a luta ao eixo da corrupção e pela ética na política pode conduzir à reedição do erro que levou a maior parte da esquerda brasileira a dar quase absoluta prioridade pela estratégia institucional desde os anos 90, desenvolvendo as ilusões de que esse caminho trilhado, com a resultante ocupação de maiores espaços e visibilidade na mídia e, depois, em postos nos poderes Executivo e Legislativo, reformaria as instituições do Estado brasileiro.

 

Além disso, priorizar a questão da corrupção pode dar a entender que o problema dessas instituições é apenas moral, que bastaria derrubar os corruptos e ladrões para que as instituições do Estado capitalista brasileiro funcionassem a serviço do povo.

 

Já vimos esse filme antes e sabemos o seu final, pois, quando se chegou lá com essa visão, revelou-se que a corrupção é tão inerente ao funcionamento do sistema e ao Estado que os próprios reformadores de outrora acabaram entrando no jogo, como vimos à exaustão no primeiro mandato do governo Lula.

 

Essa corte é irreformável.

 

Uma campanha de fôlego que se proponha a desmascarar para valer a atual podridão institucional deve partir das demandas reais da classe trabalhadora e de uma denúncia radical do conjunto do regime político, apresentando reivindicações como, por exemplo, por um sistema unicameral e, portanto, fim do Senado, fim do sigilo fiscal e bancário de todos os ocupantes de cargos públicos.

 

Mas acreditamos que, no 2º semestre, o foco da esquerda socialista e combativa deve estar na organização da luta e dos movimentos sociais, para enfrentar a pauta do grande capital e seus governos.

 

Não devemos medir esforços para organizar o Plebiscito Popular de setembro, a marcha a Brasília em 24 de outubro e, de forma imediata, uma campanha em defesa das lideranças populares das lutas sociais que estão sendo perseguidas pelo país, como os controladores de vôo, os sem-terra, metroviários, entre tantos outros ativistas e trabalhadores criminalizados pelos podres poderes da república e seus governos.

 

Em tempo, as quatro perguntas do Plebiscito Popular de setembro são:

 

1. Você concorda que a companhia Valedo Rio Doce, patrimônio construído pelo povo brasileiro, e privatizada em 1997, deva continuar nas mãos do capital privado?


2. Você concorda que o governo continue priorizando o pagamento dos juros da dívida pública, deixando de investir em trabalho, saúde, educação, moradia, saneamento, reforma agrária, água, energia, transporte, ambiente saudável?


3. Você concorda que a energia elétrica continue sendo explorada pelo capital privado, com o povo pagando até 08 vezes mais que as grandes empresas?


4. Você concorda com a proposta de reforma da previdência que retira direitos dos trabalhadores?

 

 

Fernando Silva é jornalista, membro do Diretório Nacional do PSOL e do Conselho Editorial da revista Debate Socialista.

 

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