EUA: a persistência da política exterior bipartidária
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- Virgílio Arraes
- 28/10/2024
Em poucos dias, o povo terá a oportunidade de indicar ao pequeno colégio eleitoral o nome de preferência para governar o país a partir de janeiro de 2025. Embora sob margem estreita, os números das pesquisas inclinam-se a favor da candidatura de Kamala Harris. O desafio das duas maiores agremiações é o de sustentar o entusiasmo de seus adeptos de sorte que compareçam às urnas no 5 de novembro.
Lá, não se obriga o comparecimento à votação; só as campanhas mais bem estruturadas têm possibilidade de êxito, ao manter a conexão com o eleitorado e assim contar com seu apoio, apesar de dificuldades como eventuais intempéries climáticas, fator de influência no deslocamento, ou contratempos do cotidiano, como no trabalho, uma vez que a data não costuma ser feriado nacional como no Brasil.
Na fase derradeira da disputa, a sociedade dedica maior atenção a questões internas, por ser de relação próxima com o dia a dia, haja vista a apreensão com saúde, educação, segurança pública, carreira etc., a não ser em períodos de confrontação, nos quais a participação dos Estados Unidos pode afetar a rotina, ao desaguar em reajuste expressivo dos preços do combustível como ocorrido após a Guerra do Yom Kippur (1973).
Conquanto não se envolva nos dois conflitos em andamento – Rússia versus Ucrânia e Israel versus Palestina - com o envio de tropas, a Casa Branca direciona de maneira constante auxílio diplomático, socorro financeiro e fornecimento de armamentos a Kiev e Telavive, independente do posicionamento político do momento.
A preocupação concernente às duas pelejas atrela-se também com parcela importante da população de ascendência do leste da Europa – como Antony Blinken, titular do Departamento de Estado desde 2021, de procedência ucraniana - ou do Oriente Médio como Rashida Tlaib, deputada federal do Michigan do Partido Democrata há vários mandatos, de estirpe palestina.
Em muitos casos, os vínculos de parentesco se mantêm, facilitados pelos avanços recentes nas comunicações e no transporte, e têm decerto impacto político, cultural, econômico e religioso no relacionamento dos Estados Unidos com determinados governos.
Estruturam-se na política exterior norte-americana dois elementos entrelaçados de forma perene: o primeiro compõe-se da ideologia, exposta por valores estimados, por sua vez, como universais e tradicionais como democracia, livre comércio ou direitos humanos, ainda que o próprio país não os observe de modo integral.
De toda sorte, a retórica de Washington em brados é contínua com vistas a lembrar sua observância à comunidade internacional, em especial aos adversários do presente como Moscou, Teerã, Pionguiangue ou Pequim.
O segundo refere-se à prática, não a ideário ou utopias. Destarte, a Casa Branca leva em atenção a preservação de seus interesses imediatos. Malgrado injusto, materializa-se isso no delineio de áreas de influência como América Latina e Caribe, estabelecida esta desde o anúncio da Doutrina Monroe em dezembro de 1823.
A dificuldade de manutenção ou de ampliação de territórios sob predomínio estadunidense deriva da recuperação regional russa, a despeito do revés do embate ucraniano, e da ascensão mundial chinesa. Indiferente à candidatura vitoriosa em 5 de novembro, a defesa das áreas de influências firmadas continuará, sem se importar Washington com o desgaste perante a sociedade global.
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Virgílio Arraes
Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.