Segundo turno
- Detalhes
- Frei Betto
- 15/10/2010
Surpreendeu a votação (quase 20 milhões de votos) recebida por Marina Silva. Votos dados a ela e não ao PV, pois o eleitor vota em pessoas mais que em partidos. Isso coloca algumas questões.
Muitos eleitores de Marina se coligaram pelas redes sociais da internet. Esta funciona, sim, como poderoso palanque virtual. Milhares de pessoas estão permanentemente dialogando através da web. E isso ajuda a formar opinião.
Curioso é constatar que a militância virtual cresce na proporção em que se reduz a do corpo a corpo, do militante que, voluntariamente, saía às ruas, panfletava, pichava muros, distribuía santinhos e vendia brindes para arrecadar fundos de campanha. É lamentável observar a ausência de militância voluntária em eventos eleitorais, substituída por pessoas remuneradas que, por vezes, nada sabem do candidato que propagam.
Ao contrário do que, até agora, supunham PT e PSDB, o tema da preservação ambiental interessa sim ao eleitor. Já não é pauta "apenas dos verdes". A sociedade, como um todo, está preocupada com o aquecimento global, o desmatamento da Amazônia, a construção de hidrelétricas poluidoras.
Marina Silva se afirmou politicamente como representante de importantes demandas da sociedade que ainda não foram devidamente assumidas pelo PT e o PSDB. Parafraseando Shakespeare, há mais coisas entre a esquerda e a direita do que supõem os atuais caciques partidários. Criou-se, assim, uma fissura, quebrando a polarização bipartidária. E, para muitos, abriu-se uma nova janela de esperança.
A candidatura de Marina Silva ajudou a bloquear o suposto caráter plebiscitário do primeiro turno. Agora, Dilma e Serra têm que, obrigatoriamente, debater propostas e programas de governo. O eleitor não quer saber se FHC ou Lula foi melhor presidente. Interessa-lhe o futuro: como promover o desenvolvimento sustentável? Como o Estado pode oferecer mais eficientes segurança pública e sistemas de educação e saúde? Como a Amazônia e as nossas florestas serão preservadas?
Marina é neófita no PV. E assim como Lula é maior que o PT, ela também é maior que o PV. E a história do PV está marcada, como ocorre nos outros partidos, por contradições. Participou do governo Lula (ministério da Cultura), em nível estadual do governo Serra em São Paulo (secretaria do Meio Ambiente) e no Rio apoiou César Maia (DEM) candidato a senador.
O PV poderá continuar em cima do muro ou até mesmo deixar-se seduzir pelo canto das sereias e aceitar propostas de cargos no futuro governo federal. Marina não. Ela tem uma história de coerência e testemunho ético. Portanto, a candidata do PV não tem o direito de manter-se neutra no segundo turno.
Em política, neutralidade é omissão. Nenhum aspecto de nossas vidas – da qualidade do café da manhã ao transporte que utilizamos – escapa ao âmbito da política. E Marina não veio de Marte. Veio do Acre, das Comunidades Eclesiais de Base, da escola ambiental de Chico Mendes, do PT pelo qual se elegeu senadora e graças ao qual se tornou ministra do Meio Ambiente em dois mandatos de Lula.
O eleitor espera que Marina se posicione, e o faça em coerência com sua história de militância e seus princípios éticos e ideológicos. Seria uma decepção vê-la em cima do muro para observar melhor os dois lados… Fiel não é apenas quem abraça convicto determinada religião. Há que ter fidelidade também à trajetória que permite a Marina se destacar, hoje, como uma das mais importantes lideranças políticas do Brasil.
O que está em jogo, agora, não é o futuro eleitoral da senadora Marina Silva e seu rico patrimônio político de quase 20 milhões de votos. É o futuro imediato do Brasil. Nos próximos quatro anos, a influência dela pesará nos rumos de nosso país. Por isso, é preciso que, embora adepta do verde, ela amadureça o quanto antes o seu posicionamento entre os dois projetos de Brasil em questão.
Frei Betto é escritor, autor de "Calendário do Poder" (Rocco), entre outros livros. Website: http://www.freibetto.org/
Twitter: @freibetto
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Comentários
(uma avaliação aplicada à atual conjuntura eleitoral 2010).
