Medidores humanos
- Detalhes
- Gabriel Perissé
- 15/10/2011
Existem vários instrumentos para medir. Medidores antigos e atuais, úteis ou inúteis, que com maior ou menor precisão nos mostram em que medida o homem é de fato a medida de todas as coisas...
Transcrevo aqui alguns verbetes de um Dicionário da Medição ainda inédito.
Azarômetro — mede os infortúnios numa escala de 1 a 13.
Blefômetro — não costuma ser confiável.
Chorômetro — mede o choro e outros prantos, sem direito a chorinho.
Cronômetro — mede o tempo, mas nunca explicará por que um minuto de saudade é mais demorado que uma hora de prazer.
Darwinianômetro — instrumento de medição ainda em plena evolução.
Escolhômetro — mede nossas opções, seu alcance e suas conseqüências, mas trava em caso de hesitação.
Foucaultmetro — mede as palavras e as coisas.
Gotímetro — mede o que pode ser a gota d’água.
Gratidômetro — mede a verdade de um agradecimento.
Humildômetro — instrumento que só os orgulhosos têm.
Imaginômetro — mede o inimaginável.
Jargômetro — mede a língua dos especialistas.
Leiturômetro — mede o número de páginas lidas, deixando escapar o que fica nas entrelinhas.
Medímetro — mede o medo, numa escala que vai do receio ao pavor.
Memoriômetro — mede tudo, exceto a amnésia.
Nadômetro — mede o vazio que há em tudo.
Olhômetro — medidor sofisticado com que todos nascem, mede a altura da vida e a extensão do destino.
Orgulhômetro — instrumento que só os humildes têm.
Passômetro — mede o número de passos que já demos, calcula quanto de passado já temos e quantas vezes já passamos por um mesmo lugar... sem perceber.
Perguntímetro — o que é que esse instrumento mede mesmo?
Perplexômetro — mede a imensurável perplexidade humana.
Psicômetro — quando usado por psicólogos para medir a alma de seus pacientes, quebra.
Pugilômetro — mede a força do murro em ponta de faca, do soco que se leva, do tapa na outra face oferecida.
Quantímetro — vale quanto mede.
Reflexômetro — mede a profundidade das mais incríveis reflexões.
Rotinômetro — mede o tédio, mas sujeito a quebra se for alterado.
Sismômetro — mede os abalos sísmicos; não confundir com o cismômetro, que mede as cismas que nos abalam.
Tensiômetro — mede a tensão dos ambientes.
Termômetro — mede a temperatura... e a preocupação das mães.
Umbigômetro — mede a generosidade humana.
Variômetro — mede várias coisas que jamais saberemos medir.
Vergonhômetro — aparelho em falta na terra dos sem-vergonhas.
Voltômetro — mede as voltas que o mundo dá.
Xongômetro — não mede coisa nenhuma.
Zerômetro — mede abaixo da média.
Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.
Website: www.perisse.com.br