A mão invisível
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- Frei Betto
- 09/03/2009
Desde criança tenho, como todo mundo, meus medos. Já foram maiores: medo de ver meu pai bravo, de ser obrigado a comer jiló, de tirar zero na prova de matemática. Medo, sob a ditadura, de me ver abordado por uma viatura policial. Medo, sob a chuva capixaba, de que meu barraco na favela, erguido à beira de um precipício, fosse levado pelas águas.
Hoje, coleciono outros medos. Um deles, medo da mão invisível do Mercado. Aliás, do que é invisível só não temo Deus. Temo bactérias e extraterrestres. As primeiras, combato com antibióticos – termo inapropriado, pois significa "contra a vida" e, no entanto, os inoculamos para favorecê-la.
Quanto aos extraterrestres, fiquei menos temeroso ao saber que o mais longo alcance no espaço conseguido por nossa tecnologia é atingido pelas emissões televisivas. Com certeza, ao captá-las, os exploradores interplanetários chegaram à conclusão de que na Terra não há vida inteligente...
Volto à mão invisível do Mercado. Onde ele a enfia? De preferência, no nosso bolso. Em especial, no dos mais pobres. Ela é invisível porque safada, como todo delito praticado às escondidas. Por exemplo, o Mercado pratica extorsão no bolso dos mais pobres através dos impostos embutidos em produtos e serviços. Tudo poderia nos custar mais barato se não fosse essa mão-boba que se imiscui no que consumimos.
Agora que o Mercado entrou em crise – pois a bolha que inflou estourou na cara dele – onde anda enfiando a sua mão invisível? A resposta é visível: no bolso do governo. Nos EUA, o Mercado, nos estertores da administração Bush (de infeliz memória), meteu a mão em US$ 830 bilhões e, agora, arranca mais US$ 900 bilhões da recém empossada administração Obama. Tudo pra enfiar essa fortuna no bolso furado do sistema financeiro.
Aliás, a mão invisível do Mercado ignora o bolso dos cidadãos. Viciada, sempre beneficia o bolso dos ricos. É o caso do Brasil. Diante da crise (e das próximas eleições) o governo trata de anabolizar o PAC, de modo que a mão do Mercado possa abastecer, o quanto antes, o bolso das empreiteiras e das empresas privadas encarregadas das obras.
Minha avó advertia: "Veja lá, menino, onde põe esta mão!" E me obrigava a lavá-la antes de sentar à mesa. Acho que a mão do Mercado é invisível porque jamais se lava. Ao contrário, lava dinheiro sem se lavar da sujeira que a impregna. É o que deduzo ao ler a notícia de que, nos paraísos fiscais, a liquidez dos grandes bancos foi assegurada, nos últimos anos, graças aos depósitos do narcotráfico.
A mão pode ser invisível, mas suas impressões digitais não. Onde o Mercado bota a mão fica a marca. Sobretudo quando tira a mão, deixando ao relento milhares de desempregados, jogados na rua da inadimplência, enforcados em dívidas astronômicas.
O Mercado é como um deus. Você crê nele, põe fé nele, venera-o, faz sacrifícios para agradá-lo, sente-se culpado quando dá um passo em falso em relação a ele – ainda que a culpa seja dele, como no caso da compra de ações que ele lhe vendeu prometendo fortunas e, agora, elas valem uma ninharia.
Como um deus, só se pode conhecê-lo por seus efeitos: a Bolsa, o salário, a hipoteca, o crédito, a dívida etc. Ele se manifesta por meio de sua criação, sem, no entanto, se deixar ver ou localizar. Ninguém sabe exatamente a cara que tem e o lugar onde se esconde, embora seja onipresente. Até na vela vendida à porta da igreja ele se faz presente. E mete a mão, a famosa mão invisível, a temida mão invisível, essa mão mais execrável que a de tarados que ousam enfiá-la sob a saia da mulher de pé no ônibus.
Nem adiante gritar: "Tira essa mão daí!" Apesar de a mão invisível manipular descaradamente nossa qualidade de vida, privilegiando uns poucos e asfixiando a maioria, dela ninguém se livra. Como é invisível, não se pode amputá-la. Só resta uma saída: cortar a cabeça do Mercado. Mas isso é outra história. Hoje falei da mão. A cabeça fica pra outro dia.
Frei Betto é escritor, autor de "A arte de semear estrelas" (Rocco), entre outros livros.
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Comentários
É dar um sinal de que não somos totalmente idiotas! Queremos romper com esses parasitas que manipulam nossa sociedade de uma forma ou outra. Pois quem quer que seja eleito não piorará mais as mazelas. Mostremos a esses políticos canalhas que voltam a cena através da mídia comprada e corrompida.
