Correio da Cidadania

Questão da Palestina: Obama abriu os olhos

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Obama concedeu uma entrevista da maior importância à TV israelense. Estranhamente, a grande mídia brasileira não deu destaque algum ou simplesmente a ignorou. Para suprir essa lamentável omissão, publicamos alguns dos trechos principais.

 

O presidente norte-americano iniciou com as habituais declarações de amor a Israel. Mas logo veio o que realmente interessa. Para surpresa do seu entrevistador, ele anunciou que os EUA poderão retirar seu veto a uma iniciativa francesa, em discussão final com países da Liga Árabe e com a própria Autoridade Palestina.

 

Já se sabe que não vai agradar a Telavive. No ano passado, o governo Hollande votou a favor de proposta dos palestinos que dava prazo para o exército de ocupação israelense retirar-se da Cisjordânia.

 

Nem foi preciso Washington vetar. Bastou pressionar para que países antes afinados com os sonhos de independência palestina retirassem o time de campo, não dando maioria para a aprovação.

 

Na próxima reunião da ONU, provavelmente em setembro, a perspectiva é que a França proponha que a decisão do conflito israelense-palestino passe para o Conselho de Segurança.

 

Para Telavive, tal ideia é inaceitável, mas, sem a objeção e a pressão de Tio Sam, a maioria dos membros do conselho não hesitará em fechar com a proposta francesa. E como quase todos os países da ONU são favoráveis a uma Palestina livre e viável, dá para imaginar qual seria a consequência.

 

Obama tinha fortes justificações para deixar de proteger Israel em tudo. Conforme informa o jornal israelense Haaretz, na entrevista ele lembrou a afirmação de Netanyahu, durante sua campanha eleitoral, de que, enquanto fosse primeiro-ministro, não haveria Estado palestino independente.

 

Depois das eleições, o premier de Israel deu o dito por não dito e declarou-se ansioso para fechar um acordo que garantisse a autonomia da Palestina.

 

Mas Obama não foi nessa. Considerou a tirada da campanha como inequívoca. Deixou claro que essa rejeição de um Estado palestino seria coerente com as posturas do premier de Israel nas discussões anteriores sobre a questão.

 

As propostas para a paz estabelecidas por Bibi incluiriam “tantas advertências, tantas condições, que não é realístico pensar que essas condições poderiam ser atendidas em qualquer momento num futuro próximo”.

 

E o presidente estadunidense disse mais: “o perigo aqui é que Israel, como um todo, perde credibilidade. No momento, a comunidade internacional não acredita que Israel é sério sobre a solução dos dois Estados. A manifestação que o primeiro-ministro fez cria esta convicção”.

 

Obama concluiu assim: “Se ninguém acredita em um processo de paz, então fica difícil argumentar com aqueles que se preocupam com a construção de assentamentos, aqueles que se preocupam com a situação (os palestinos). Fica mais difícil para eu dizer: “Tenham paciência. Esperem, porque temos um processo (de paz) aqui, quando tudo que eles têm de fazer é apontar para as afirmações (israelenses) que têm sido feitas”.

 

Matéria do Ma’ariv indica que o apoio incondicional dos EUA e da Europa a Israel estaria mesmo por um fio.

 

Segundo esse jornal israelense, um diplomata ocidental de alto nível revelou: “Espera-se para logo um ataque contra Israel que surpreenderá mesmo os mais pessimistas em Jerusalém. No Conselho de Segurança (da ONU), nas capitais do Ocidente e nos quartéis-generais da Europa Unida eles só esperam que o acordo com o Irã seja assinado e aprovado pelos EUA”.

 

E agora?

 

Se for assim, é certo que Obama terá de enfrentar a maioria dos parlamentares que, certamente, farão de tudo para impedir essa mudança da política dos EUA no Oriente Médio.

 

Netanyahu conta com um poderoso lobby no Congresso norte-americano, incondicionalmente favorável a Israel.

 

Mas ele deve estar pisando em ovos, pois a comunidade internacional está cada vez mais sem paciência com Israel. E Obama parece estar pensando em ficar na história como o presidente que pôs Israel na linha.

 

É de se crer que o primeiro-ministro voltará a fazer declarações boazinhas, se dirá até disposto a esquecer as exigências de que os palestinos reconheçam Israel como país sionista e mesmo a admitir a volta dos árabes (poucos) que foram expulsos do território israelense.

 

Porém, certamente, não abandonará sua estratégia, seguida há anos, de criar problemas para fazer as negociações de paz fracassarem, deixando o tempo passar, enquanto seus assentamentos avançam sobre a Cisjordânia, tomando cada vez mais terras árabes até lhes restar apenas uma área insignificante.

 

Aí talvez ele (ou algum dos seus sucessores) aceite uma Palestina independente, porém inviável.

 

Ele tem cerca de dois anos e meio para manter o problema palestino sem solução.

 

A partir de 2018, as coisas ficariam mais fáceis com um republicano ou Hillary Clinton, tradicional amiga dos governos de Telavive, na presidência, no lugar de Barack Obama.

 

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Luiz Eça é jornalista.

Website: Olhar o Mundo.

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