Correio da Cidadania

Luzes para a educação

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Depois de tanta demagogia, tantos discursos manipuladores, tanta discrepância entre projetos e realidade, calejados estamos e sempre resta uma ponta de desconfiança quando ouvimos que, agora sim, “daqui pra a frente tudo vai ser diferente”...

Foi lançado no dia 24 de abril o PDE - Plano de Desenvolvimento da Educação. Segundo o ministro da Educação, Fernando Haddad, trata-se de plano vocacionado como iniciativa de Estado e não mais uma empreitada de fôlego curto (e curtas pernas), atrelada aos interesses de um governo. Não é Plano Lula nem Plano Haddad. É Plano Brasil. Assim esperamos...

Bem sabemos, por outro lado, que planos são planos. Ainda precisam sair do papel, sair do Planalto e descer à planície. Anunciar planos é bom, procurar entusiasmar a todos, fundamental. Ao longo da tarefa da realização, o que era genial vai deparar com o chão da realidade. Obstáculos e má vontade, porém, deverão ser identificados e contornados. Pelo ministro e também por nós. Assim esperamos...

Esperamos que a educação não desabe. Fiquei chocado ao saber que 72 escolas em Pernambuco foram recentemente interditadas por falta de segurança para mais de 68 mil alunos. Prédios a ponto de cair são a metáfora viva de um descaso com os mais pobres, e com os mais frágeis entre os pobres: as crianças (a notícia é de 23 de abril, pela Folha Online).

Esperamos que a luz chegue à educação. Fico chocado, a bem da verdade estarrecido, quando tomo conhecimento de que 34,6 mil escolas do ensino fundamental no Brasil não tinham acesso à energia elétrica em 2003 (segundo o MEC). Continuo chocado ao descobrir que, dois anos depois, em 2005, o quadro melhorou, mas não muito: uma em cada seis escolas públicas de ensino fundamental não tem energia elétrica (e cinco em cada seis não têm biblioteca, vivem sem a luz da leitura). Considerando que possuímos cerca de 135 mil escolas públicas de ensino fundamental, podemos dizer que 22,5 mil dessas escolas continuam sem energia elétrica. Como propagandear com tanta freqüência a “inclusão digital” se ainda nem superamos a fase da “inclusão elétrica”?


Quero superar a desconfiança, sem perder o senso crítico. Acreditar e esperar. Mais do que acreditar, entender. Mais do que esperar, participar. Não sei conectar fios para iluminar tantas escolas, mas conectar idéias e palavras eu sei - é o meu dia-a-dia de professor.

 

 

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.

Web Site: www.perisse.com.br

 

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