“Falta a nós aquilo que faltou aos hebreus durante os 400 anos de sua estadia no Egito. Faltavam líderes e profetas, capazes de perceberem o sentido real da situação e de levarem o povo a tomar consciência disto. Líderes para a libertação efetiva surgiriam do próprio povo uma vez esclarecido sobre a sua situação. Assim surgiram Aarão, Josué e outros. Mas líderes, como Moisés, que soubessem compreender as verdadeiras dimensões da opressão, esses faltavam. Será que os sacerdotes hoje são realmente profetas neste sentido?”
CARLOS MESTERS, em “Palavra de Deus na história dos homens” (1970).
Essas sábias palavras acima de Carlos Mesters - um dos mais profundos biblístas do Brasil e do mundo - escritas ainda em 1970, cabem, como uma luva, à reflexão da atual conjuntura eleitoral de 2010.
Centenas de líderes religiosos, intelectuais, políticos, artistas e ativistas manifestaram, nesse 2° turno, voto à candidata Dilma em oposição à candidatura Serra. Rigorosamente, TODOS os argumentos centraram-se em aspectos diferenciais meramente pontuais entre os governos FHC (PSDB) e Lula (PT). O recurso apelante à falsa dicotomia entre o “bem” e o “mal” e à análise política de fatos totalmente arrancados do seu contexto mais amplo e complexo, foi a tônica legitimadora do discurso. Uma surpresa desagradável, não pelo conteúdo em si, mas pelos respeitados setores que, desta vez, vieram estranhamente propagá-lo, dos quais naturalmente se esperava uma postura mais larga e reflexiva.
Nesse episódio, infelizmente, sobrou pragmatismo e faltou profetismo, como apontou o teólogo. Salvo vozes isoladas (como a de Plínio de Arruda Sampaio em seu importante manifesto de VOTO NULO), a opção majoritária foi pelo silêncio em relação a certas verdades que deviam ser ditas.
Em primeiro lugar, a verdade de que o povo não está escolhendo Dilma para presidente, e sim Lula que, contudo, não é candidato. Em segundo lugar, principalmente, a verdade de que Lula, nos seus anos de governo, não representou os interesses populares e sim essencialmente os interesses das elites burguesas, tal como os governos anteriores. O que Lula fez - mais movido por uma conjuntura imposta do que por sua própria decisão política - foi apenas agraciar os pobres e miseráveis com MIGALHAS para poder continuar com tranquilidade enchendo os cofres dos ricos com o dinheiro retirado do bolso e do suor desses mesmos pobres e miseráveis e da população em geral.
Isso não foi dito por quem precisava dizê-lo. Esses setores ditos progressistas, apoiados em um falso pretexto de evitar o “mal maior” (o eventual governo Serra), preferiram trair tudo, ou melhor, os princípios que sempre defenderam e pregaram. No fundo sabem (muitos até afirmaram claramente isto ainda no 1° turno!) que, nessa atual disputa eleitoral, não há o “menos ruim”: ambos os candidatos, cada um do seu jeito, representam o mesmo projeto de poder à serviço do grande capital, em detrimento da destruição do povo (em todos os aspectos). Não quiseram dizer, mas sabem que ambos os candidatos servem e continuarão servindo à chamada “cultura da morte”.
Na verdade, o que faltou a esses setores foi CORAGEM de encarar o povo, carente de tudo e, por isso, tão agradecido às MIGALHAS que Lula vem lhe oferecendo (sabe-se lá até quando), e dizer-lhe a verdade: esse governo é seu inimigo tal como os outros. A diferença é que quer comprá-lo. Não se venda. Lute pelo que é seu! Lute pela sua dignidade enquanto homem e classe trabalhadora! E aqui vale lembrar o nosso grande profeta D. Helder Câmara, em seu poema “APELO A LÁZARO”: “Pelo amor que tenho aos ricos/ - a quem não devo julgar,/ a quem não posso julgar/ e que custaram/ o sangue de Cristo/ - eu te peço Lázaro,/ não fiques nas escadas/ e não te deixes enxotar.../ Irrompe banquete adentro, vai provocar náuseas/ nos saciados convivas./ Vai levar-lhes/ a face desfigurada de Cristo/ de que tanto precisam/ sem saber e sem crer”.
Faltou a postura profética de Moisés que nunca sucumbiu às tantas pressões e chantagens do povo atribuindo-lhe a responsabilidade pelo seu sofrimento (fome, sede) no percurso do deserto rumo à terra prometida. Nessa questão, Moisés sempre foi enfático: o sofrimento que o povo passava era fruto da sua própria insegurança e recuo em relação ao projeto de libertação e liberdade proposto por Javé.
