De antíteses e contrastes
- Detalhes
- Gabriel Perissé
- 14/11/2007
Os contrários se opõem, e se atraem. O contraste delimita, e aproxima. A luz faz a sombra, e a sombra faz a luz. De antíteses e contrastes vivemos. Mas nem sempre os vemos.
O pontífice tem por função construir pontes, e ao seu lado caminha o murífice, o construtor de muros.
Diga-me uma coisa: o nosso encontro foi casual ou foi causal?
Os antepassados eram pré-futuros no tempo do sempresente.
Os cacos da cacofonia podem fundar formosas eufonias.
E assim caminham, lado a lado, os opostos complementares. Em paz com a sua guerra, como dizia Camões, a pessoa que vê como funciona esse jogo, o tabuleiro de casas brancas e negras, sol e lua se perseguindo eternamente, cada vez se escandalizará menos com as tensões decorrentes.
Há uma intenção nessas tensões, ao que parece.
O que parece nem sempre aparece.
O rebelde questiona o autoritário, que já foi rebelde um dia contra outro autoritário.
Só podemos ouvir o som se houver silêncio.
Os livros de auto-ajuda, por exemplo. Afinal, ajudam as editoras que os publicam a publicarem outros livros. E ajudam os leitores iniciantes a entrarem na livraria e verem ali outros livros... que talvez os ajudem mais, daqui a um tempo.
Depois do temporal vem o sol, depois do sol, o temporal.
Não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe.
O que arde cura... o que não dói preocupa.
Não se trata, permitam-me explicar, de conivência com o erro, elogio da hipocrisia, apoio ao descalabro. Trata-se de análise a ser feita com a mente atenta — entender o tabuleiro, ver as peças do jogo em ação. Na Idade Mídia, ninguém mais pode se esconder. Isso é bom, isso é ruim. A transparência é saudável, e fatal.
Morte e vida conversam, se revezam.
Ora é prosa, ou poesia.
Nunca se falou tanto no tema educação. Educação como salvação. Educação como obrigação. Educação e avaliação. Nunca se viu com maior clareza (os números em cima da mesa) que a educação é o ponto de encontro de bens e males, erros e acertos, tudo e nada.
Recentemente, numa cidade do interior do Brasil, ouvi de uma professora sofrida (sem livros, sem internet, sem perspectivas) este comentário a ecoar: “— Professor, a escola é um problema. Mas só com escola podemos resolver o problema da escola.”
Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.
Web Site: www.perisse.com.br
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