Não adianta mais viver tentando provar que estamos certos e "eles" errados. Nem mesmo os Cristãos estão interessados em Cristo, nem o Budista em Buda, o interesse é tentar provar de alguma forma que o outro esta errado e ele certo, somente isto! Não vivenciamos verdadeiramente uma vida em Cristo. Infelizmente somos apenas imitadores ou meros seguidores de alguem, o que devemos ser é Criadores, quebrar os paradigmas ser protagonistas na nossa própria história para que possamos transformar as futuras gerações dessa pátria chamada Brazil.
A Mão invisivel é como se fosse um estimulo ao livre ambiente de concorrencia, que ao invés de gerar caos traria beneficios a economia, sem nem ao menos ter a intenção de faze-lo.
Segundo Smith, o governo deveria limitar-se a manutenção da lei e da ordem, assumir a frente apenas em determinados bens publicos como transporte, saude publica, saneamento básico, etc.
Ele dizia que com a intervenção do governo, o mesmo inibi o progresso e distribui privilégios na maioria das vezes a monopólios. Smith também dizia que o homem é levado por uma mão invisivel a atuar de forma egoista, pensando em seu próprio bem, e que isso acarreta beneficios para a economia.
- Entre a CORRUPÇÃO e a FÉ.
2009 ainda revela uma corrupção crescente e mais nefasta, por perpetuar a miséria e a criminalidade em nosso país. Aonde governos e corporações vem se perpetuando no poder através dessa corrupção, pois seus interesses pessoais se sobrepõem aos coletivos e o bem comum da lugar ao enriquecimento ilícito. Esta visivelmente estampada, que a corrupção faz parte do dia a dia na sociedade e basicamente todos os sistemas de uma forma ou outra são corruptas, como forma de auto-preservação e a própria sobrevivência das "espécimes". A Religião cristã não se posiciona e não esta verdadeiramente comprometida com esta realidade, e jamais conseguira quebrar esse paradigma de Caráter Universal, pois seu caracter esta corrompido. As religiões sim, instituirão ainda mais a distorção psicológica chamada de fé entre seus seguidores, onde a lógica e as novas informações são registradas em função de crenças tradicionais e atrasadas. A Igreja de Roma não faz concessões de ordem teológica a não ser por razões econômicas e políticas; ela sempre se aliou aos tiranos desde que o mundo é mundo. Contrariando o próprio Jesus, quando afirmá-ra: “Vós sois o sal da terra!”. O sal tem a qualidade de conservar e evitar a deterioração, impedindo a podridão e a corrupção sobre a terra. Mas as evidencias de auto-preservação é muito mais forte e prevalece. A sobrevivência requer dinheiro, muito dinheiro que possibilita os meios de poder, manipulação e sua propagação. Causando nesse primeiro momento o efeito da exaustão moral que se abate sobre a sociedade, desse modo as novas gerações perdem suas perceptivas para com o futuro. A pior corrupção é dos ideais, que assola genéticamente o ser, a raiz dos sentimentos, vindo a trair o espírito, ou melhor, a própria consciência. Fé e compromisso devem abranger toda dimensão pública. O cristão reconhecendo que tudo vem de Deus e seus recursos são dádivas que ele procura administrar e colocar a serviço do próximo. Aí esta o grande abismo que nos afasta de Deus. Quem então vai para o céu ou para o inferno? O céu e o inferno NÃO TERÃO FIM (a ênfase é nossa. Deus não é apenas destituído de imaginação, é também destituído de misericórdia, para não falar em senso de humor. Este "Deus" é um demônio feito à imagem daqueles que o promovem!). Então vai para o céu quem morre sem pecado grave. Note ai, não é necessário ser virtuoso, alegre, corajoso, honrado, para ir para o céu. As virtudes positivas não têm sentido para as criancinhas "cristãs" à moda romana. O panorama Político-cultural inter-religioso que prevalece é do PODER, a troca ou a compra de favores e do silêncio. Mesmo porque o chavão mais popular do Brasil já estabelece seus meios, justificando com naturalidade seus fins - “ele rouba, mas faz”. Assim é a política partidária e a própria igreja, sem qualquer esforço vem se dividindo como coisa nenhuma, confirmando o sofrimento humano causados pela falsidade e pelas ilusões. Exteriorizando uma leviandade moral e espiritual no homem como ser social. Se iniciarmos agora mesmo, investimentos relevantes na educação, ainda levaríamos meio século para reverter à tendência dessa percepção ideológica e realista, para trazer de volta a moralidade, a ética e o patriotismo. Isso porque a absoluta e verdadeira revolução esta na revolução da própria consciência humana. O escopo deste artigo objetiva uma sumária abordagem no que tange o comportamento atual de nossa sociedade, demonstrando que há vertentes políticas e religiosas a serem reconhecidas como um problema inerente à nossa estrutura social e cultural ao longo dos anos e, sobremaneira, críticas que por sua vez realçam a premente necessidade de se ajustar os já existentes preceitos em relação a esse macro-desvio de conduta social, política e religiosa.
por: Edison Antunes Jr.
RG 11390972
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