Correio da Cidadania

Em festa, trabalho e pão

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Os militantes do nascente Partido Socialismo e Liberdade, mais de 740 delegados e um número igual de observadores ativíssimos, vindos dos quatro cantos do continente Brasil, devem ter voltado para a casa com “saudades da Guanabara”. Acampados nas encostas do Pão de Açúcar, eles fizeram do primeiro Congresso do partido uma festa bonita de se ver.

O tempo e São Pedro ajudaram. Não choveu, nem canícula senegalesca, nem o frio siberiano, apenas o sol ameno, o frescor da brisa noturna e a espantosa luminosidade do outono carioca. A batalha das idéias foi travada em campo aberto. O militante, repetindo a canção que nos inspira, declamou que “seu peito é uma lona armada”. A lona principal, reservada para as plenárias gerais, estava cercada de barraquinhas menores, clima de festa junina, onde se encontrava de tudo: comidas, bebidas, livros, revistas, artesanato, discos, camisetas e panfletos para todos os gostos.

Como “nostalgia não paga entrada”, com licença para a menção, lembrava até os primórdios heróicos do PT. A maioria dos delegados dormiu lá mesmo, colchonetes em salas de aula, café na cantina e banho de cuia nos vestiários da quadra de esporte. Como escreveu Chico Alencar: “entusiasmo fantástico, nível respeitoso no tratamento das polemicas, presença juvenil e de representantes de movimentos populares por terra e teto”. A alegria forte de quem mói nos áspero e busca na luta coletiva um lugar ao sol.

O ponto alto da política foi a apresentação das teses. Muitas, afinal um partido que se propõe a ser um “abrigo para a esquerda socialista” precisa conhecer as distintas experiências e trajetórias, as pequenas e as grandes diferenças que habitam seu espaço de recomposição. Uma pauta variada em processo de fermentação. Movimentos particulares que querem para sua agenda a força da vontade geral, até o anti-reformismo absoluto, para o qual o objetivo final é tudo e o movimento é nada.

Na votação das chapas, foram quatro, já se revelou algum realinhamento na miríade inicial de posições. Mais forte dos que as diferenças, livremente debatidas, foi a vontade coletiva de construir juntos a nova ferramenta de lutas para os socialistas libertários. Todas as chapas estão representadas na nova direção nacional, composta por proporcionalidade. Nada foi “blocado”, dependendo do tema em debate, os alinhamentos entre as chapas se alteravam. Ninguém foi inteiramente derrotado ou vitorioso. Todos saíram do Congresso com alguma vitória a comemorar nas votações. O partido segue plural, com deve ser, e, ao mesmo tempo, empenhado na construção da unidade de ação que lhe possa conferir eficácia na luta política.

O Brasil mestiço, presente na música que animou uma das noites do encontro, mostrou suas feições fortes na moldura maravilhosa da cidadela de São Sebastião. Se a cara do Brasil, como define a canção popular, ainda é o Rio de Janeiro, vale o restante do verso: “três por quatro na foto e o teu corpo inteiro precisa se regenerar”. O vigor da cultura popular e a qualidade do debate político estiveram irmanados no primeiro Congresso do PSOL: uma aposta na luta por “festa, trabalho e pão”.

 

 

Léo Lince é sociólogo.

 

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