Correio da Cidadania

Eleições na Argentina: a “aliança” Massa-Milei

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 Pesquisa indica tendência de 2º turno entre Milei e Massa na Argentina –  CartaExpressa – CartaCapital
A um mês do primeiro turno das eleições presidenciais na Argentina o debate político parece assumir nova configuração. Nas primárias, realizadas no dia 13 de agosto, o destaque foi a votação surpreendente de Javier Milei (La Libertad Avanza), com 30,1% dos votos, acima de Sergio Massa, atual ministro da Economia, e dos candidatos da frente Juntos por el Cambio, Patricia Bullrich e Rodríguez Larreta.

Três forças se habilitavam em situação de relativo equilíbrio, identificadas, respectivamente, com a extrema direita, o peronismo “não-kirchnerista” e a centro-direita. Alguns analistas chegaram a sugerir a possibilidade de uma aproximação entre direita e extrema direita, com o objetivo de derrotar o peronismo.

As primeiras semanas de campanha revelaram um movimento diferente, com a articulação política entre Massa e Milei para polarizar o debate político e relegar a candidatura de Patricia Bullrich a um segundo plano, de modo a transparecer enfraquecimento da candidata liberal, o que tem tido reflexo em pesquisas eleitorais.

Há, porém, outras possibilidades de leitura sobre a aproximação de Massa com Milei. É razoável supor que no cálculo estratégico do candidato da extrema direita tenha pesado sua fragilidade político-partidária, a limitada interlocução com lideranças empresariais e a dificuldade que terá no Legislativo caso vença a eleição, pois não contará com maioria nas duas casas.

Do ponto de vista dos peronistas, a aproximação com o candidato da extrema direita tem outros componentes. Massa procura se beneficiar da popularidade de Milei, por meio da convergência com setores e propostas caras ao peronismo, o que os torna semelhantes em vários aspectos, como observou recentemente o jornalista Joaquín Morales Solá (La Nación). Massa, no caso de vitória de Milei, se tornará – caso essa articulação perdure – em aliado imprescindível, pois, sem o apoio dos peronistas, Milei não terá como construir uma base razoável na Câmara e no Senado.

Mais importante, porém, é a possibilidade de parcela do eleitorado de Milei passar a ver a candidatura peronista com maior simpatia e migrar para a candidatura peronista, caso ocorra algum desgaste de Milei devido ao fato de algumas de suas propostas serem irrealizáveis – como é o caso da dolarização da economia argentina ou o fechamento do Banco Central – ou do incômodo de alguns diante de seu estilo histriônico.

As eleições, porém, seguem indefinidas, embora haja certo consenso quanto à possibilidade de um segundo turno com Sergio Massa e Javier Milei. A candidatura Patricia Bullrich, embora não possa ser desconsiderada, sente os efeitos da herança do governo Mauricio Macri, dos impasses do discurso neoliberal e de sua própria trajetória política, que transitou da atuação junto aos Montoneros à centro-direita, com recentes simpatias ainda mais à direita. Sua campanha tem se concentrado em combater o kirchnerismo e denunciar as medidas econômico-fiscais do ministro Sergio Massa, de natureza eleitoreira, sem acenar com propostas consistentes para enfrentar a inflação e melhorar as condições de vida da população carente.

A candidatura de Massa surge, assim, como uma candidatura viável em termos eleitorais. Outros fatores concorrem para esta avaliação. Nas primárias, vencidas por Milei, houve uma abstenção muito elevada, o que talvez não se repita em outubro, e em novembro, no caso de haver segundo turno. Massa, além de contar com a forte presença peronista na maioria das províncias do “interior” – um dos pontos fracos de Milei –, tem o apoio de sindicalistas históricos. Reveste-se ainda da mística da “justiça social”, ou seja, a herança assistencialista do peronismo. Políticas públicas que têm evitado que a Argentina, em meio a graves crises econômicas, chegue a uma situação de convulsão social.

Carlos Eduardo Vidigal é doutor em relações internacionais e professor de história da UnB. Autor de Relações Brasil-Argentina: a construção do entendimento (1958-1986).

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