Correio da Cidadania

O crime de Protógenes

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Noel Rosa, no breque do samba, resumiu tudo: "pra quem é pobre, a lei é dura". Ou seja, o "dura lex sede lex" da expressão latina, infelizmente, não conserva validade para os segmentos dos bem postos no vértice do poder econômico que nos domina. O rumoroso caso Daniel Dantas, que ocupou espaços diários nos jornais do último semestre, é a mais recente confirmação de que o poeta de Vila Isabel sabia das coisas.

 

A lista dos crimes imputados ao banqueiro pela investigação da Polícia federal é imensa. Corrupção ativa, evasão de divisas, uso indevido de informações privilegiadas, gestão fraudulenta, empréstimos vedados, lavagem de dinheiro, trafico de influência, formação de quadrilha... Os indícios fortíssimos e, em alguns casos, a prova provada (gravação em áudio e vídeo da tentativa de subornar os investigadores) não foram suficientes para lhe restringir a liberdade de movimento. Detido algumas horas, foi salvo pelo plantão noturno do presidente do Supremo Tribunal Federal e já voltou à rotina dos negócios. E, segundo seus porta-vozes, está mais preocupado com a crise financeira, onde costuma ganhar na roleta do cassino, do que com o improvável incômodo da barra dos tribunais. Acima dos percalços menores, ele confia no $upremo.

 

Filho, neto e bisneto de potentados e barões, ele nasceu em berço de ouro e sempre "serrou de cima". Desde a mais tenra idade, forjou seu caráter na voracidade dos negócios. Os passos de sua trajetória deixaram rastros na malha de cumplicidades que associa os pontos fortes da economia com os mais altos escalões da nossa sereníssima República. Jovem engenheiro, ele operou na Odebrecht, a empreitara das grandes encomendas governamentais. Graduado em economia, esteve na cúpula do Bradesco, então o maior banco privado do país. Mais escolado, transitou pelo Banco Icatu e empreendeu vertiginosa "carreira solo" no Opportunity, onde se tornaria um dos barões das privatizações. Sempre nos bastidores do poder político, foi convidado para o governo e palpitou no plano Collor e fez parte do grupo que urdiu o Plano Real no governo FHC, no qual foi um dos articuladores e beneficiários da política de privatizações. No governo Lula, depois de breve estremecimento inicial, navega em águas tranqüilas.

 

Outra marca da trajetória do banqueiro é a sua presença no seleto e poderoso grupo dos financiadores privados de campanhas eleitorais. Sempre através de figuras interpostas e da miríade de empreendimentos sob seu controle, ele comparece sempre na formação dos fundos, contabilizados ou não. Pluralista, distribui com calculada generosidade as suas fichas entre os grandes partidos da ordem. Conserva ligação original com o PFL, cultiva a intimidade do tucanato e, conforme o revelado na CPI dos Correios, despejou milhões no mensalão petista. Dizem as más línguas que ele controla bancadas maiores do que boa parte dos partidos com assento em diferentes níveis do parlamento brasileiro.

 

Os obstáculos colocados diante da investigação aberta pela Polícia Federal sobre os crimes do banqueiro Dantas se explicam pelos elementos listados acima. Assim como a espantosa desenvoltura com que figuras de proa do alto escalão do Executivo, do vértice do Judiciário e das bancadas de grandes partidos no Legislativo se articulam no movimento que pode ser chamado de "tirem as mãos do banqueiro". Os rumos do processo, onde o investigador passou a ser investigado, indicam que a lei ("ora, a lei!") continua a ser vista como um chicote para disciplinar os de baixo. Para muito além dos desvios de tecnicalidades de que é acusado, acreditar que todos são iguais perante a lei foi o verdadeiro crime de Protógenes.

 

Léo Lince é sociólogo

 

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Comentários   

0 #3 é só um serviço de terceirização do pensmarco antonio jeronimo 25-11-2008 13:12
...
..
.

Amém?

Amém = Assim Seja

Amém?

Essa fórmula do [ amém ] pode lançar
algumas luzes em cima da problemática de qual
teria sido o verdadeiro crime de Protógenes.

...

Como?

Mutatis Mutandis, ...

( mudando o que deve ser mudado... )


A terceirização do pensamento vem sendo ao longo
de pelo menos os últimos dois milênios e oito anos
contados num desses calendários que o engenho
humano cunhou,... ,... ,... [ a tal da terceirização
do pensamento vem sendo o método de criação
de ovelhas mais exitoso de que temos notícia.

...

Por exemplo ( bem distante assim... ):

Numa igreja há terceirização do pensamento, EIS
que a própria igreja [ já pensou ] o que deveria
ou mesmo até poderia ser pensado...

e, assim, as ovelhas estão oficialmente
dispensadas de pensar...

( caso que poderia redundar em "bis in idem" )

A igreja, então, presta este serviço de terceirização
expressa 24horas, 7 dias por semana....

Com a [ comodidade ] proporcionada às ovelhas,
que se vêm sem o fardo pesado de terem que
... PENSAR ...


pagam uns porcentos, e dizem o quê?

Assim Seja,...

OU, mais nobremente,

Amém,...


@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@


A igreja tem o copyright deste serviço de
TERCEIRIZAÇÃO DO PENSAMENTO, e não abre mão
de ROYALTIES caso alguém queira entrar no ramo
via franquias...


@@@@@@@@@@@@@@@@@@


Amém?



@@@@@@@@@@@@@@@@



Então, o crime de Protógenes foi justamente
esse negócio de querer pensar.

Pra quê pensar?

Já tem quem pense pela gente, e essas pessoas
ainda ficam querendo pensar por si mesmas!!


Que coisa chata !!!!!!
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0 #2 O CRIME DE PROTÓGENESELIANA AQUINO 25-11-2008 08:01
Caro Léo Lince, sinto-me na obrigação de opniar em seu texto, por sinceramente não concordar com o título atribuído ao mesmo. Penso que melhor seria: A Omissão de todos nós Brasileiros!Sim porque, enquanto o Brasileiro, continuar desconsiderando que proficionalismo, ética, honra, não fazem parte de seu caráter, somos obrigados a ler narrativas como a que você acaba de escrever. Sabe o que é mais trágico? Foi ouvir por mais de duas horas a fita da reunião da Polícia Federal, exposta, demasiadamente exposta. Uma instituição nacional, curvada para o tão famoso pseudo Poder.
A hora já se faz adiantada, para que nós Brasileiros,aqueles que se sente cidadãos, levantem-se e comecemos a ditar a cartilha de uma nação linda, de um povo que insiste em ser feliz!
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0 #1 no Brasil ainda existem heróisregina lúcia feitosa dias 24-11-2008 15:37
Um dos episódios mais lindos e emocionantes da História brasileira é o exemplar comportamento do delegado Protógenes e do juiz de Sanctis. Esses homens sempre me inspirarão a buscar fazer que é justo, correto e nobre. Cada vez que ouço alguma notícia sobre a operação Sathiagraha, fico atenta, torcendo para que eles possam sair vitóriosos nessa luta contra o crime. Louvo oe Correio da Cidadania por ser um importante instrumento de apoio a esses 2 heróis brasileiros, que estão sofrendo retaliações pelo fato de cumprirem o seu dever. PROTÓGENES E DE SANCTIS, ESTAMOS COM VOCÊS! NUNCA SE SINTAM SOZINHOS, POIS HÁ MUITA GENTE NESSE PAÍS QUE TORCE POR VOCÊS.
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