Em 2013, domínio político-empresarial se aprofundará no esporte
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- Gabriel Brito, da Redação
- 03/01/2013
No mundo dos esportes, o ano de 2013 já começa no embalo do anterior, dando prosseguimento aos projetos e acontecimentos da temporada recém-encerrada, tanto no âmbito do futebol como no dos demais esportes, ditos olímpicos.
Após um ano turbulento, a CBF e sua seleção ficarão sob a rigorosa mira da torcida brasileira, que estará de olho nos trabalhos da nova comissão técnica, sob os auspícios do pentacampeão Felipão, tendo na Copa das Confederações sua prova de fogo com vistas à montagem do escrete que buscará o hexa dentro de casa.
Tal competição também será um exame decisivo para os novos estádios – ou arenas, como prefere o universo corporativo –, que já começam a ser inaugurados a rodo. Antes mesmo da virada de ano, o governo federal promoveu eventos oficiais, e sem prática esportiva alguma, de reinauguração dos remodelados Mineirão e Castelão, duas das sedes da Copa.
Os demais dez estádios a serem utilizados também deverão finalizar seus trabalhos até o final do ano que inicia, apesar de alguns deles darem claros sinais de atraso e complicação nas obras – especialmente no que tange o financiamento.
A partir disso, uma nova era será inaugurada no futebol nacional, com luxuosas praças esportivas, recheadas de estabelecimentos comerciais, criando um novo padrão de público, claramente mais voltado e disposto ao consumo.
Ficarão cada vez mais na memória, e tão somente nela, os tempos de grandes massas ocupando os degraus de concreto até não mais poder, com festas e manifestações praticamente incontroláveis, adornadas por toda a pirotecnia, adereços e símbolos em pano que embelezavam o espetáculo daqueles que outrora eram chamados de 12º jogador.
Agora, vislumbra-se o novo tempo, das “famílias” (de classe média e alta) nos estádios, de comportados fãs domesticados pela cultura do futebol-negócio, mais ávidos em registrarem em seus aparelhos eletrônicos a distinção de sua presença nos novos templos de “fruição” do que em “ganhar o jogo fora de campo”.
Como ilustração extremada, talvez sirva a imagem daquele torcedor de geral do Maracanã tantas vezes registrado pelas lentes do Canal 100 dando lugar àquele típico fã de beisebol ou futebol americano, que passa metade do jogo sentado desfrutando de sua coca-cola e cachorro quente de meio metro.
De todo modo, são tempos de fartura financeira para os clubes brasileiros, que, na esteira da ascensão econômica do país e suas grandes empresas, conseguiram novos contratos de televisão e patrocínio, além de terem aprendido a explorar o poder de arrecadação ofertado por suas numerosas torcidas.
Sendo assim, são altas as chances de alguma equipe local faturar a Copa Libertadores e tentar repetir a façanha corintiana no Japão, uma vez que a diferença de poder econômico com os “co-irmãos” continentais está altíssima.
No plano interno, teremos sérios problemas, uma vez que o já lastimável calendário sacrificará ainda mais as principais equipes e jogadores.
Ao manter a enorme reserva de datas aos torneios estaduais e obrigada a suspender o futebol doméstico por um mês em função da Copa das Confederações, além de voltar a permitir aos participantes da Libertadores jogarem a Copa do Brasil, a CBF causará grande prejuízo aos clubes, que serão frequentemente desfalcados e também sofrerão com, probabilíssimo, alto número de contusões de seus atletas. E sem que a dona da seleção compartilhe os prejuízos.
Vislumbrando a Copa do Mundo e suas obras de infraestrutura, nada muito fora do previsto. Muitos atrasos e o providencial (não para nós) Regime Diferenciado de Contratações, que visa oferecer facilidades na contratação de empresas executoras de obras públicas, prometidas como legado mais importante dos megaeventos.
No entanto, matéria recente do Valor Econômico apenas atesta a farsa: “Ao todo, a matriz de responsabilidades lista 50 obras de mobilidade nas 12 cidades-sede, com orçamento estimado em R$ 11,48 bilhões. Manaus, São Paulo e Brasília, no entanto, já assumiram que não conseguirão terminar as grandes obras de mobilidade previstas”.
É certo que uma parte de tais projetos é faraônica e desnecessária, fruto de ideias trocadas entre governantes e seus interessados financiadores, sem nenhum embasamento social e urbanístico. De toda forma, ficará visível que o grande legado a ser acolhido socialmente é o da gastança desenfreada e do lucro privado.
Olímpicos
Na área olímpica, também seguirão os preparativos para o Rio-2016, sem grandes alterações na rota até aqui traçada.
Como já se nota, não há nenhuma grande novidade em termos de política esportiva, de modo que o Comitê Olímpico Brasileiro, o COB, com grande subsídio do governo federal, aprofundará o investimento em atletas de elite com potencial de bons resultados e continuará deixando de lado o investimento na base e nas escolas.
Tal como ocorreu com Ricardo Teixeira na CBF, é possível depositar esperanças em que a ‘Era Nuzman’ chegue ao fim, tamanha a quantidade de descalabros na gestão do COB e suas relações com as confederações de cada modalidade.
Assim como seu correlato do futebol, Carlos Arthur Nuzman tem uma trajetória despótica e recheada de críticas em sua gestão.
Uma recente série de matérias da ESPN Brasil tocou em suas feridas, mostrando que o COB atrela os repasses financeiros de verba ao apoio político ao eterno presidente da entidade.
Desse modo, é possível que sofra o mesmo processo de fritura, inclusive com velado apoio oficial, a fim de preservar a credibilidade dos Jogos Olímpicos diante do público, até porque boa parte dele já desacredita da lisura dos gastos em torno dos megaeventos esportivos.
Ainda assim, a chancela do Estado seguirá inabalável, como mostram os números dos investimentos, que apontam uma elevação dos gastos governamentais nos preparativos auxiliares da Olimpíada, no sentido de prover a divulgação, instalações, estruturas móveis e de segurança, além das cerimônias festivas dos jogos.
Isso sem contar a parte mais custosa, a da construção das instalações esportivas, que no caso já estavam previsivelmente na conta dos governos (em torno de 10 bilhões de reais). Inclusive em relação ao complexo aquático Maria Lenk e ao velódromo da cidade, que, apesar das grandes reformas para o Pan-2007, terão de ser reconstruídos por não atenderem aos padrões de competições olímpicas.
Em relação ao que deveria ser um estádio olímpico, o Engenhão, também construído a preço hiperinflacionado na época do Pan, vimos que foi concedido ao Botafogo e jamais foi utilizado de maneira realmente poliesportiva, muito menos tornado acessível às comunidades e habitantes de seu entorno.
Provavelmente, veremos um país pronto para superar seu desempenho histórico no quadro de medalhas – almeja-se uma posição entre as dez melhores nações. No entanto, não se vislumbra uma política constante e enraizada de apoio ao esporte em todas as suas instâncias, especialmente nos mencionados âmbitos de base e escolas, isto é, da formação permanente de esportistas, inclusive sem a necessidade de se tornarem profissionais.
Assim, continuaremos à mercê dos entendimentos político-empresariais que comandam os atuais processos esportivos, com pouca participação social e de personalidades realmente vividas e dispostas a colaborar com o desporto nacional. Este ainda se encontrará longe de uma vasta acessibilidade por parte da população e da cultura de formação sócio-educativa brasileira.
Gabriel Brito é jornalista do Correio da Cidadania.