Correio da Cidadania

A culpa é nossa, eleitor!

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Continua na moda falar mal dos políticos, embora haja centenas deles éticos, competentes e atuantes em favor do povo. Infelizmente são exceções.

 

A maioria dos eleitos não representa os interesses populares. São lobistas investidos de mandatos e imunidade para favorecer interesses corporativos. Como a bancada do B no Congresso: bala, bola e Bíblia. Somam-se a ela a do agronegócio, a da homofobia, a das bebidas alcoólicas, a da criminalização dos menores etc.

 

E haja corrupção! Deputados prestigiados por empresas que financiam eleições são bajulados por colegas que fazem a fila do beija-mão para merecer grana que lhes assegure a campanha de reeleição. O mesmo se passa entre vereadores e senadores.

 

Essa patifaria toda é culpa dos políticos? São eles os safados? É cômodo pôr a culpa nos outros. Como o ladrão que, preso, declara que a culpa é da vítima que deixou o dinheiro à vista...

 

Culpados somos nós, eleitores. Nenhum parlamentar chegou lá por meio de golpe ou medida provisória. Todos foram alavancados pelo nosso voto e, sobretudo, pela força do poder econômico no processo eleitoral.

 

É este poder que faz a cabeça dos eleitores. Em época de eleições, capricha na embalagem sem revelar o conteúdo. Infla a demagogia. Promete o que não será cumprido. E até dá a muitos eleitores um “cala-boca” para, em troca de um saco de cimento ou uma promessa de emprego, obter o voto em favor do candidato.

 

Nós, eleitores, somos os culpados de toda a safadeza e a corrupção que assolam a política brasileira. Nós escolhemos quem faz as leis e governa o país. Não adianta declarar “mas eu não votei em fulano” ou “votei no candidato derrotado”.

 

E quando seu candidato ganhou, foi diferente? Deu exemplo de ética, fez leis favoráveis aos mais pobres, introduziu mudanças estruturais no país?

 

Onde reside o problema? Reside na falta de politização. Somos, hoje, uma nação despolitizada e raivosa. Diariamente somos inebriados e embriagados por propagandas que em nada contribuem para o despertar de nossa consciência.

 

Grande parte do que se exibe na TV e na internet é mero entretenimento, voltado ao consumismo. Ou centrada na exacerbação da violência e da pornografia. Sexo, sangue e saúde: eis a trinca que comanda o noticiário. As notícias exemplares, que exaltam a solidariedade e o altruísmo, merecem pouca ou nenhuma repercussão.

 

Nessa sociedade consumista, ficamos presos ao próprio umbigo. Pouco ou nada nos interessa a sorte dos mais pobres, das crianças fora da escola, dos sem- terra e dos sem-teto. Carecemos de consciência crítica e, na hora da eleição, votamos em que nos seduz com frases de efeito ou manipula os nossos medos, apregoando que bandido bom é bandido morto...

 

Portanto, eles chegam lá por nosso voto. E daqui de baixo a galera se contenta em falar mal deles durante quatro anos, enquanto, lá em cima, eles exibem aquele sorriso de hiena saciada.

 

 

Frei Betto é escritor, autor de “Um Deus muito humano – novo olhar sobre Jesus” (Fontanar), entre outros livros.

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