Correio da Cidadania

2011 esportivo: seleção em obras e obras para toda a nação

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Como foi a toada dos últimos anos, o esporte continuará a ter um lugar de destaque em nossos noticiários e cotidiano em 2011. Tanto pelas competições que sempre ocorrem mundo afora como pelos preparativos para os grandes eventos que nosso país sediará em 2014 e 2016.

 

Dentro das quatro linhas, inicia-se um novo ciclo na seleção brasileira, inaugurado com a contratação do treinador Mano Menezes e que começará a ser posto à prova já em janeiro. Comandada pelo ex-técnico do Coritiba, Ney Franco, a seleção sub-20 disputa o sul-americano da categoria e precisa chegar entre os dois primeiros para garantir vaga nas Olimpíadas de Londres 2012, na qual se buscará alcançar a inédita medalha de ouro na modalidade.

 

Em seguida, a seleção volta suas atenções à Copa América, a ser jogada em julho, na Argentina, primeiro grande teste da nova era, quando deveremos ver um time mais arejado e leve em relação ao de Dunga, e muito mais voltado à prática do bom e velho futebol canarinho. Não faltam jogadores jovens aptos a preencher os lugares no time dentro de nossas tradições e exigências. Neymar e Ganso simbolizam a geração, mas não são os únicos.

 

No âmbito nacional, continuamos a ter um calendário inchado e insano, com excesso de jogos especialmente nos campeonatos estaduais, que por sua vez se iniciam já neste mês. Nada será feito para enxugá-lo ou ao menos alinhá-lo ao europeu, de modo que não tenhamos que perder nossos talentos no meio das competições.

 

Continuaremos também a ter divisões de acesso precárias, abandonadas pela monárquica CBF, que só tem olhos para a rentável seleção brasileira e suas milionárias excursões. Arrecadando cerca de 200 milhões de reais anuais, a entidade ‘presidida’ por Ricardo Teixeira diz não ter condições de fomentar nosso futebol nos estratos menos privilegiados (da terceira divisão pra baixo e futebol feminino), mantendo-os ao relento e na desordem.

 

Além disso, teremos seis clubes brigando pelo título da Libertadores da América (Corinthians, Grêmio, Internacional, Santos, Cruzeiro e Fluminense) e veremos o último ano da carreira de Ronaldo, artilheiro do último título mundial do Brasil, que após tantos calvários físicos diz que seu corpo pede o fim de sua vida futebolística. Sentiremos saudades.

 

Também no meio do ano, serão realizados os jogos Pan-americanos, em Guadalajara (MEX), evento que servirá como primeiro termômetro sobre o nível de nossos atletas nas mais diversas modalidades com vistas às Olimpíadas.

 

O país tem investido na melhoria da estrutura em diversos esportes individuais que distribuem muitas medalhas (atletismo, natação, lutas) e até 2016 haverá tempo para auferir a abrangência do trabalho. Preocupa o fato de o Brasil continuar a investir pouco na estrutura de base, nas escolas, que facilitaria, e muito, a aparição de novos talentos, concentrando esforços quase exclusivamente no nível profissional.

 

Entretanto, se sobra dinheiro para obras pelos quatro costados do país, é de se imaginar que com o mínimo de seriedade também se invista e atinja algo de satisfatório em termos de desempenho nas competições. E será preciso bastante trabalho para o alcance da meta oficial brasileira: ficar entre os dez primeiros do quadro de medalhas, o que nunca nos ocorreu.

 

País-canteiro

 

Saindo das quatro linhas, ou o que o valha, entramos na arena que realmente tem atraído a atenção de gente dos mais variados ramos de atuação: as obras públicas nas cidades-sedes da Copa e especialmente no Rio de Janeiro, que também abrigará os Jogos Olímpicos.

 

Como dito em outros artigos, pouco adianta agora fazermos projeções de orçamento. Não apenas no Brasil, mas mundo afora, os gastos de tais eventos sempre têm superado, largamente, as previsões originais, e no nosso caso podemos esperar por um inchaço ainda maior, por fatores múltiplos.

 

Em primeiro lugar, o Brasil precisa inadiavelmente dar início, de forma séria, às obras para a Copa de 2014, o que pode parecer bastante, mas é pouco tempo diante do tamanho das exigências, algumas absurdamente exageradas, pasteurizantes (pois visam transformar o torcedor num mero e passivo espectador) e, claro, caríssimas.