O papel de Moisés foi sempre mostrar ao povo que não há saída paliativa. A solução verdadeira é o seguimento firme dos mandamentos de Deus, dos seus valores e princípios. Esse continua sendo o papel que Deus chama todos os homens e mulheres de bem, comprometidos com a causa popular, a assumir na sociedade.
RIO, 20/10/10
RINALDO MARTINS DE OLIVEIRA
COMO DENÚNCIA DA CULTURA DE MORTE
Tenho 40 anos de idade e 27 anos de militância social intensa e ininterrupta no meio estudantil, popular, eclesial, partidário, cultural e sindical. Posso dizer que a minha modesta compreensão da política (no seu sentido mais amplo e complexo), bem como da vida (também no seu sentido mais amplo e complexo), foi toda adquirida, nessas quase três décadas de atuação, a partir de duas vertentes principais: 1ª) da ação política direta e permanente nas “bases”, ou melhor, junto às pessoas concretas pertencentes e participantes dos meios sociais onde pude também pertencer e participar; 2ª) da profunda influência recebida de várias personalidades importantes do meio religioso, político, artístico e intelectual, pelo seu testemunho autêntico e pelo seu pensamento libertário.
Essas pessoas me ajudaram e estimularam a refletir cada passo (e a cada passo) das minhas práticas e experiências políticas e, a refletir também as questões existenciais suscitadas nessa dinâmica, permitindo-me ter hoje o firme entendimento de que todas as nossas ações e decisões políticas - seja com qual circunstância conjuntural elas se depararem - devem ser sempre pautadas na observância radical dos profundos princípios a que tantos homens, mulheres e povos no passado remoto e recente dedicaram toda a sua vida.
Esses princípios são aqueles centrados na DEFESA DA VIDA em primeiro lugar. Aprendi nessa minha curta caminhada que, diante da brutal realidade em que vivemos nas nossas sociedades, provocada principalmente por um sistema perverso de poder, essa defesa da vida, para que seja levada às últimas conseqüências e para que tenha eficácia nos seus objetivos concretos, deve passar, antes de tudo, pela forte denúncia e combate, sem trégua ou relativizações, a toda e qualquer forma de opressão que se possa estabelecer contra a dignidade humana dos indivíduos e da coletividade.
Infelizmente muitas dessas pessoas valorosas, desejando legitimamente se definir politicamente nessa atual e conturbada conjuntura eleitoral presidencial (2° turno/2010), estão, porém, acabando por contrariar a posição que sempre observaram, da defesa da vida e, conseqüentemente, da denúncia das estruturas que levam à morte. Em decorrência de e em resposta a uma campanha desonesta, apelativa e reacionária promovida pelo candidato Serra (PSDB) e pelos setores conservadores aliados, surgiram várias declarações e manifestos assinados por importantes e experimentadas personalidades progressistas dos meios sociais, em apoio aberto à candidatura Dilma (PT).
Nos argumentos divulgados, a tônica é a mesma: que entre os governos FHC (PSDB) e Lula (PT) houve diferenças qualitativas (grandes ou pequenas, dependendo do teor de cada manifesto), em mérito a este e em desmérito àquele. Ou seja, enquanto Lula em suas políticas, de forma ou de outra, teria promovido a dita “cultura da vida”, FHC teria realizado um governo retrógrado, centrado na “cultura da morte”.
Em decorrência desse raciocínio, alega-se que a vitória de Serra representará o “recuo de várias conquistas sociais”, o “abandono à opção preferencial pelos empobrecidos” adotada pelo atual governo, bem como o “retrocesso a uma ofensiva neoliberal, de direita e conservadora no País”, etc. Já o governo Dilma representará justamente a continuidade dos avanços iniciados pelo governo anterior.
No meu entender, essa é uma compreensão superficial da realidade, movida por critério que isola os fatos do seu contexto mais amplo e complexo. Aliás o mesmo critério utilizado pelos setores conservadores em ataque leviano à candidatura Dilma, identificando-a como defensora do aborto.
Respeito a posição dos que ora estão defendendo a candidatura Dilma como a melhor opção, ou, alguns, como a opção “menos ruim”. Contudo, mantenho a minha posição de que não houve diferença qualitativa alguma entre os governos FHC e Lula, pelo menos no que tange à promoção da vida a que estamos nos referindo e colocando como centro de todo projeto libertário. Ambos os mandatos representaram não os interesses populares e sim essencialmente os interesses dos grupos dominantes.
