Netanyahu x BDS: quem está ganhando?
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- Luiz Eça
- 25/08/2016
Em reunião ministerial, o premier Netanyahu anunciou eufórico a derrota do movimento de boicote a Israel (BDS), graças aos maciços esforços de sua diplomacia e políticos amigos na Europa e nos EUA.
Não havia motivo para tanta alegria. A verdade é que o BDS continua crescendo em 2016.
Neste ano, autoridades dos governos da Irlanda, Suécia e Holanda afirmaram seu apoio ao boicote, como meio para conseguir o fim dos assentamentos e a independência da Palestina.
Em março, a G4S, gigantesca empresa inglesa de segurança, anunciou que venderá sua subsidiária em Israel, atendendo a campanha do BDS. Ativistas estão mantendo pressão para garantir que a empresa realmente termine seu papel no sistema de prisões israelense e nos aparatos da ocupação.
Em agosto do ano passado, o sindicato dos trabalhadores em eletricidade, rádio e máquinas, com 30 mil membros, havia apoiado o BDS na sua convenção anual.
E, neste ano, o Comitê Nacional de Relações do Trabalho (órgão oficial) ordenou a retirada de processos contra a União dos Trabalhadores em Eletricidade pelo seu apoio ao BDS.
Em agosto, a Igreja Luterana da América, na sua assembleia em Nova Orleans, aprovou uma resolução apelando para que o governo dos EUA acabe com toda ajuda a Israel caso não pare de construir assentamentos e aceite um Estado da Palestina independente.
Pediu também que as igrejas e fiéis cortem todos os investimentos em companhias que lucrem com a ocupação israelense. Por fim, solicitou que o presidente Barack Obama reconheça o Estado da Palestina.
Algum tempo depois, a União das Igrejas Metodistas dos EUA anunciou o desinvestimento em bancos de Israel que financiam a ocupação.
O Canadá, tradicional seguidor dos EUA nos votos pró-Israel, onde toda crítica ao Estado israelense é condenada como “antissemitismo”, um pequeno partido ousou colocar-se contra a corrente.
Seguindo a onda, o parlamento do Canadá aprovou uma moção de cumprimento não obrigatório condenando o BDS, com apoio do Partido Liberal do premier Trudeau. Pedia também ao governo que penalizasse pessoas e grupos que promovessem o BDS no país.
Como resposta, o Partido Verde, em sua convenção nacional, declarou-se em sentido contrário: aprovou uma resolução dando total apoio ao BDS. “Nós estamos, eu penso, levantando sérias questões nas mentes do público e estamos também quebrando tabus”, disse Dimitri Lascaris, autor da resolução.
Netanyhau não está de todo errado. Ele tem conseguido influenciar partidos, grupos e políticos do Ocidente. Políticos dos EUA estão preparando propostas para restringir e mesmo criminalizar o BDS. Pode ser até que sejam votadas.
Se isso acontecer, espera-se que os juízes estadunidenses não neguem o direito de expressão de ideias, constante da Constituição dos EUA.
Autoridades da Irlanda, Suécia e Holanda têm reafirmado esse direito, como aliás George Washington, Thomas Jeferson, Benjamin Franklin e Tom Paine – os Fundadores da Pátria – fizeram séculos atrás.
Luiz Eça é jornalista.
Website: Olhar o mundo.