O império manda, as colônias obedecem
- Detalhes
- Frei Betto e João Pedro Stédile
- 20/05/2010
Após a Segunda Guerra Mundial, quando as forças aliadas saíram vitoriosas, o governo dos EUA tentou tirar o máximo proveito de sua vitória militar. Articulou a Assembléia das Nações Unidas dirigida por um Conselho de Segurança integrado pelos sete países mais poderosos, com poder de veto sobre as decisões dos demais.
Impôs o dólar como moeda internacional, submeteu a Europa ao Plano Marshall, de subordinação econômica, e instalou mais de 300 bases militares na Europa e na Ásia, cujos governos e mídia jamais levantam a voz contra essa intervenção branca.
O mundo inteiro só não se curvou à Casa Branca porque existia a União Soviética para equilibrar a correlação de forças. Contra ela, os EUA travaram uma guerra sem limites, até derrotá-la política, militar e ideologicamente.
A partir da década de 90, o mundo ficou sob hegemonia total do governo e do capital estadunidenses, que passaram a impor suas decisões a todos os governos e povos, tratados como vassalos coloniais.
Quando tudo parecia calmo no império global, dominado pelo Tio Sam, eis que surgem resistências. Na América Latina, além de Cuba, outros povos elegem governos anti-imperialistas. No Oriente Médio, os EUA tiveram que apelar para invasões militares a fim de manter o controle sobre o petróleo, sacrificando milhares de vidas de afegãos, iraquianos, palestinos e paquistaneses.
Nesse contexto surge no Irã um governo decidido a não se submeter aos interesses dos EUA. Dentro de sua política de desenvolvimento nacional, instala usinas nucleares e isso é intolerável para o Império.
A Casa Branca não aceita democracia entre os povos. Que significa todos os países terem direitos iguais. Não aceita a soberania nacional de outros povos. Não admite que cada povo e respectivo governo controlem seus recursos naturais.
Os EUA transferiram tecnologia nuclear para o Paquistão e Israel, que hoje possuem bomba atômica. Mas não toleram o acesso do Irã à tecnologia nuclear, mesmo para fins pacíficos. Por quê? De onde derivam tais poderes imperiais? De alguma convenção internacional? Não, apenas de sua prepotência militar.
Em Israel, há mais de vinte anos, Moshai Vanunu, que trabalhava na usina atômica, preocupado com a insegurança que isso representa para toda a região, denunciou que o governo já tinha a bomba. Resultado: foi seqüestrado e condenado à prisão perpétua, comutada para 20 anos depois de grande pressão internacional. Até hoje vive em prisão domiciliar, proibido de contato com qualquer estrangeiro.
Todos somos contra o armamento militar e bases militares estrangeiras em nossos países. Somos contrários ao uso da energia nuclear, devido aos altos riscos, e ao uso abusivo de tantos recursos econômicos em gastos militares.
O governo do Irã ousa defender sua soberania. O governo usamericano só não invadiu militarmente o Irã porque este tem 60 milhões de habitantes, é uma potência petrolífera e possui um governo nacionalista. As condições são muito diferentes do atoleiro chamado Iraque.
Felizmente, a diplomacia brasileira e de outros governos se envolveu na contenda. Esperamos que sejam respeitados os direitos do Irã, como de qualquer outro país, sem ameaças militares.
Resta-nos torcer para que aumentem as campanhas, em todo o mundo, pelo desarmamento militar e nuclear. Oxalá o quanto antes se destinem os recursos de gastos militares para solucionar problemas como a fome, que atinge mais de um bilhão de pessoas.
Os movimentos sociais, ambientalistas, igrejas e entidades internacionais se reuniram recentemente em Cochabamba, numa conferência ecológica mundial, convocada pelo presidente Evo Morales. Decidiu-se preparar um plebiscito mundial, em abril de 2011. As pessoas serão convocadas a refletir e votar se concordam com a existência de bases militares estrangeiras em seus países, com os excessivos gastos militares, e com que os países do Hemisfério Sul continuem pagando a conta das agressões ao meio ambiente praticadas pelas indústrias poluidoras do Norte.
A luta será longa, mas nessa semana podemos comemorar uma pequena vitória anti-imperialista.
Frei Betto é escritor, autor de "A arte de semear estrelas" (Ed. Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org/
João Pedro Stédile integra a direção da Via Campesina
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Comentários
Alguns índios dizem que tirar fotografias sequestra a alma dos fotografados (a meu ver, em magistaral denúncia aos ganhos financeiros que muitos auferiram por expor a pobreza e indigência dos índios).
O "copyright" para artigos políticos, isto é, de idéias de construção coletiva e social, sequestra a independência e credibilidade dos articulistas.
Como não nasci ara obedecer, comunico que estarei publicando em várias mídias eletrônicas o referido artigo (com o devido comentário crítico), duvidando (ou desafiando)ser processado, pois bobos estes dois aí não são.
Dieitos autorais para quem não publica COM fins lucrativos é equivalente à Censura!
É que o capitalismo neoliberal atingiu um nível tal, em sua sanha por lucros crescentes, que a guerra deixou de ser como era antigamente: um meio para a pilhagem de riquezas que possibilitariam a geração desses lucros. Ou seja, à parte os lucros que a indústria de armas amealhava, a pilhagem das riquezas era o foco principal das guerras.
Hoje, já não é de todo assim; os neoliberais e belicistas conseguiram “unir o útil ao agradável”. Ao mesmo tempo em que apuram lucros enormes com a pilhagem do petróleo iraquiano, a não “pacificação” do país se transforma também em fonte importantíssima de rendimentos. Até porque, as despesas para manter a guerra são devidamente socializadas através do orçamento militar dos EUA. Sobram para as megaempresas do petróleo, das armas e outras que estão a “reconstruir” o Iraque, lucros gordos e limpos.
