Mais uma “viagem redonda”
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- Léo Lince
- 27/12/2009
A feição de 2009 ficará gravada no calendário da história pelas tintas fortes da crise. O cataclismo que abala as estruturas da ordem mundial atravessou o ano espalhando o seu ímpeto destrutivo pelos quatro cantos do planeta. Aqui no Brasil, apesar da superfície pantanosa dos acontecimentos políticos, o ano foi de reboliço geral no fundo das estruturas.
No bojo da crise mundial - e determinado pelos fluxos que dela procedem -, o capitalismo brasileiro, principalmente no seu vértice dominante, viveu em 2009 uma verdadeira metamorfose. As mega-fusões, incorporações, aquisições de empresas configuram um processo ainda em curso de alteração profunda dos mecanismos onde repousa o poder real em nossa sociedade. Estamos vivendo mais um rearranjo no interior das elites dominantes, onde os chamados "pontos fortes" se tornaram ainda mais fortes, na lógica tradicional da restauração oligárquica.
Apenas a título de ilustração ligeira, vale citar alguns exemplos entre tantos. O processo de concentração do capital financeiro, onde cinco grandes bancos já dominam 80% do mercado, foi acelerado ainda mais pela estranhíssima fusão do Itaú com o Unibanco. Na telefonia privatizada, a fusão da Oi com a Brasil Telecom foi um parto cesariano que alterou as relações de poder neste setor já oligopolizado. Na petroquímica, a Braskem, do Grupo Odebrecht, cresceu rapidamente com a incorporação de grupos menores e o beneplácito da Petrobrás, cada vez mais operando na lógica do mix público-privado. A formação da Brasil Foods, resultante da fusão da Sadia com a arqui-rival Perdigão, muda o formato do controle sobre o mercado de alimentos industrializados. Ainda na área da alimentação, a aquisição da Seara pelo grupo Marfrig e a fusão dos grupos Bertin e JBS-Friboi são elos da mesma cadeia de mudanças de elevado impacto sobre o funcionamento do mercado interno e as exportações. No setor do papel e celulose, a fusão entre a Votorantim e a Aracruz cumpre a mesma trajetória e destino.
Há um nexo que articula os elos desta corrente de acontecimentos e, ao mesmo tempo, define mudanças substanciais na dinâmica de funcionamento do capitalismo brasileiro. Em todos e cada um dos eventos brutais de concentração de poder, nos nomeados no parágrafo acima e nos demais não listados, há o dedo do governo e a utilização dos mais poderosos aparatos do Estado na facilitação da operação de rearranjo do poder oligárquico.
Mudanças, às vezes na calada, da legislação infraconstitucional de controle antitruste, vista grossa das instituições encarregadas de tal controle, interferência na composição das agências reguladoras, manipulação dos fundos de pensão e financiamento direto do BNDES, entre outros, são alguns dos mecanismos utilizados no processo. Sem falar na interferência direta do presidente em pessoa, pragmático do poder e vocacionado para tratativas do gênero.
Alias, não é por acaso que uma figura como Delfim Netto, sempre alerta na defesa dos interesses estratégicos do conservadorismo, tenha dito que o Lula, no ano de 2009, "salvou o capitalismo brasileiro". E, como reiterou o sociólogo Werneck Vianna, o presidente hoje lidera uma "comunidade fraterna sob comando grão-burguês". Depois da farra neoliberal, o febril ativismo dos potentados (agronegócio, casta financeira, barões da privatização, grandes empreiteiras e oligarquias políticas) prepara o terreno para emergência de mais um surto, agora, do "neodesenvolvimentismo".
"A viagem redonda" é o título do último capítulo do livro de Raymundo Faoro, Os Donos do Poder, onde se afirma que, no Brasil, "o poder - a soberania nominalmente popular – tem donos que não emanam da nação, da sociedade, da plebe ignara e pobre. O chefe não é um delegado, mas um gestor de negócios, gestor de negócio e não mandatário". Nada mais atual. O invólucro político do lulismo florescente restaura o domínio oligárquico e o padrão prussiano da política como emanação do Estado. A euforia no coral dos contentes indica a emergência de mais um "choque de capitalismo", em tudo semelhante aos surtos anteriores: autoritário, excludente, conservador.
Léo Lince é sociólogo.
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Comentários
Prefiro discutir com aqueles, como o pessoal do IBASE, por exemplo, que de forma correta e adulta, explicamm claramente porque apóiam (mesmo criticamente) o governo Lulla. Gente da qual discordo, mas respeito e considero dignos, embora não menos colaboracionistas, a meu ver, e nem menos parceiros políticos de quem, além de lesar o erário fraudulentamente, executa políticas absurdaqs e alija opositores, até das possibilidades de trabalho.