 

Como manda nossa tradição, a maioria das obras dos estádios, as mais importantes, já está atrasada. O prazo para o fim das licitações e início das construções já foi prorrogado mais de uma vez, o que salvou algumas cidades mais retardatárias, como Natal, que ainda corre risco de ficar sem a Copa.

 

Em outros locais, a situação não é muito melhor. A Transparência Brasil levantou que a nova Fonte Nova, orçada já em estratosféricos 600 milhões, custará ao todo 1,4 bilhão de reais ao poder público, somando isenções, manutenção e outros gastos mais invisíveis. Fortaleza, Brasília e Manaus enfrentam um vai-vem de liminares que liberam e suspendem os processos.

 

No Mato Grosso, tudo uma maravilha. Licitações, contratações, obras, tudo dentro dos prazos. Pelo simples fato de que por lá Blairo Maggi é a lei, e desde que ele decidiu levar a Copa a Cuiabá, não há quem possa fazer qualquer frente. Além disso, a cidade dispõe de uma dinheirama sem fim, que cresce à medida em que se esvai o Cerrado.

 

Quanto ao Rio de Janeiro, continua rolando a céu aberto e sob passividade geral o assassinato do Maracanã. Por 700 milhões de reais, o consórcio de empreiteiras já está reconstruindo, e descaracterizando, o maior templo do futebol nacional. Isso depois de inúmeras reformas, já muito custosas, nos últimos anos.

 

Quanto a São Paulo, segue a pendenga em que se encontra a definição sobre seu estádio. Ainda não está claro se as obras em Itaquera, para o que seria finalmente a casa do Corinthians, sairão do papel. E apesar das negativas oficiais acerca do uso de dinheiro público, é difícil acreditar que ele não venha, no mínimo com empréstimo do BNDES, sem contar outras formas de apoio.

 

Fica evidente que o interesse não é o bem estar do torcedor, e sim a gastança e posterior elitização dos estádios, de modo a torná-los mais palatáveis às classes A e B e também mais rentáveis. Contra tamanhos interesses escusos, os poderosos do futebol poderão ser um pouco mais incomodados com o surgimento da Associação Nacional dos Torcedores (ANT), que visa exatamente se contrapor à cada vez mais denunciada elitização de nossa brincadeira mais popular.

 

Desse modo, as principais cidades brasileiras têm tudo para se transformar num enorme e provavelmente exasperante canteiro de obras. Em lugares onde já predomina o caos na organização urbana, como São Paulo, Rio e BH, dá até medo pensar o que será o dia a dia até a consumação dos eventos. Fora o massacre que pode ser, e apostamos que o será, perpetrado contra diversas comunidades localizadas em áreas de interesse empresarial, como já se vê descaradamente no caso carioca.

 

Afinal, o grande lance de uma Copa ou Olimpíada é a turbinada que diversos setores da economia podem receber, com obras de infra-estrutura, necessidades hoteleiras, viárias, aéreas etc. Além do mais, a situação dos aeroportos ainda está longe de ser resolvida e todos precisam de melhorias, outro excelente caminho para o escoamento do dinheiro público, especialmente se no final das contas a iniciativa privada puder administrar alguns deles.

 

Em suma, para amigos do governo, trata-se de um prato muito cheio. Basta ver que todas as obras até aqui estão concentradas nas mãos das mesmas empreiteiras de sempre, aquelas que sabemos bem como agem e passaram a vida tendo seus esquemas, sujeiras e cartéis denunciados e escancarados inúmeras vezes.

 

A triste verdade é que os próximos anos se desenham alvissareiros às aves de rapina do país, e cada vez mais do mercado internacional, crescentemente convidado a entrar em nossas cidades com seus empreendimentos e negócios, como não se cansam de anunciar, por exemplo, Eduardo Paes e Sergio Cabral, os gerentes dos interesses privados na cidade e estado do Rio de Janeiro.

 

Restará aos bons cidadãos e à boa imprensa saber atuar como ‘sujeitos históricos’, dispostos a registrar uma história diferente da que será contada pelos grandes aliados dos eventos, governos e empresários, com seus filmetes hollywoodianos e matérias-propaganda exaltando o otimismo de nosso sempre crente e amável povo brasileiro.

 

Gabriel Brito é jornalista.

 

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Comentários   

0 #1 Mais gastos!Sturt Silva 11-01-2011 09:29
As obras do Maraca já dobraram.
E quando chegar perto das competições e 'os caras' verem que não vai dar tempo ou que tem algum problema,eles aceleram e isso piora e muito.
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