Por isso, acho equivocado considerar que os EUA enfiaram-se num “atoleiro chamado Iraque”.
Porém, o texto, que começou bem acabou se tornando um tanto quanto confuso.
Não creio que as razões determinantes pelas quais o governo dos EUA ainda não decretou a invasão do Irã sejam as expostas no texto. A população do país, de 60 milhões de habitantes pode até ser uma razão, mas não é determinante, assim como o fato de ser uma potência petrolífera também não o é; o Iraque era uma potência petrolífera até maior que o Irã antes de ser invadido. Já o fato de o governo iraniano ser nacionalista é condição a empurrar os EUA à invasão e não a impedir, uma vez que o nacionalismo de qualquer país é tomado pelos governos estadunidenses como uma verdadeira declaração de guerra.
Rememoremos o que se passou antes da invasão e da quase-destruição do Iraque. O governo dos EUA, através do domínio que tem da ONU, impôs severas sanções àquele país durante muitos anos. Essas sanções provocaram uma lenta, mas firme, demolição do aparato estatal iraquiano até ao ponto em que o país não teria a mínima condição de reagir a um ataque das forças armadas dos EUA.
Então, era só buscar as condições políticas - opinião pública favorável - para consumar a invasão. E essas condições políticas surgiram com o 11 de setembro de 2001 que, como mostram inúmeras evidências, foi um "trabalho interno" do próprio governo dos EUA.
Assim, creio que a invasão ao Irã ainda não se processou porque essas duas condições estão por ser alcançadas. A deterioração da capacidade de reação do Estado iraniano ainda não chegou ao ponto desejado pelo governo dos EUA bem como as condições políticas não estão satisfeitas; é preciso ainda conquistar a opinião pública favorável da maioria da população mundial para a invasão.
Aí se argumenta que a criança tem fins pacíficos!
Mas se a tal criança assistiu um daqueles filmes hollywoodianos tipo "o esquartejador".
Não faz mal, o titiu Lulinha garantiu que não há perigo.
Pois eu digo que ele perdeu o foco. Encheram a bola dele e o dito cujo está se achando o craque que o Dunga não levou. Volta pra casa Lula. Daqui a pouco o Tio Juan Carlos vai mandar dizer: Cala-te. Cala-te Lula.
Há um trecho do seu artigo assim:
"A Casa Branca não aceita democracia entre os povos. Que significa todos os países terem direitos iguais. Não aceita a soberania nacional de outros povos. Não admite que cada povo e respectivo governo controlem seus recursos naturais."
Que a Casa Branca não aceite "todos os países terem direitos iguais", que não aceite "a soberania nacional de outros povos", concordo.
No entanto, dizer que a Casa Branca "não admite que cada povo e respectivo governo controlem seus recursos naturais" me parece uma ingenuidade. Pois parece supor (é a impressão que me dá) que cada governo é legítimo representante de "seu" povo.
A mesma crítica faço ao trecho do seu texto "A Casa Branca não aceita democracia entre os povos". Democracia é entre pessoas. Entre povos, principalmente quando representados por seus governos constituídos (que em geral não são lá muito legítimos), falar em "democracia" é mero jogo de palavras. A quem isto servirá, não sei, mas imagino que dependerá das correlações das forças de poder que estiverem de plantão a cada momento. O que pode não ter muito a ver com interesses realmente populares.
Abraços,
Augusto de Almeida
É verdade que os números que interessam aos brasileiros estão muito bem escamoteados sob rubricas falaciosas, quando não confundidas em nomes e estimativas. Da mesma forma, o ponto de agenda positiva do governo Lulla está bem escamoteado em um pequeno parágrafo, referente a positiva (ao ver deles)intervenção diplomática do Brasil na "contenda".
Ora! Lulla reafirma o NÃO direito do Irã ter uma bomba nuclear, sem ter a mesma ênfase nos países que já as têm, em clara dubiedade do seu discurso.
Aqui não se trata de sermos ou não a favor do uso da energia nuclear para fins bélicos, mesmo que "defensivos". Aqui tratamos de direitos iguais aos países soberanos. Outrossim, os dois articulistas dizem-se contra a energia nuclear para belicidades e produção de energia mas, no frigor dos (nossos) ovos, apóiam politicamente o governo Lulla, ou ao menos não ousam uma fala oposicionista firme, como muitos fazemos. Ficam no frapé, com quedas de amores recorrentes.
Ademais, os articulistas , embora contra as bases estrangeiras em "nossos países", eximem-se de comentar o recente acorsdo militar entre Brasil-EUA, pornográfico na sua essência e cruel na execução.
E se esquecem de comentar, já que falam em planeta saudável, que 66 Usinas Termoelétricas no Nordeste, e outras no Pantanal, é crime para prisão perpétua, se houvesse justiça no mundo.
Assim, a opção em dar uma agenda positiva ao Lulla, não me passou desapercebida em um texto que, como dizia o velho bordão humorístico do grande ator Brandão Filho "Tava indo tão bem...".
E, que me perdoem aqueles que certamente me pensam muito rigoroso em algumas análises, mas texto sem subtexto e contexto não faz parte das minhas interpretações sobre escritos políticos, principalmente.
E é evidente que não exijo esta leitura, por parte de jovens alunos do curso fundamental. Meu recado é para outras pessoas, mais crescidinhas.
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