Gangsterização da política
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- Léo Lince
- 25/06/2009
Antes era o Fernando Henrique, agora é o Lula. O que o vulgo chama de "operação abafa", é triste constatar, tem sido procedimento recorrente entre os que nos governam. Basta estourar qualquer escândalo de corrupção e, pronto, lá está o governo empenhado em barrar a investigação. É moralismo denuncista, vai afetar o funcionamento das instituições e paralisar o livre curso dos negócios, alegam os titulares do poder executivo que, como santos de bordel, flutuam incólumes sobre o mar de lama.
Lá atrás, quando tocava aos tucanos administrar o receituário dominante, o senador Pedro Simon tratou do tema. Ele, que era amigo pessoal do presidente e participava de sua base de apoio na época, falando com seu gestual peculiar, formulou a seguinte máxima: "…eu não sei se o presidente Fernando Henrique rouba, nem se ele deixa roubar, mas de uma coisa eu tenho absoluta certeza: ele não deixa investigar de jeito nenhum".
Ainda da mesma era, os mais antigos hão de se lembrar da famosa briga ACM versus Jader Barbalho. Os dois, que eram líderes dos maiores partidos aliados do governo, se chamaram de "ladrão" e "mais ladrão" em plena tribuna do Senado Federal. Ato falho que, segundo as más línguas, serviu para mostrar que ambos estavam com a razão. O falecido oligarca baiano chegou a convocar a imprensa estrangeira para declarar com todas as letras: "o presidente FHC, para manter a aliança que o sustenta, é tolerante com a corrupção".
O caso atual, que com o desdobrar dos acontecimentos adquire feições cada vez mais escabrosas, recoloca a natureza comum da linhagem anterior. E, a julgar pelas declarações repetidas pelo atual presidente, o estigma de Simon ("não deixa investigar de jeito nenhum") cai como uma carapuça certeira na cabeça de Lula. O morto-vivo que ainda preside o Senado despenca ladeira abaixo feito bola de neve, mas tem história e não pode ser investigado. Os presidentes são figuras incomuns, logo inimputáveis. Não estão aí para tomar conhecimento das falcatruas que lhes sustentam o pedestal.
Vivemos uma época espantosa, marcada pela crença na impessoalidade da corrupção sistêmica. A corrupção não tem pernas, nem é uma seqüência de fatos isolados que se repetem. Ela é uma cultura que azeita o funcionamento da máquina de poder, articula os pontos fortes da economia com o intestino grosso da pequena política. Por sua gigantesca malha fluem os "valores" que articulam o capitalismo financeiro que nos domina ao sistema político que lhe fornece base de sustentação.
Sendo assim, a luta pela ética na política (que também tem experimentado surtos recorrentes no período em pauta) não pode ser tratada como moralismo abstrato, rearmamento moral, ou coisas do gênero. Pelo contrário, trata-se de uma dimensão importante da luta contra o modelo dominante. Quando os organismos do aparelho de Estado, ao invés de defenderem o interesse público, prestam reverência ao deus mercado, não dá outra. Os escalões intermediários fazem negócios e, para fechar o círculo vicioso, a cumplicidade dos altos escalões abafa qualquer tentativa de investigação. O pacto de silencio garante a partilha do butim. A riqueza privada se afirma sobre a falência do poder público e o resultado inevitável é o que aí está: a "gangsterização" da política.
Léo Lince é sociólogo.
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Comentários
os ladrões de Brasilia ficam é satisfeitos de ver os seus nomes publicados nesses artigos, pois assim falam mal, mas falam deles. E esses comentaristas de politica vão apenas justificando seus pagamentos, ja que todo mundo fala, mas fazer alguma coisa que é bom...nada!e leiam esse comentario se tiverem coragem!
O Estado e as instituições que o formam são corrompidos pois são a base política do sustentação do sistema protutivo.
É preciso desconstruirmos a idéia da apropriação privada dos bens produzidos coletivamente. Precisamos dizer que é possível a existência que uma organização da produção que produza objetos de uso para todos.
E precisamos que aqueles que assim pensam tomem a decisão política de construir mecanismos para erigir instituições políticas que sustente este novo sistema.
Embora no velho esteja o germem do novo,é só rompendo com o velho que se possibilita o desenvolver do novo.
Gostaria de saber qual foi o momento em que o Presidente Lula proibiu alguma investigação. O que vimos nos últimos anos foram CPIs criadas por uma oposição constituída por políticos envolvidos com diversos tipos de malfeitos como as que estão ligadas à privataria, com escravidão de trabalhadores e desvio de recursos públicos, por exemplo.
No des-governo tucano-pefelista anterior não houve CPIs e nem manifestações "moralistas" da mídia corporativa. Esse "clamor" falso moralista contra o José Sarney já deveria ter sido ativado há muitos e muitos anos. Por que não foi feito? Por que só agora a artilharia neo-udenista resolve atacar o Presidente do Senado? Será que o objetivo principal é a sua substituição por um tucano corrupto com vários processos nas costas?
Não vejo nenhum clamor "público" contra os des-governos tucanos do Rio Grande do Sul, de São Paulo, de Minas, e outros que ultimamente aparecem apenas em manchetes de agencias de notícias independentes na internet. As CPIs reivindicadas pelas oposições desses estados nunca são realizadas por que seus governos realmente não permitem e os jornalecos da mídia convencional não mencionam.
Antes de ser crucificado ou acusado de conivente com qualquer corrupto ou corrupção, vou logo afirmando que não estou defendendo ninguém, muito menos o Presidente do Senado. Quero saber apenas por que só agora resolveram fazer essa gritaria toda se já sabíamos a dezenas de anos quem é o sujeito e quem votou nele para a liderança do Senado nesta gestão.
Por outro lado, citar o tal Simon para mim é irrelevante. O sujeito não merece respeito. Assisti a quase todas (perdi poucas) sessões do Senado depois que ficaram acessíveis via TV a cabo. Vi várias vezes o sujeito fazer discursos atacando o FHC e seu governo em suas MPs entreguistas para no final esse Senador votar favorável à privataria e à traição ao povo brasileiro. Tudo o que o sujeito faz é falar e gesticular sem parar(nunca morrerá afogado, tenho certeza, se um dia se tornar um náufrago. É só êle se imaginar no Senado com uma platéia que tenha saco para ouvi-lo).
Pois é - e como a história revela: alguns são "cheap gangsters", outros são "sofisticated gangsters" ... mas são "gangsters"!
Al Capone seria orgulhoso ... nós, eleitores - nem tanto.
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