Correio da Cidadania

Romeu e Julieta não tinham telefone celular

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A história de Romeu e Julieta se passa em Verona, norte da Itália. Os dois jovens se apaixonam. Mas suas famílias se odeiam. Sabendo que os pais jamais autorizariam a união, casam-se em segredo, com a ajuda de Frei Lourenço. Logo depois Romeu se envolve numa briga, mata um homem. O Príncipe de Verona, indignado com o fato, condena Romeu ao exílio.

Romeu, em outra cidade. Sofrem Julieta e Romeu com a separação. Frei Lourenço entrega a Julieta um frasco com uma poção que a deixará em estado cataléptico durante dois dias, aparentemente morta (“living corpse”, um cadáver vivo, como escreveu Shakespeare). E se compromete a levar Romeu à cripta da família dela, a fim de que, tão logo a moça acorde da falsa morte, o casal fuja e viva feliz para sempre.

Mas Romeu não sabe do plano. Frei Lourenço envia Frei João com a missão de avisar o rapaz. E aí começam os problemas de comunicação. Este segundo franciscano não consegue sair de Verona. A carta não chega ao herói desinformado. Romeu, no entanto, por intermédio de seu criado, toma conhecimento da morte de Julieta (informação pela metade), e retorna a Verona secretamente.

Quando Romeu se aproxima de Julieta, supostamente morta, desespera-se e se suicida, tomando uma dose de veneno. Frei Lourenço chega, vê o corpo de Romeu estatelado. Julieta desperta e se mata também, com um punhal, para unir-se ao amado.

Toda essa tragédia teria sido evitada (causando-nos grande perda literária) caso Frei Lourenço dispusesse de algumas opções. Enviar um telegrama a Romeu, por exemplo. Ou talvez um e-mail. Outra possibilidade seria ligar para o telefone celular de Romeu. Aliás, Julieta e Romeu, se celulares tivessem, conversariam antecipadamente sobre o plano de Frei Lourenço e, passado o efeito da poção, marcariam eles mesmos o reencontro.

Estamos na Idade Mídia e uma das “armas” que mais se utiliza é o celular. Os criminosos aplicam golpes pelo telefone celular. Nas recentes manifestações estudantis, nas ruas da Venezuela, o celular foi usado como instrumento de mobilização, mil torpedos informativos. Na última Parada Gay, participantes usavam celular o tempo todo: romeus procurando romeus e julietas procurando julietas.

Outro dia, numa loja popular, uma senhora de 70 anos pedia à balconista que lhe explicasse como funciona esse tal de celular: “aonde que coloca a pilha?”.

 

 

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.

Web Site: http://www.perisse.com.br

 

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