Especulações em torno do verbo “to google”
- Detalhes
- Gabriel Perissé
- 19/10/2007
O verbo to google nasceu em 1998. Tem quase 10 anos de vida. Significa procurar informações na web através de consultas ao Google.
Em espanhol é “googlear”. Em
francês (com resistências), “googler”. Os alemães assumiram oficialmente
o seu “googeln” em 2005. Num site italiano, lê-se: “il verbo googlare è
diventato di uso comune”. Já existem em português o “googlar” e o
“guglar”. Verbo transitivo, inquisitivo, perseguidor, vasculhador. Mas nunca
ouvi nenhum brasileiro empregá-lo...
Fatalmente o verbo perderá (já está
perdendo) sua referência ao Google. Tal como gilete, em priscas eras, deixou de
ser apenas a gilete da Gillette; tal como podemos tirar xerox em qualquer
fotocopiadora, mesmo que não seja da Xerox Corporation. Vence a lei da
generalização. A força do produto enfraquece a marca original.
Qualquer mecanismo de busca, mesmo
que não seja o Google, me permite googlar. Sérgio Dávila já tratava do assunto
na Folha de S.Paulo numa matéria em janeiro de 2003. Naquela altura,
começava a ser comum a cultura do googlamento. Você vai sair com uma pessoa que
ainda não conhece muito bem? Google-o antes e descobrirá talvez que o
ilustre-quase-desconhecido formou-se em faculdade de prestígio ou participou de
uma festa baixaria.
Ou poderá também “orkutar” essa
pessoa, conhecer o seu perfil, as comunidades que freqüenta, os amigos que
adicionou. Ou, se tal pessoa tiver um blog, saberá, graças ao blogar da própria
pessoa, o que ela andou fazendo no ano passado.
Todos estamos sujeitos à googlagem
ou à googlação. Existir, na Idade Mídia, é ser googlável. Você pode estar sendo
googlado neste minuto, por um amigo ou por um desafeto. Ou por alguém que
buscava outro alguém com nome semelhante ao seu. E todos podemos googlar a nós
próprios, fonte de surpresas agradáveis, ou nem sempre.
Procurando no Google pela expressão
“gosto de googlar”, vejo que poucos gostam: são apenas 3 googles. “Vou googlar”
alcança míseros 476 googles. Apesar disso, até Ivan Lessa, mas sempre com
aquele ceticismo, aquela ironia, sabe que o caminho é um só: “basta googlar”.Jornalistas googlam o dia inteiro.
Na Gazeta de Alagoas, em março de 2003, um bom artigo sobre googlar.
É googlando que se aprende, ou se desaprende. O jornalista e pesquisador
português Herlander Elias, em 2006, definiu
“googlar” como o “verbo da década”. Só googlando para encontrar a
relevante informação.
Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e
escritor.
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