Documentado o apoio de Kissinger à ditadura argentina
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- Luiz Eça
- 19/08/2016
Henry Kissinger ainda está vivo, sendo ouvido com respeito por jornais e políticos, mesmo democratas – emocionados com sua posição pró-Hillary Clinton. Essa figura histórica chegou até a ganhar o Prêmio Nobel da Paz.
Noto que Hitler, Stalin e Pinochet, por exemplo, também são figuras históricas. As pessoas esquecem que Kissinger manchou o nome dos EUA com seu entusiástico apoio às barbaridades da ditadura militar argentina.
Documentos recentemente desclassificados do departamento de Estado dão uma ideia de como isso aconteceu.
Na sua gestão como secretário de Estado do governo do republicano Gerald Ford, ele estimulou repetidas vezes os militares argentinos a destruírem os “terroristas”.
Os ferozes chefes da ditadura receberam ardentes congratulações de Kissinger por terem “varrido o terrorismo” do país.
Esclareça-se que entre os chamados terroristas havia oposicionistas de várias cores, desde comunistas até simples defensores dos direitos humanos e personalidades liberais. Raros terroristas, se é que haviam.
Trinta mil deles foram assassinados pelos órgãos de segurança, muitos lançados de aviões sobre o mar.
Um dos presidentes desse regime, o general Jorge Videla, era grande amigo do secretário da Defesa dos EUA.
Mesmo não sendo mais secretário de Estado, Kissinger, convidado por Videla, veio à Argentina assistir aos jogos da Copa do Mundo.
Numa reunião oficiosa com importantes empresários conservadores do Conselho Argentino de Relações Internacionais, ele afirmou: “na minha opinião, o governo da Argentina fez um trabalho excepcional destruindo as forças terroristas”.
Para Castro, embaixador norte-americano em Buenos Aires, o apoio do secretário da Defesa influenciou os militares argentinos a promoveram um banho de sangue com tranquilidade, certos de que não sofreriam condenações públicas dos EUA e seus aliados europeus.
Os agrados do líder republicano aos militares argentinos prejudicaram bastante a ação do presidente Jimmy Carter - sucessor de Gerald Ford.
Carter e Zibgnew Brzezinski, seu conselheiro de política internacional, queriam pressionar os militares argentinos a acabarem com suas violências.
Mas, sentindo-se fortalecidos pelos elogios gloriosos de Kissinger, o pessoal da ditadura resistia.
Jimmy Carter conseguiu alguns sucessos isolados, houve certa moderação no trabalho repressivo, afinal não convinha desagradar excessivamente um presidente estadunidense.
No entanto, apesar das boas intenções do governo Carter, os EUA ficaram mais conhecidos por sua conivência com as torturas e assassinatos do período mais negro da história argentina.
Graças a Henry Kissinger, hoje um homem de respeito – no sentido mafioso da palavra.
Luiz Eça é jornalista.
Website: Olhar o Mundo.