Correio da Cidadania

Exercício da paciência

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O noviço indagou ao mestre como exercitar a virtude da paciência. O mestre submeteu-o ao primeiro dos três exercícios: caminhar todas as manhãs pela floresta vizinha ao mosteiro.

 

Disposto a conquistar a paciência e livrar-se da ansiedade que o escravizava – a ponto de ingerir alimentos quase sem mastigá-los, tratar os subalternos com aspereza, falar mais do que devia -, durante nove meses o noviço caminhou por escarpas íngremes, estreitas fendas entre árvores e cipós, pântanos perigosos, enfrentando toda sorte de insetos peçonhentos e bichos venenosos.

 

Nove meses depois o mestre o chamou. Deu-lhe o segundo exercício: encher um tonel de água e carregá-lo nos braços todas as manhãs, ao longo dos cinco quilômetros que separavam o rio da fonte que abastecia o mosteiro. O noviço tampouco compreendeu o segundo exercício, mas, julgando a sua desconfiança sintoma de impaciência, resignadamente aplicou-se na tarefa ao longo de nove meses.

 

Chegou o dia do terceiro e último exercício: atravessar, de olhos vendados, a corda que servia de ponte entre o abismo em se encravava o mosteiro e a montanha que se erguia defronte. Com muita reverência, por temer estar ainda tomado pela impaciência, o noviço indagou ao mestre se lhe era permitido fazer uma pergunta. O velho monge aquiesceu. "Mestre, qual a relação entre os três exercícios?"

 

O mestre sorriu e seu rosto adquiriu uma expressão luminescente: "Ao caminhar pela floresta, você aprendeu a perder o medo da paciência. Soube vencer meticulosamente cada um dos obstáculos e não se deixou intimidar pelas ameaças. Agora sabe que, na vida, o importante não é disputar na pressa quem chega primeiro. O que vale é chegar, ainda que demore mil anos. Observou também a diversidade da natureza e dela tirou a lição de que nem todas as coisas são do jeito que preferimos".

 

"Ao trazer água do rio, você fortaleceu os músculos do corpo e aprendeu a servir. A impaciência é a matéria-prima da intolerância, do fundamentalismo, do desrespeito, da segregação. A paciência exige humildade, generosidade, solidariedade."

 

O noviço compreendeu, mas ainda uma dúvida pairava em sua mente. O mestre o percebeu. "Agora você quer saber por que atravessar de olhos vendados a corda que nos serve de ponte, não é?", indagou o velho monge. E acrescentou: "Com a paciência impregnada em seus pés que trilharam a floresta inóspita; a força impregnada em seus braços, que aprenderam a servir; agora você fará o exercício da fé. Não poderá enxergar, mas confiará que a corda permanecerá sob seus pés. Não poderá apoiar-se, mas se entregará à certeza de que seu corpo é como a água que você trazia: movimenta-se, mas não cai. Não poderá fugir ao abismo que se abre abaixo, mas andará convicto de que, do outro lado, há a montanha sólida a esperá-lo e acolhê-lo. Assim é o Pai de Amor quando nos dispomos, na escuridão da fé, a ir ao encontro Dele."

 

Após uma pausa de silêncio, o mestre completou: "Sem fé não há tolerância; sem tolerância, impossível a paciência." O noviço dilatou os olhos como que assustado. "O que foi?", indagou o velho monge. "Mestre, os fundamentalistas não são pessoas de muita fé? E não se caracterizam pela intolerância?"

 

O mestre sorriu de modo suave e replicou: "Os fundamentalistas não têm fé, que é confiar incondicionalmente em Alguém. O que têm é pretensão, confiam apenas em si mesmos. Eles são o objeto da própria fé. Ao atravessar o abismo, você estará percorrendo o itinerário que conduz do seu homem velho ao seu homem novo. E o fará para o bem dos outros. E confie, Alguém o conduzirá pela mão, livrando-o de todos os riscos."

 

Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Leonardo Boff, de "Mística e Espiritualidade" (Garamond), entre outros livros.

 

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Comentários   

0 #3 exercício diárioMarluce C Viégas 02-07-2008 20:42
Nós mães somos diáriamente impelidas a exercitar a paciência e a tolerância e para tanto colocamos nos mais simples gestos a doação,o amor e a fé,esta última é imprescindível,pois sem ela é impossível amar ,respeitar e tolerar o próximo.

Parabéns...
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0 #2 PaciênciaAna C.J.Gamero 02-07-2008 11:55
A Democrácia é um verdadeiro exercíco da paciência.

Abraços
Ana
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0 #1 silvio cordeiro 02-07-2008 05:02
a) - Os senhores usam demasiadamente a expressão "serão deletados", o que mostra pouca convivência com o a democracia, o o contraditório.

b) o objetivo principal dessa msg. é pedir que transmitam ao fervoroso frei Beto o qu ele pode definir, para mim, de preferência via internet pois não tenho dinheiro para comprar livros, o que ele (Beto) entende por "fé". O pouco que sei foi com Pe.Leonel Franca que aprndi. (mal).
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