Correio da Cidadania

Depois de Aleppo, a paz ficou possível

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Os EUA se recusaram a participar de um encontro organizado pelos inimigos Rússia e Irã, além da volúvel Turquia. Fizeram mal.

Além de elaborarem sistemas rígidos para se controlar um cessar fogo que todas as partes desejavam, as conversas de Astana (capital do Cazaquistão) avançaram no caminho áspero em direção ao fim da Guerra da Síria.

Astana começou de forma otimista. Pela primeira vez os rebeldes aceitaram discutir com representantes do governo sírio, na mesma mesa de reuniões.

E mais: também pela primeira vez a revolução síria enviou apenas personalidades de grupos participantes da luta armada. Em vez de exilados, políticos com pouca influência no exército anti-Assad, como aconteceu nas reuniões de Genebra, em 2010 e 2016, que não deram em nada.

A derrota de Aleppo, sinalizando dias amargos para sua causa, tornou os rebeldes mais concessivos.

Mais recentemente, as coisas ficaram ainda mais pretas para eles. Explodiu a guerra entre os moderados do Exército Sírio Livre e os radicais do Nusra, ex-filial da Al-Qaeda na região, todos parte das forças rebeldes.

Até fins de 2013, o Nusra combatia lado a lado com as organizações moderadas. Em janeiro desse ano, o Departamento de Estado colocou o Nusra na sua lista de terroristas. Não lhes forneceria mais armas.

A reação entre os rebeldes sírios foi inesperadamente hostil. 100 batalhões assinaram um documento, manifestando solidariedade aos ex-membros da Al-Qaeda, acusando os EUA de pretenderem dominar a frente oposicionista, de olho na defesa de seus interesses políticos e econômicos.

Para agravar a situação, o Nusra era um elemento-chave na campanha militar anti-Assad. Sempre foi um dos grupos mais eficientes e poderosos do exército rebelde, contando com armamentos da Arábia Saudita, Catar e Turquia.

Eram considerados indispensáveis para se vencer o exército sírio. Desde então, os moderados fingiram que não havia nada contra seus aliados radicais e continuaram a lutar em cooperação com eles. E os EUA, por razões de Estado, fingiram que nada havia mudado.

Caíram na real em 2015/2016, quando os aviões russos atacaram o exército rebelde, alegando que seu alvo eram os terroristas, principalmente do Nusra, que o integravam.

Se também atingiam moderados, era por engano, afinal todos estavam misturados. Aí Obama resolveu agir contra aquele incômodo grupo. Adotou controles para evitar que as armas norte-americanas doadas ao Exército Livre da Síria caíssem nas mãos dos milicianos radicais e pressionaram os moderados para que se livrassem dessas más companhias.

Muito espertos, os líderes terroristas mudaram o nome do Nusra para Fateh al Shama. Como precisavam do poder de fogo deles, os líderes moderados afirmaram que se tratava agora de um grupo totalmente novo. Não havia motivo para que os EUA os tratassem como terroristas.

Mas Obama não caiu nessa. Na ocasião, Rússia e Turquia estavam convidando os grupos armados.

Luiz Eça

Começou sua vida profissional como jornalista e redator de propaganda. Escreve sobre política internacional.

Luiz Eça
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