Em outras palavras, cada um do seu jeito, de uma forma específica e, sobretudo, pautados por macro-conjunturas impostas diferenciadas, serviram ao mesmo projeto do grande capital, ou no sentido existencial, estiveram rigorosamente alimentando e desenvolvendo a mesma política da destruição da vida e da dignidade humana dos indivíduos e da coletividade, sobretudo a população mais pobre, política esta historicamente implementada no país e no mundo pelo sistema dominante capitalista.
Avalio que essas personalidades a que me refiro - que tanto admiro e tanto me influenciaram a ter hoje esse posição firme de DENÚNCIA sobre os dois candidatos (e seus partidos) que ora disputam o comando do país - estão agora contraditoriamente cometendo o mesmo erro do pragmatismo político, ou seja, das falsas saídas imediatistas, que tanto combateram justamente pela certeza de que não só nunca ajudaram como sempre historicamente prejudicaram a construção coletiva de um projeto de sociedade calcado nos valores da justiça e da igualdade.
Nesse momento em que os valores religiosos estão sendo tão enaltecidos por ambos os candidatos, vale lembrar que, em especial, foi o pragmatismo político o objeto central das críticas e denúncias dos grandes profetas bíblicos. Esses (Moisés, Jeremias, Jesus, etc) foram tão radicais no ataque a esse tipo de política, que não temeram sequer o conflito com o próprio povo, a que tanto amavam, quando tiveram que optar entre sucumbir às pressões populares por falsas soluções imediatistas e paliativas dos problemas coletivos enfrentados, ou manter a coerência da defesa das soluções duradouras a partir da observância dos princípios de Deus.
A verdade é que, muitas vezes, a maior tentação (ao pecado) que sofremos não vem do inimigo opressor, mas do próprio povo oprimido. Vem do medo de contrariá-lo, ainda que seja necessário, para o seu próprio bem. Há fartas passagens na Bíblia que isto ocorre com os profetas. A mesma Bíblia mostra que é mediante esse conflito que a maturidade do povo cresce e faz avançar a luta da libertação. Esse é o objetivo maior de todo revolucionário: ajudar o povo a crescer e promover a própria libertação.
RIO, 18/10/2010.
RINALDO MARTINS DE OLIVEIRA
Ela não podia dar apoio a nenhum dos dois, porque ela já é candidata para daqui a quatro anos e criticou os dois, PT e PSDB, no primeiro turno. Seria incoerência dela apoiar, agora, qualquer um dos dois. E se ela quer ser candidata à presidência novamente, o que ela não pode ser é incoerente.
Se ela apoiar a Dilma nessa eleição, como é que ela vai enfrentá-la na próxima eleição presidencial? O que a Marina deve tentar fazer é solidificar seu crescimento nos grandes colégios eleitorais: SP, MG, RJ, BA, RGS, etc. nos próximos anos. Obviamente, Marina já está em campanha para 2014.
A começra pelo fato de ter aceitado o presidente da Natura como seu vice. Para quem não sabe a Natura faz biopirataria, explorando conhecimentos milenares de comunidades indígenas. O que o ministério da Marina fez? Apoiou a Natura na exploração de frutos e flores da Amazônia.
É fundamentalista!!! Não gosto do seu discurso religioso demais.
Não aguenta pressão. Quando estava no ministério, adoecia com muita facilidade.
Não gosto e nunca votaria na Marina.
Serra é contra o direito de expressão. Ele conduz a desinformação para confundir. Enquanto 80% da opinião pública diz que o governo Lula e bom ou ótimo, a mídia diz que este é o pior governo do mundo.
O Serra é uma ameaça para o meio ambiente pois venceu em todas as regiões do agronegócio, as regiões do DEM , dos latifúndios e desmatamentos que impedem as ações dos ambientalistas
Serra que acabar com o meio ambiente – Marina tem o PT e o PV no coração.
Depois de um operário na presidência do Brasil, um negro na presidência do pais mais poderoso do mundo agora é a vez de uma mulher na Presidência do nosso pais. Dilma compreende administração e política – governo e democracia. Ela é capaz de pensar a partir do que o outro diz...
Veja depoimento da Folosofa MARILENA CHAUI em http://inaciovacchiano.wordpress.com/
Passadas as eleições, vejo uma Marina exultante com o resultado, dizendo que vai esperar plenárias do partido para se decidir.
Alguém não sabe o resultado das plenárias do PV? Estou esperando prá ver. Estamos a 15 dias da eleição e ela ainda está saltitante e exultante.
Não acredito que vá se posicionar. É uma pena! Jogar uma história tão linda na lata de lixo, em que é impossível reciclar.
Passou da hora.
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