Não coube lugar, entretanto, no meu comentário acima, para aludir a outro personagem que tão bem representou a classe média conservadora (sob o ponto de vista da redução de horizontes), mas servindo de instrumento para a pavorosa elite burguesa brasileira (as que realmente determinam as coisas, para outros subalternos operarem).
Refiro-me ao colunista social Ibrahim Sued, de tão triste memória e atitude senão cafajeste, própria daqueles alpinistas sociais que passam a servir à "alta" sociedade a qual quer ascender, tornando-se uma espécie de Bobo da Corte acrítico da aristocracia.
O propalado talento de Ibrahim Sued e a sua "ousadia" jornalística, não passam incólumes a uma análise colegial sobre o jornalismo, não fez escola, e a própria classe jornalística se envergonha dele, refletido no ostracismo que lhe foi legado. Foi um informante do SNI, e ponto final (a responsabilidade desta afirmação é minha)!
Ele, e não outro, cunhou a frase usada agora por um ferrenho defensor da farsa Lullo Petista "os cães ladram e a caravana passa".
Os cães a quem se referia o triste Ibrahim, eram exatamente aqueles que levaram 40 anos para combater e acabar com a ditadura e reconstruir um Movimento de Base sólido no Brasil, à custa de mortes e desventuras que sabemos bem quais são.
Para, em nome daquele que vem em nome desta vigorosa construção, ter um defensor desta que considero a maior traição ideológica, tentativa de anulação de nossa memória, a substituindo por filmes (que já citei em outro comentário)que representam apenas a alienação e o oportunisto individualistas de seus protagonistas.
E, de quebra, nos chama de INFIÉIS, como se fôssemos hereges em uma Guerra Santa e não cidadãos que têm o direito à opinião e às disputas políticas de forma ortodoxas ou heterodoxas, como nos assegura a História Recente deste País.
Parabéns Lulla!Parabéns PT, PC do B e aliados. Parabés Stanley Kaceck e "managers" do Capital. Vocês operaram muito bem!
Mas, aviso que não entregarei os pontos. Haja o que houver.
E, Tucano e Dem..bem, deixa prá lá!
SAbem bem oq ue fazer com suas estéticas e lorotas prosopopaicas inúteis. Com certeza estas malas sem alça prefeririam um presidente cheio de diplomas, que falasse francês, mas que quer alugar o BRASIL para o primeiro caixeiro viajante que passar, e não precisa nem ser para o lance mais alto. A LUTA CONTUINUA COMPANHEIROS!!!
FORA PSDBestas DEMentes e PiG'SSS!!!
QUERO LULA DE NOVO QUERO DILMA 2010 MEU POVO
O filme Hiroshima, conta uma história de uma família japonesa, e suas relações no tempo e no espaço, tendo como fundo, o episódio da Bomba A.
E Gabriel queria ainda mais.
Akira Kurosawa repondeu que a Arte que ele entende como Revolucionária, o é na Plástica da estética, na Mensagem Estética e no DIZER Estético.
Contei isso para um artista amigo meu, e ele me disse: A doiferença entre GGM e Kurosawa é que, se um dia a pobreza acabar, GGM deixa de escrever, mas Kurosawa segue na sua arte.
Um amigo que escutou esta conversa, o artista itinrente popular Escaramuça escreveu dois Hai Kaissobre isso:
Tenho Estética/Posso dizer, entã/Logo Existo!
A Estética viva/ É a menina dos olhos/ De Deus
Escrevi isso tudo, porque ficaria muito pobre dizer apenas que de um governo (o de Lulla) que tem como emblemas dois filmes, um reacionário e individualista e outro populista, como são Dois Filhos de Francisco e Lula, o filho d...., não poderia ter defensores senão como a das(os) macacas (e macacos)de auditório dos Programas do Chacrinha.
Alguém vai um Bacalhau, aí?
O que o governo pode fazer para impedir as fusões referidas no artigo, se vivemos em um pais democrático?
Aliás, estes grandes conglomerados, desde que não cartelizados, é muito bom, porque cria oportunidade de emprego e renda para a classe trabalhadora.
Confesso que não entendi a razão de tanta fúria do articulista.
FORA PSDBestas DEMentes e Pig'SS!!!
QUERO LULA DE NOVO QUERO DILMA 2010 MEU POVO!!!
Quem não gostar do gênero, não precisa ouvir, mas não percam a chance de ver a arte da capa do disco. Nada mais séc. XXI do que aquilo.
Parabéns!!!
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